quinta-feira, 15 de março de 2018

O TRIBUNO DA REVOLUÇÃO.


IBRAIM, O TRIBUNO DA REVOLUÇÃO.



- EXCELÊNCIA, JÁ O SANGUE PAULISTA ESTÁ CORRENDO



Foi a voz que ressoou flamejante nas praças, nos quartéis e nos palácios, por São Paulo, “minha terra, minha amada terra.”
     
Pedimos a Ibraim Nobre que falasse do 9 de Julho. A voz do tribuno da Revolução, emocionada, respondeu que não. Não falaria dessa Causa, tão grande e abençoada, que até na derrota foi bonita; nem falaria dele, que fora soldado como todos os paulistas, todos nivelados pela mesma fé.
E o que fora, em sua essência a Revolução? Que foi intensamente amor e paixão por São Paulo – respondeu. Amor e paixão que jamais se repetirá por mais que se prolongue e se engrandeça a História. 9 de Julho se define com a palavra coração. Foi o coração paulista tocado pelo espirito de Deus, pelo sonho. 25 anos depois, um povo inteiro, através de duas gerações vivas, volta-se para o passado, procurando aquecer-se nesse sol, que não se extingue.

É justo que se relembre a voz que desprendeu um raio de luz ardente. A voz de Ibraim Nobre, que foi a própria voz de São Paulo flamejando no canto da rebeldia liberal contra a Ditadura; a voz que se fez ouvir nas praças públicas; que se levantou nos quartéis; que arrastou o povo à luta; a voz que proclamou a Pedro de Toledo ter chegado a hora:
- Excelência, o sangue paulista já está correndo...

Era o sangue do primeiro soldado ferido, LIMA NETO.

Ibraim Nobre, soldado (e tribuno) da Revolução! Perdoe-nos pelo rompimento da palavra empenhada de publicar apenas o que nos escreveu, a prece de esperança a São Paulo, e nada mais; perdoe ainda que venha a luz mais este seu desabafo de que o ( de Julho foi o mais belo, o mais impressionante episódio de sentimento, de renúncia e de mocidade que o Brasil já viveu. Com este pedido reproduzimos o seu ato de fé à terra amada.


E repetirei ainda! e sempre:
Para mim 9 de Julho não é uma Hora Melancólica de Saudade, senão que busco nesses idos um estimulo, um alor, uma esperança.
Creio, espero, confio!
Creio no Povo, na Justiça, na Toga; creio no Lar dignificado por todas as virtudes! na Caserna, florianizada por todos os Heroísmos! Confio na Escola que se vincula à Caserna, em Ruy que se irmana com Caxias.
Confio no Altar, em que um dia oficiou Dom Duarte, e no púlpito onde o Padre Chico pregou!
Creio, confio e espero tudo de Ti, minha amada Academia do Chão Livre de São Francisco! Em Ti, inexpugnável Alcáçar de Nossa Dignidade, em Ti, nas Tuas Tradições, na Tua Fé, nas Tuas Arcadas à luz do Velho Pátio, que é assim como uma garganta aberta, a entoar para o Alto a Péan de todas as Liberdades.
E a Ti, São Paulo, minha Terra, minha Amada Terra! a Ti, pelo que tens sofrido e tens perdoado; pelo que sofres e perdoas; a Ti, pelas Tuas renúncias e pelas Tuas provações; a Ti, por tudo quanto Te tiram e Te negam, a Ti, dolorosa enteada da Pátria, pelo drama do Teu Calvário, o meu pensamento de Fé à glória da Tua Ressurreição!


 Esta reportagem, transcrita acima, foi publicada no jornal Diário da Noite em 1957.









Lutaram nas fileiras do "Batalhão Piratininga", tomando parte das renhidas batalhas 
da Vila Queimada, entre outros, o Desembargador Cruz Netto, do Tribunal de Alçada
e o Dr. Ubirajara Martins.    Esta fotografia foi tirada dois dias depois do bombardeio 
e queda de Queluz, em 11 de agosto de 1932, vendo-se, da esquerda para a direita:
Engenheiro João dos Santos Filho, irmãos Emidio e Abel Ribeiro Branco, Desembargador
Ubirajarra Martins, Desembargador Francisco de Paula Cruz Netto e, ajoelhado,
Sr. José Souza Mattos.





De volta do exílio, propaga ainda o canto da rebeldia liberal contra a Ditadura.
É ouvido e aplaudido por multidões




IBRAHIM NOBRE


Ibrahim de Almeida Nobre nasceu na cidade de São Paulo no dia 19 de fevereiro de 1888.

Estudou em sua cidade natal no Ginásio Episcopal e no Ginásio do Estado, onde fez o curso de humanidades. Bacharelou-se em 1909 pela Faculdade de Direito de São Paulo.

Como delegado de polícia em Salisópolis (SP), colaborou no combate à epidemia da gripe espanhola que assolou o país em 1918. Passou a exercer as funções de delegado regional de polícia em Santos (SP) e mais tarde de subprocurador de justiça.

Promotor público em São Paulo, fez oposição ao governo instaurado com a Revolução de 1930, editando em 1931 seu discurso Minha terra, minha pobre terra, no qual expressava suas convicções contrárias à política do governo central. Esse discurso, que obteve grande repercussão, lhe valeu um mandado de prisão. Em 23 de maio de 1932 participou, como orador prestigiado, da manifestação popular dirigida pela Frente Única Paulista — formada pelo Partido Democrático (PD) e pelo Partido Republicano Paulista (PRP) — e secundada pela Associação Comercial de São Paulo e por líderes das classes liberais. Essa manifestação, que constituiu importante episódio no processo que culminaria na Revolução Constitucionalista em julho seguinte, forneceu sustentação para que o interventor federal em São Paulo, Pedro de Toledo, formasse um secretariado sem vínculos com o governo de Getúlio Vargas.

Ibrahim Nobre teve participação destacada na Revolução Constitucionalista, sendo proclamado tribuno popular do movimento. Formou um batalhão que tomou o seu nome e percorreu diversas frentes de combate, como Ourinhos, Itaí, Fartura, Bernardino de Campos, Xavantes, Iguaçu e outras. Com a derrota da insurreição em outubro de 1932, seguiu para o exílio em Portugal, transferindo-se mais tarde para o Uruguai.

Orador, conferencista, jornalista e escritor, foi membro da Academia Paulista de Letras.

Faleceu em São Paulo no dia 9 de abril de 1970. Seus restos mortais foram depositados no Mausoléu do Ibirapuera em julho de 1977.

Foi casado com Brisabela Barbosa de Almeida Nobre, com quem teve uma filha.




Fonte.

Diário da Noite, Edição Especial, 09 de julho de 1957. (Arquivo pessoal).






Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
15/03/2018.




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