quinta-feira, 14 de setembro de 2017

PIRAPORA, MG NA REVOLUÇÃO DE 1932.



Durante a Revolução Constitucionalista de 1932, formaram-se redutos constitucionalistas por todo o Brasil, em Estados cujos Governadores não apoiavam o Movimento, como foi o caso de Araponga, MG, Mato Grosso (já publicados no blog) e Rio Grande do Sul entre outros. Estas frentes foram pouco divulgadas, são até desconhecidas por muitos historiadores.


PIRAPORA.

 A cidade de Pirapora está localizada à margem direita da Zona Alto Médio   São Francisco na Micro Região Norte de Minas Gerais, dista aproximadamente 360km de Belo Horizonte.

O LEVANTE EM PIRAPORA.

Recebi do Prof. José Carlos Pales da UEMG informações sobre o levante ocorrido em Pirapora, MG, depoimentos, digitalizações de documentos e entrevistas com descendentes dos protagonistas.
A seguir algumas das informações enviadas:

Panfletos convocando a população para o movimento:
“A Revolução empolgante de agora já é uma revolução vitoriosa. A seu lado se encontra a figura dominadora de Bernardes – e Bernardes meus senhores, não conhece e jamais conhecerá os infortúnios da derrota”.

“HOJE AO COMÍCIO!”
“Os abaixo assinados, pertencentes ao Diretório do Partido Republicano Mineiro.
Convidam ao altivo povo de Pirapora, em massa, a assistir ao comício que se realizará hoje, às 7 e meia horas da noite.
Nesse comício em prol da Redenção de Minas falarão vários oradores.
O momento que atravessamos é de intensa vibração cívica”.
Neste panfleto são citados os cidadãos que convocam os moradores para a luta, são pecuaristas, comerciantes, profissionais liberais, funcionário públicos etc.

Chama a atenção uma fotografia de Artur Bernardes com os dizeres: “Dr. Artur Bernardes – A MAIOR GLÓRIA DO BRASIL”

O povo fica radiante com a proposta de patriotismo.
Armamentos são distribuídos:
Fuzil nº 7.056 – Jeferson Gitirana
Winchester nº 976.179 – Vicente Jardim
Mosquetão nº 132 – Arnaldo Gonzaga.
Na listagem sobre a distribuição do armamento, são contados entre Fuzis e Winchesters, duas dezenas de combatentes.

“Após o recebimento das armas pelos combatentes de Pirapora apoderam-se da estação Central do Brasil. Planejavam tomar as cidades ao longo da Estrada de Ferro até alcançar Belo Horizonte”. (SILVA-MOTA.2012, pag.75).

O Professor José Carlos Pales entrevistou o Bacharel em Direito Sr. Ivan Passos Bandeira da Mota que é filho do Sr. Francisco Bandeira da Mota, participante desta revolta em Pirapora. O Sr. Francisco também foi preso e levado para o cárcere na Capital da Republica.
Nesta entrevista o Sr. Ivan faz diversas considerações e atribui ao Capitão dos Portos, o Capitão de Corveta Nuno de Oliveira e Silva como o influenciador desta revolta em Pirapora, apoiando-se na hipótese de que o Capitão e Artur Bernardes já eram conhecidos.
Dr. Ivan Mota teve um artigo publicado no Jornal “Tribuna Literária” em julho de 1972, o qual transcrevo a seguir:

- “Chega o dia 7, (setembro de 1932). Os revoltosos dirigem-se à Estação Central, destitui o agente – Sr. Siqueira, que também adere ao movimento. Lavra-se o termo de ocupação. Os Comandantes da Revolução assumem o controle dos transportes. O ex-agente é reinvestido no cargo, já na qualidade de revolucionário. Formam uma composição especial, onde embarcam aproximadamente 30 homens armados e sob organização militar...(inelegível). Inclusive rádio- telegrafista. Na retaguarda ficam os demais Revolucionários que controlam o Município.
Por onde passa a composição, os revoltosos vão recebendo adesões entusiásticas. Em Várzea da Palma, (40 km) novos elementos se reúnem ao grupo. Houve ali uma vibrante manifestação de apreço promovida por Joaquim de Paula Ferreira. Tomam Buritis, Várzea da Palma, Porto Faria. Em Lassance recebem a calorosa adesão do Agente da Central – João Henrique de Freitas (Pai do Dr. Bolívar de Freitas), que mais tarde veio a ser preso pelas tropas do Governo...

Em Lassance, MG “O reforço da Zona da Mata não chega”. Os revolucionários recebem mensagem de Curvelo: “Regressem urgente para Pirapora”. (Mota 1972)
Segundo Ivan Mota havia sério perigo, podiam ser alcançados pelas tropas do Governo que vinham da Capital; numerosas e bem armadas.

O Governo de Minas Gerais, mobiliza Forças. O Presidente do Partido Republicano em Curvelo, fica sabendo que já se desloca para Pirapora uma Companhia inteira, com mais de 100 (Cem) homens fortemente armados incluindo o chamado: Batalhão Patriota de Paracatu.
   Segundo Ivan Mota, esse aparato Militar beneficiou os Paulistas reduzindo os efetivos da Linha de Frente no sul do Estado. Essa análise do Dr. Ivan Mota deve uma atenção mais apurada dos pesquisadores, considerando que Olegário tinha sua atenção voltada para o Leste do Estado na Cidade de Arapongas, o Governador já armava Batalhões para atacar o Município eleito como foco principal e onde estacionara o agente ativo do protesto: Artur Bernardes. A hipótese, é que os Revolucionários do Norte, pegaram de surpresa o Governante considerando que o combate em Arapongas só se daria no dia 15 de setembro com a posterior prisão de Bernardes no dia 23.
   
    Os Combatentes do Médio São Francisco na eminência de serem alcançados, tentam preparar uma defesa diante do perigo: Armam fogueiras de dormentes sobre os trilhos para retardar a marcha da Locomotiva com a Tropa Legalista embarcada.
   Chegam em Pirapora no dia 08.
    No dia 09  de madrugada iniciava-se o cerco da Cidade Ribeirinha; as seis horas da manhã toda a Cidade estava dominada.
A população ficou chocada com as prisões. Vinte e seis cidadãos brasileiros de Pirapora desterrados.  Ficaram encarcerados por uma semana no Vapor, Engenheiro "Halfeld", ancorado no porto. A demora da transferência dos prisioneiros se explica: Olegário Maciel já planejara o ataque a Arapongas para o dia 15 de setembro, ele queria todos seus desafetos juntos. E foi o que aconteceu. São transferidos para Belo Horizonte, passam pela Secretaria do Interior e posteriormente para a Casa de Detenção e lá estavam os “Revoltosos da Zona da Mata”. (O combate de Arapongas durou um dia). Dois dias depois são conduzidos para a Capital da República, o Rio de Janeiro, onde são encarcerados no “Presídio da Frei Caneca”.

Os Revolucionários foram presos em casa, nas ruas e onde se encontravam. Com exceção dos que se refugiaram nas imediações e propriedades rurais, inclusive no município de Buritizeiro que fica na outra margem do rio com acesso pela Ponte Marechal Hermes.
   Segundo Jonas Carneiro, neto do "Coronel" Jonas Carneiro (Revolucionário que conseguiu evadir- se das tropas de ocupação). Seu avô era proprietário de vasta extensão de terras na outra margem do rio São Francisco.

Em outra entrevista, com o Sr. Marcelo Gonzaga filho do Sr. Arnaldo SóterGonzaga (1900 – 1982), outro Revolucionário de Pirapora também preso e enviado ao Rio de Janeiro, respondendo ao questionamento sobre a possibilidade do Presidente do Estado, Sr. Olegário Maciel ter um informante infiltrado neste grupo de revolucionários de Pirapora.
Sobre esta questão o Sr. Marcelo não descarta esta hipótese considerando que: - “O trem de passageiros ia de três em três dias a Capital, as vezes diariamente. Alguém poderia ter feito comentários do que acontecia em Pirapora e a notícia ultrapassou os portões do Palácio da Liberdade”.
     - “O telégrafo da Rede Ferroviária tinha total liberdade de comunicação antes do início das Operações no dia 7 de setembro, onde foi o alvo escolhido”.
   Marcelo Gonzaga, não descarta a presença de um informante e cita outras hipóteses que não devem ser desconsideradas: Delegacia de Polícia, Capitania dos Portos. Marcelo também menciona possível "Rixa Política".

Arnaldo Sóter Gonzaga – nasceu em Paracatu em 03 de março de 1900, foi casado com Heroína Diniz Gonzaga. Chegou a Pirapora em 1923, dirigiu a Navegação do São Francisco, participou da reestruturação do Partido Republicano Mineiro(1931) foi também Comerciante, Agropecuarista, Comandante de Vapor, Presidente de honra do Aeroclube e da Associação Comercial.



Panfleto.



Panfleto.




O Retorno. 

        Em quase dois meses inicia o regresso. Muitas comemorações foram feitas. Foi impresso um santinho a mando do Pároco, Frei Hilário
   
   "LEMBRANÇA DA COMUNHÃO GERAL DAS CRENÇAS, EM CUMPRIMENTO DUMA PROMESSA FEITA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO PARA O REGRESSO FELIZ DOS 25 PIRAPORENSES"
                                              “PIRAPORA, 11 DE DEZEMBRO DE 1932”.








Relação dos participantes do Levante de Pirapora.


Estas informações podem ser confirmadas por jornais e revistas da época, as quais publicaram as participações de Batalhões de Minas Gerais ao lado dos Constitucionalistas.



Agradecimento ao Prof. José Carlos Pales da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), Unidade Divinópolis História, pelas informações e pelo contato.



Fonte.
ATLAS.fgv.com-verbetes-Artur- Bernardes
 DINIZ, Antonio Gabriel. Dados para a História de Curvelo. Apud CASTILHO, Eunice Loth Marton, 2016
 DONITZ, Karl. Grossadmiral. Memoirs: Ten Years and Twenty Days. Londres: Lionel Leventhal, 1959. Apud CALMON, Pedro. História do Brasil Século XX. Rio de Janeiro: Livraria José Olímpio Editora, 1959.
GARZA, Hedda. Os Grandes Líderes, Mao Tse- Tung, São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda. 1998
SILVA, Breno Álvares da - MOTA, Ivan Passos Bandeira da. Pirapora, 100 Anos de História. Editora....... 2012......
THOMPSON, Edward Palmer. The Povert of Theory and Other Essays. London: Merlin, 1978.
                                                                                                                                            
Filme documentário, "O Canto da Araponga" 2004 - Direção: Carlos Canela.
Periódico, “Tribuna Literária”, julho de 1972.




Veja mais em: http://mmdcjaguariuna.blogspot.com.br/search?q=Araponga
                       http://mmdcjaguariuna.blogspot.com.br/search?q=mato+grosso



Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.














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