Em
7 de Julho no ano de 1954 a Revista O Mundo Ilustrado publicou uma longa
matéria sobre a Revolução Constitucionalista de 1932 incluindo alguns
depoimentos de ilustres participantes do Movimento. No ano do 4º Centenário de
São Paulo as comemorações de 9 de Julho tiveram um destaque especial sendo consideradas
uma das mais grandiosas, segundo seus organizadores. A publicação possui
diversas fotografias ilustrativas. Na primeira parte o depoimento de Júlio de
Mesquita Filho.
A
exaltação a São Paulo, o respeito e o reconhecimento ao Soldado Constitucionalistas
são nítidos na publicação e até os dias de hoje, 90 anos após, o povo paulista
não esquece seus heróis!
Pela extensão da matéria publicarei a
transcrição em partes.
Parte
III
O FAMOSO BATALHÃO ACADÊMICO
O
Dr. Francisco Emygdio Pereira Neto, tesoureiro da Faculdade de Direito de São
Paulo, é uma das figuras mais populares e queridas da grande metrópole
paulista. Homem bonachão, simples e amigo de todos. Emygdio, como é mais
conhecido, mercê atuação marcante e correta na Faculdade, fez-se credor da
estima e consideração da estudantada, que vive a assedia-lo à procura de
solução para os seus problemas de ordem particular. Emygdio também teve atuação
de relevo na Revolução, razão pela qual reservamos um cantinho nesta reportagem
para o seu depoimento:
Tão logo estourou o
movimento constitucionalista, formou-se, aqui, na Faculdade, o Batalhão 14 de Julho, isto na madrugada
do dia nove. O seu primeiro nome foi 1º Batalhão
Universitário Paulista e o nosso batismo de fogo se verificou no dia 14,
nas proximidades de Itararé. Fizemos todo o setor Sul até o Rio da Almas.
Combatemos até três dias após o armistício. O nosso Batalhão, inicialmente, foi
comandado pelo Major Mário Rangel. Depois tivemos como chefe o Major Cândido
Bravo, hoje exercendo função de destaque na Força Pública. Tivemos sete mortos e
grande número de feridos. Os estudantes paulistas foram bravos soldados e os
seus feitos ainda são lembrados com exaltação por quem os conhece. São Paulo
lutou por um ideal nobre e alevantado. Perdemos a batalha, mas não a causa.
Queríamos a Constituição e a tivemos. Morreu muita gente, porém o Brasil
conseguiu se libertar e isto nos bastou. O túmulo do Soldado Desconhecido que
erigimos no pátio da Faculdade, perpetuou o nosso reconhecimento pelo muito que
fizeram por nós os heróis de guerra que tombaram no campo de luta. Orgulho-me de
ter participado do movimento libertador. Nada tenho para legar a meus filhos a
não ser a glória de ter combatido, de armas na mão, em defesa dos princípios de
liberdade e de decência, que são o apanágio do povo de minha terra, São Paulo,
como parcela deste imenso Brasil, quis, apenas, em 32, que a ditadura odiosa
que nos oprimia tivesse fim. Não pensávamos em nos separar do resto da União. O
que os agentes da ditadura afirmavam, naquela ocasião, era fruto do
maquiavelismo que caracterizava os mentores da Nação. Estamos satisfeitos,
hoje, porque a Democracia, boa ou má, prepondera em nosso meio. Somos livres e
temos o direito sagrado de escolher errada ou acertadamente os nossos chefes.
Poema de Tobias Barreto:
Quando se sente bater
No peito heroica pancada
Deixa-se a folha dobrada
Enquanto se vai morrer...
O EPÍLOGO DA REVOLUÇÃO.
Como
toda epopéia a de 9 de Julho também teve seu epílogo. Num dia de novembro, de
32, a bordo do navio Pedro I, do Loide
Brasileiro (Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro), foram embarcados com
destino à Lisboa, os líderes da Revolução Constitucionalista. Lá estavam os
chefes que lutaram bravamente à frente de patriotas entusiastas, pela
reconstitucionalização do País. Militares e civis, unidos por um único e sacrossanto
ideal – a redemocratização do Brasil – deixavam esposa, mãe, filhos e amigos
mas não se curvaram por um instante às consequências dos seus atos. Ainda
naquele mesmo mês num domingo, dia 27, numa modesta pensão da rua Branchamp,
nº40 (o nome correto da rua é Braamcamp), na Capital portuguesa, reuniam-se o
General Klinger e seus comandados para ouvir a mensagem de confiança dos chefes
políticos de maior prestigio no Brasil. Era seu portador, o Sr. Batista
Luzardo. Trazia uma palavra de ordem: - Não
devemos cruzar os braços diante da ditadura e do revés das nossas armas. Era
mais uma centelha que se acendia, animando corações e revigorando consciências.
Apenas uma centelha...
- Reportagem de Carlos Vinhais.
Sepultura de um herói tombado no campo de luta constitucionalista.
Lutou bravamente para que o Brasil tivesse um governo
que respeitasse a liberdade do povo acima de tudo.
SOB O FOGO DA METRALHA
Ataques dos aviões "vermelhinhos" repelidos pela artilharia
antiaérea em Cruzeiro, SP.
Avião abatido pela artilharia antiaérea paulista. |
Camuflados nas trincheiras prontos para defesa e ataques.
Municiadores preparando armas para combate. |
Bombardeio na cidade de Guará, SP. |
Personalidades da Revolução Constitucionalista de 1932. |
FIM
Fonte.
Revista
O Mundo Ilustrado, nº75, 7 de Julho
de 1954. (Coleção pessoal).
Editado
e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
03/03/2022
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