UMA HOMENAGEM ESPECIAL NO ANIVERSÁRIO DE JAGUARIÚNA.
No 65 º Aniversário de Jaguariúna quero fazer uma homenagem destacando esta senhora, uma grande e influente dama da sociedade paulista, Sra. Olívia Guedes Penteado, a qual teve grande destaque por seus importantes feitos, na política, no mundo das artes e para os cidadãos em geral. D. Olívia teve fortes laços com Jaguariúna por ser filha do Barão de Pirapitinguy, proprietário e fundador da Fazenda da Barra, hoje Patrimônio Histórico Municipal. Em sua juventude passou muitos momentos na belíssima Fazenda, e mais tarde chegou a receber grandes nomes do meio artístico, por ocasião do Movimento de Arte Moderna, nos salões da sede da Fazenda.
Durante a Revolução Constitucionalista desenvolveu importante trabalho, na retaguarda, junto às senhoras da sociedade paulista e por isto ficou conhecida como Madrinha da Revolução.
Em 1958, a Revista O MUNDO ILUSTRADO, em sua Edição Comemorativa do 26º Aniversário da Revolução de 1932, publicou uma reportagem sobre D. Olívia relatando sobre sua casa, o Salão e sua influência no meio artístico a qual transcrevo a seguir:
UM GRANDE SALÃO E UMA GRANDE DAMA DE SÃO PAULO.
Gente não muito jovem, artista ou escritor, ou pessoa da sociedade que passe pelo Hotel Comodoro, atrás da fachada moderna, evocará uma paisagem com um grande parque lateral, uma casa cheia de dignidade fim de século, muito “belle époque”, dando a frente para a rua Conselheiro Nébias e um lado para a antiga rua Duque de Caxias. Parte da moderna Avenida passa pelo antigo parque. Na rua Conselheiro Nébias, num salão cheio de retratos, telas e velhas coisas preciosas, a repórter fala com D. Carolina Penteado da Silva Teles, (Sra. Godofredo da Silva Teles), sobre seus pais: D. Olívia Guedes Penteado e Inácio Penteado – “Minha casa, fica justamente onde era o término do parque de meus pais. Mas a construção da residência deles foi um longo sonho dos dois, realizado de modo meticuloso, com todos os elementos que fariam depois daquele ambiente um ponto de encontro da sociedade da época. Em 1895 fomos a Paris e a Londres para comprar maçanetas de portas, lustres, tapetes, telas, cortinas, mobiliário. A casa foi inaugurada em 1897 com um baile que marcou época.” D. Olívia Guedes Penteado, filha dos Condes de Pirapitinguy, seria mais tarde a grande amiga dos artistas... Em verdade, a esplêndida realidade dos Museus de Arte Moderna teve a sua primeira semente lançada no “Salão Moderno” de D. Olívia. Fora anteriormente uma turista apaixonada. Após suas peregrinações que podiam tomar o rumo dos países nórdicos, do Egito, da Terra Santa, da Grécia, seu ponto de encontro com os amigos era Paris. Daí ter-se familiarizado com os grandes artistas da época antes que eclodisse em São Paulo o chamado “Movimento de Arte Moderna”. Depois desta, em contraste com a ambiência da casa da rua Conselheiro Nébias, ao fundo do parque, seria erigido o “Salão Moderno” de D. Olívia. De imediato, acolheu o que São Paulo conservador chamava dos moços desvairados. Eles, os moços de então, hoje podem ser os poetas Guilherme de Almeida e Menotti Del Picchia, o pintor Di Cavalcanti, o grande Vila Lobos. A decoração do ambiente foi confiada a Lasar Segall. Em torno, era o parque com as figueiras bravas, as caneleiras, os jacarandás, os guaimbés. Dentro, as galerias com Leger, Picasso, Lhote, Foujita, Marie Laurencin e a prata da terra: Anita Malfati, Tarsila, Gomide, Gobbis, Moussia, Di Cavalcanti. O “Cavalo”, de Brecheret montava guarda à lareira e havia uma “Cabeça de Neegro” de Brancusi, a “Música”, de Lipschitz e o “Beijo”, de Segall. Eram tempos em que Gregori Warchavchick edificava a primeira residência moderna do Brasil para escândalo burguês, que Osvaldo de Andrade lançava “Pau Brasil” e “Memórias Sentimentais de João Miramar”, que “Braz, Bexiga, e Barra Funda de Antônio de Alcântara Machado surgia Le Coabusier esteve no Salão Moderno de D. Olívia e lá deixou com uma expressiva dedicatória o seu “Précisions”. Rubinstein certa feita lá foi acolhido à hora do chá. Olhou o parque fluidificado pela chuva e silenciosamente sentou-se ao piano e tocou “Um Jardim sur la Pluie” de Debussy. Aquele mesmo piano muitas vezes se sentara Vila Lobos para meditar a melodia exata que engendrava. Ali, Mario de Andrade cantou modinhas populares brasileiras, Antônio Rudge, Camargo Guarnieri, Souza Lima tocaram. Blaise Cendras foi um frequentador assíduo do Salão e também lá estiveram Fernanda de Castro e Antônio Ferro, Paulo Prado, Flávio de Carvalho, Rubens Borba de Morais, Cícero Dias, Paulo Mendes de Almeida, alguns dos “habitues”. Mas não só da “inteligentzia” da terra animava-se a casa da rua Conselheiro Nébias.
Toda a sociedade de São Paulo agrário, distante deste nosso internacionalizado de hoje, lá comparecia. Os salões abriam-se para receber Washington Luiz Pereira de Souza, tão grande amigo da anfitriã, que esta não esqueceu de enviar-lhe um telegrama cheio de devoção quando o grande brasileiro no dia 26 de outubro de 1930 viu passar seu aniversário dentro do Forte de Copacabana. E por ser amiga dos amigos foi que D. Olívia Guedes Penteado na grande recepção que ofereceu ao Príncipe de Gales e ao Duque de Kent em 1931, não convidou o então interventor de Getúlio, o Tenente João Alberto Lins de Barros. Nessa ocasião foi chamada a depor. Transparecera que haviam tramado contra os políticos do momento naquela noite... Em realidade, em casa de D. Olívia Guedes Penteado trama-se muito. Mas era uma trama dinâmica e de ordem puramente estética. Auxiliou a muitos jovens e desconhecidos valores da época. Ronald de Carvalho muitas vezes lá foi beijar a mão à grande dama. Certa noite, o “Teatro de Brinquedo” de Eugênia e Álvaro Moreyra lá compareceu em peso, depois do espetáculo, para uma ceia e um dos convidados foi Felipe de Oliveira. Poucos dias depois dessa noite, o poeta morria tragicamente na França. O Salão viu acontecer (para usar uma expressão de crônica social) a “Noite de Sabbat” com uma conferência demoníaca de Guilherme de Almeida e o comparecimento de máscaras atrás das quais o conferencista se ocultava conforme fossem as bruxarias de que falava. O Salão de D. Olívia viveu um hiato único nos fastos da cidade grande. Era o início do surto industrial e naquela ambiência requintada, dando justamente as costas para a “belle époque” que caracterizava os salões da rua Conselheiro Nébias, os movimentos modernistas ensaiavam passos que se podia chamar “verde-amarelismo”, “antropofagias”, etc....
Debuxava gestos sob telas dadaístas, cubistas, uma jovem e bela artista que também tinha o seu Salão, que percorreu o mundo todo, possuía uma enorme fortuna, era amiga dos maiores artistas plásticos e maiores poetas franceses. Certa feita Alberto Cavalcanti nos falou das recordações sentimentais que tinha dela. Fora-lhe apresentada na Ópera de Paris. Ele era adolescente e ela uma beleza formosa; uma pintora original e ousada. Poiret fazia-lhe os vestidos. A brasileira era comentada em Paris e no mundo. Grande amiga de D. Olívia: a surpreendente e jamais declinante Tarsila.
O Palacete, que foi projetado por Ramos de Azevedo, foi demolido na década de 1940 em virtude da ampliação da Av. Duque de Caxias. Por volta do Centenário da cidade de São Paulo, no terreno remanescente ergueu-se o Edifício Hotel Comodoro.
Fonte.
Revista “O Mundo Ilustrado” – Edição Comemorativa do 26º Aniversário da Revolução de 1932, 16 de julho de 1958. (Arquivo pessoal).
palaceteoliviaguedespenteado.blogspot.com, acesso 01 de agosto de 2019.
estreladamogiana.com.br, acesso 01 de setembro de 2019.
O 10º Núcleo de Correspondência – MMDC Trincheiras de Jaguariúna parabeniza a cidade no seu 65º Aniversário.
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Ponte "Pedro Abrucês", sobre o rio Jaguari inaugurada em 1875 para a passagem do trem preservada até os dias de hoje. |
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
11/09/2019.
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