Esta entrevista com Sr. Mércio Prudente Corrêa, na época Presidente da Sociedade Veteranos de 32 – MMDC, foi publicada no jornal “A Gazeta” de 18 de julho de 1957, na coluna “FALAM OS VETERANOS”.
A seguir a transcrição do texto:
“Voluntários e mulher paulista – os grupos realmente idealistas e desinteressados no Movimento de 32”
Declarações do Presidente da Sociedade Veteranos de 1932 – MMDC, Mércio Prudente Corrêa
- “Precisei organizar tudo, e acabei sendo chamado de capitão”.
- Porque não avançamos logo para o Rio? – O caso do português – O desfile do 25º aniversário da Revolução.
Continuando esta série de entrevistas com participantes da Revolução Constitucionalista, ouvimos o Sr. Mércio Prudente Corrêa, Presidente da Sociedade Veteranos de 32 – M.M.D.C.. Mostrando-se reservado quanto a certos fatos, “porque há muitas coisas que só um historiador pode dizer”, assim se expressou:
- “Na sua totalidade, foram ao voluntários e a mulher paulista os grupos realmente idealistas e desinteressados no movimento de 32. Esses, todos, sem exceção, lutaram a campanha inteira sem outras preocupações, senão aquelas de lavar a honra de São Paulo e da volta das garantias pessoais, por meio da reconstitucionalização do País”.
NO INTERIOR.
- “Em Piraju– continua o veterano Mércio Corrêa – formamos um grupo de voluntários, todos amigos e nos apresentamos. Em nome do Dr. Ataliba Leonel, eu conclamava a vinda de voluntários. Parentes dessa personalidade, pessoas destacadas da cidade, todos nos alistamos no Batalhão 14 de Julho. Na noite desse dia, o Dr. Ataliba, por intermédio de um seu criado, o Dito Sem Pescoço, mandou-me chamar e me declarou que havia tomado a responsabilidade da formação de uma brigada e do posto de general, esclarecendo que o pessoal de Piraju necessariamente precisava integrar a brigada. Imediatamente convoquei os companheiros que aceitaram cancelar a inscrição no dia 14 de julho, para formarem na brigada, mediante a promessa de seguirmos para a frente logo, e sob o comando de oficiais da Força Pública. Isso foi cumprido. O Coronel Sandoval comandou a concentração, sendo comandante civil o Sr. Leônidas Vieira, que chegou 5 dias depois”.
“CAPITÃO”
- “Seguimos para Botucatu, onde esperávamos encontrar alojamentos, etc., prontos, mas tivemos de organizar tudo, inclusive requisitar colchões e solicitar ao Prefeito e demais autoridades a cessão de um Grupo Escolar, onde nos alojamos. Encontramos da parte das autoridades inteira e magnifica acolhida. Com esses serviços de organização, feitos quase todos por mim, começaram a me chamar de “Capitão”. Mas eu era civil e nem entendia nada de coisas militares.
Para acabar com a brincadeira, reclamei junto ao Coronel, que me deu, para surpresa minha, cinco minutos para colocar as divisas...Não era brincadeira. Nosso companheiro Aníbal Garcia, morador em Piraju, colocou os três “macarrãozinhos”, como chamávamos as divisas. Usei-os na farda de soldado raso, com a qual fiquei até o final do movimento. E quando necessitava comandar em frente de batalha, passava a direção para o Voluntário Nelson Lopes, hoje um dos maiores elementos da Sociedade Veteranos de 32 – M.M.D.C.”.
O PORTUGUÊS.
Conta-nos, em seguida, o veterano Mércio Prudente Corrêa que havia no batalhão, um português desejoso de ser oficial, a qualquer custo.
- “Fatos assim não eram raros, aliás. Acontece que o português, chamado Ferreira e Albuquerque, conseguiu o posto de Capitão. E ele entendia muito menos que eu, de assuntos militares. Eu, sabendo de minha condição, tinha aceitado o posto para fazer serviços de organização, já que não sei comandar tropas em frente de luta. Mas o português quis mostra-se de entendido, e logo de início caiu no ridículo: um dia, disse-me que desejava assumir o comando da tropa. E a primeira ordem dele foi esta: _ “Batalhão: meia volta, rodaire!”. Com esse “rodaire”, o homem perdeu inteiramente a autoridade, ficando os soldados a se rirem dele, sendo preciso que eu repusesse a ordem na unidade. Quando fomos para para a frente, todos estávamos preocupados com a atuação que esse oficial pudesse ter, no comando. Providencialmente, estava no trem, em que viajávamos, de luzes apagadas, um conhecido, Jorge de Barros, que , sabendo da situação apresentou-me ao extraordinário Cap. Constantino Pinto, do 1º BRE, e que não deve absolutamente ser confundido com o Cap. Morais Pinto. O Cap. Constantino ficou sendo um dos melhores, mais dedicados, valentes e equilibrados comandantes de linha de frente.Tomando conhecimento da gravidade do caso, aceitou o comando, quando chegamos em Aracaçu, com ordem provisória do Cel. Milton de Freitas Almeida. Assim, o comando ficaria com ele até se regularizar a situação, o que aliás, não conseguimos até o fim do Movimento.
IRMÃOS E AMIGOS.
- “Quando rumamos para a frente sul– continua o entrevistado – após tantos serviços de preparação, pois, como já disse, nada havia de organizado, tive de deixar meu irmão, mais moço que eu e muitos amigos, para voltar a Itapetininga em missão. Separar-me dos que me eram caros foi sacrifício tremendo, inclusive porque eles estavam dormindo e eu não sabia se acorda-los para despedir-me ou não... São coisas por que a gente passa, numa guerra.”
PORQUE NÃO AVANÇAMOS?
Perguntamos em seguida ao veterano Mércio Prudente Corrêa sua opinião sobre a “parada” das tropas constitucionalistas. Disse-nos:
- “Acho que o grande erro dos paulistas foi não ter avançado imediatamente sobre o Rio. Nossas atitudes foram muito extravagantes: chegamos até as divisas do Estado, e então paramos, para esperar a chegada do Gal. Klinger, de Mato Grosso, que não veio com sua guarnição, como se esperava, mas apenas com alguns homens. Ora, revolução é uma coisa de horas, um dia no máximo! Aí está a nossa falha: esperamos muito para avançar sobre o Catete, dando tempo a que os ditatoriais se organizassem, obrigando até muita gente, que estaria com a causa paulista, a lutar contra nós.”
Fonte – recorte do jornal “A Gazeta”, 18/07/1957, arquivo pessoal.
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
30/07/2017.
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