quinta-feira, 3 de março de 2022

A EPOPÉIA PAULISTA DE 32, PARTE III.

 

Em 7 de Julho no ano de 1954 a Revista O Mundo Ilustrado publicou uma longa matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932 incluindo alguns depoimentos de ilustres participantes do Movimento. No ano do 4º Centenário de São Paulo as comemorações de 9 de Julho tiveram um destaque especial sendo consideradas uma das mais grandiosas, segundo seus organizadores. A publicação possui diversas fotografias ilustrativas. Na primeira parte o depoimento de Júlio de Mesquita Filho.

A exaltação a São Paulo, o respeito e o reconhecimento ao Soldado Constitucionalistas são nítidos na publicação e até os dias de hoje, 90 anos após, o povo paulista não esquece seus heróis!

 Pela extensão da matéria publicarei a transcrição em partes.

 

Parte III

O FAMOSO BATALHÃO ACADÊMICO

 

O Dr. Francisco Emygdio Pereira Neto, tesoureiro da Faculdade de Direito de São Paulo, é uma das figuras mais populares e queridas da grande metrópole paulista. Homem bonachão, simples e amigo de todos. Emygdio, como é mais conhecido, mercê atuação marcante e correta na Faculdade, fez-se credor da estima e consideração da estudantada, que vive a assedia-lo à procura de solução para os seus problemas de ordem particular. Emygdio também teve atuação de relevo na Revolução, razão pela qual reservamos um cantinho nesta reportagem para o seu depoimento:

Tão logo estourou o movimento constitucionalista, formou-se, aqui, na Faculdade, o Batalhão 14 de Julho, isto na madrugada do dia nove. O seu primeiro nome foi 1º Batalhão Universitário Paulista e o nosso batismo de fogo se verificou no dia 14, nas proximidades de Itararé. Fizemos todo o setor Sul até o Rio da Almas. Combatemos até três dias após o armistício. O nosso Batalhão, inicialmente, foi comandado pelo Major Mário Rangel. Depois tivemos como chefe o Major Cândido Bravo, hoje exercendo função de destaque na Força Pública. Tivemos sete mortos e grande número de feridos. Os estudantes paulistas foram bravos soldados e os seus feitos ainda são lembrados com exaltação por quem os conhece. São Paulo lutou por um ideal nobre e alevantado. Perdemos a batalha, mas não a causa. Queríamos a Constituição e a tivemos. Morreu muita gente, porém o Brasil conseguiu se libertar e isto nos bastou. O túmulo do Soldado Desconhecido que erigimos no pátio da Faculdade, perpetuou o nosso reconhecimento pelo muito que fizeram por nós os heróis de guerra que tombaram no campo de luta. Orgulho-me de ter participado do movimento libertador. Nada tenho para legar a meus filhos a não ser a glória de ter combatido, de armas na mão, em defesa dos princípios de liberdade e de decência, que são o apanágio do povo de minha terra, São Paulo, como parcela deste imenso Brasil, quis, apenas, em 32, que a ditadura odiosa que nos oprimia tivesse fim. Não pensávamos em nos separar do resto da União. O que os agentes da ditadura afirmavam, naquela ocasião, era fruto do maquiavelismo que caracterizava os mentores da Nação. Estamos satisfeitos, hoje, porque a Democracia, boa ou má, prepondera em nosso meio. Somos livres e temos o direito sagrado de escolher errada ou acertadamente os nossos chefes.

 



Poema de Tobias Barreto:

Quando se sente bater

 No peito heroica pancada

Deixa-se a folha dobrada

 Enquanto se vai morrer...



O EPÍLOGO DA REVOLUÇÃO.

 

Como toda epopéia a de 9 de Julho também teve seu epílogo. Num dia de novembro, de 32, a bordo do navio Pedro I, do Loide Brasileiro (Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro), foram embarcados com destino à Lisboa, os líderes da Revolução Constitucionalista. Lá estavam os chefes que lutaram bravamente à frente de patriotas entusiastas, pela reconstitucionalização do País. Militares e civis, unidos por um único e sacrossanto ideal – a redemocratização do Brasil – deixavam esposa, mãe, filhos e amigos mas não se curvaram por um instante às consequências dos seus atos. Ainda naquele mesmo mês num domingo, dia 27, numa modesta pensão da rua Branchamp, nº40 (o nome correto da rua é Braamcamp), na Capital portuguesa, reuniam-se o General Klinger e seus comandados para ouvir a mensagem de confiança dos chefes políticos de maior prestigio no Brasil. Era seu portador, o Sr. Batista Luzardo. Trazia uma palavra de ordem: - Não devemos cruzar os braços diante da ditadura e do revés das nossas armas. Era mais uma centelha que se acendia, animando corações e revigorando consciências. Apenas uma centelha...

- Reportagem de Carlos Vinhais.




Sepultura de um herói tombado no campo de luta constitucionalista.
Lutou bravamente para que o Brasil tivesse um governo
que respeitasse a liberdade do povo acima de tudo.


SOB O FOGO DA METRALHA


Ataques dos aviões "vermelhinhos" repelidos pela artilharia
antiaérea em Cruzeiro, SP.








Avião abatido pela artilharia antiaérea paulista.


Camuflados nas trincheiras prontos para defesa e ataques.




Municiadores preparando armas para combate.




Proteção nas trincheiras para ataques antiaéreos.

 







Bombardeio na cidade de Guará, SP.



Personalidades da Revolução Constitucionalista de 1932.

FIM

 

 

Fonte.

Revista O Mundo Ilustrado, nº75, 7 de Julho de 1954. (Coleção pessoal).

 

 

Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.

03/03/2022

 


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