domingo, 30 de setembro de 2012

O problema da interiorização no estudo de História Militar: o caso de Santos e seus mortos na Revolução de 1932.

Ney Paes Loureiro Malvasio
 
 
O texto original foi dividido em quatro partes.
 
Parte I
 
A revolução constitucionalista de 1932, um grave conflito que terminou com mais de 600 mortos, apenas do lado cujo foco foi o estado de São Paulo, teve em Santos, uma das cidades mais ativas durante todo o conflito. Santos manifestou-se como um grande irradiador de voluntários para combater em todos os setores do conflito armado. Entretanto, após pesquisa feita sobre as fontes primárias da revolução, pude constatar que nossa cidade teve mais mortos durante os combates que se imaginava, algo que qualquer um pode ver ao visitar o monumento santista aos seus mortos, localizado na Praça José Bonifácio, no centro do município. Algo interessante de colocar, logo de início, pois durante o movimento perdeu-se Augusto Saturnino de Britto[2], engenheiro nascido em Santos, filho do grande projetista do sistema de canais existente até hoje na cidade. Além dele, mais seis voluntários tiveram seu papel na revolução reconstituído pela pesquisa efetuada.
Uma das principais fontes para o estudo levado a cabo sobre o sacrifício de santistas durante o movimento de 1932 foi Cruzes Paulistas, um livro publicado em 1936, com o intuito de angariar fundos para o mausoléu erguido na cidade de São Paulo, conhecido como o obelisco do Ibirapuera. Esse livro traz uma completa lista de todos os combatentes conhecidos  tombados em combate ou em ações de apoio ao movimento de nove de julho, além disso e, não menos importante, nessa obra há uma pequena biografia de cada um desses participantes da revolução de 1932.
Os outros mortos não conhecidos em sua própria cidade de origem ou residência, a Santos litorânea, apresentarei no corpo deste artigo. É interessante notar que, nem todos nasceram aqui, mas daqui saíram para lutar, e outros, filhos desta cidade, inscreveram-se como voluntários em outros cantos de São Paulo, e mesmo em outros estados.
 
              Conforme pude constatar e que já mencionei anteriormente, a verdadeira causa de não conhecermos, até então, esses valorosos santistas que devotaram suas vidas à revolução constitucionalista, reside em diversos motivos que realçarei ao tratar de cada um, pois cada combatente merece uma breve síntese biográfica.
 
Eu iniciarei expondo o já citado voluntário Augusto Saturnino de Britto, nascido em Santos em 11 de junho de 1905. Era engenheiro agrônomo:
 
Três escolas de agronomia foram por ele cursadas: a de Recife, no início; a do Rio de Janeiro, a seguir; e finalmente, a escola Agrícola “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba. Ali formou-se com distinção, dado o seu entusiasmo por aquela ciência. Adquiriu, logo depois, uma fazenda em Marília, para por em prática o que aprendera.[2]
 
 Ao estalar a revolução, como vimos, residia em Marília, local aonde apresentou-se como voluntário, um dos motivos pelo qual os santistas que apresento neste artigo não tiveram seus nomes gravados no monumento a eles dedicado, erigido em 1956, pois  recorreu-se apenas ao alistamento feito aqui e não em outros locais.
Augusto Saturnino de Britto, participou da revolução de nove de julho como cabo do 60 R.I., morrendo em combate no dia 6 de setembro, defendendo uma trincheira na Serra da Bocaina, setor de Silveiras. Depois do fim dos combates, os restos mortais de Augusto foram conduzidos para o Rio de Janeiro, onde repousa na campa de sua família.
 
Alípio Batista Pintofoi outro santista voluntário, era empregado da Companhia Santista de Tecelagem, e foi mais um dos incorporados ao Batalhão Operário de Santos. O que nos demonstra o grande número de simples trabalhadores junto à causa da revolução de 1932, às vezes colocada de forma negativa ou não existente por alguns historiadores. Mas, só estudar de forma ampla o número de voluntários na pugna de 1932, percebe-se o contrário... pois o que se verifica é um número grande de voluntários, tal qual se revela, inclusive pelo nome dos batalhões formados às pressas:
 
... boa parte dos batalhões de voluntários civis foram formados justamente em bairros paulistanos que no ano de 1932 eram estritamente operários, como Brás, Água Branca, Mooca, Lapa, Vila Mariana e Penha.[3]
 
E, ao longo do estado de São Paulo, não só na capital, também se verificou um grande número de voluntários ligados ao trabalho industrial:
 
Também foram constituídas unidades combatentes exclusivas de categorias operárias (fabris), como os batalhões dos Ferroviários e o Operário Pró-Constituição, além dos Operários Católicos, Portuários e Operários de Santos.[4]
                                   
 Como se constata, temos o Batalhão Operários de Santos, local de procura do voluntário Alípio Batista, tal qual dezenas e dezenas de outros voluntários simples trabalhadores, lembrando ainda do caso santista, do Batalhão de Portuários. Em 10 de setembro, entretanto, o voluntário Alípio morreu junto com aproximadamente uma dezena de outros soldados, após a explosão de uma granada que caiu certeiramente na trincheira onde estavam posicionados, na verdade constituiu-se como um fatal e famosamente triste acontecimento a tantos guerreiros. Isso aconteceu em Morro Verde, no perigoso setor de Vila Queimada e, segundo dados obtidos no Cruzes Paulistas, Alípio foi enterrado no local, certamente reside aí o motivo de  ignorar-se localmente sua perda, anos depois.
 
 
 



[2]Horácio de Andrade; A. Guanabara de Arruda Miranda; Oswaldo Bretas Soares. Cruzes Paulistas. São Paulo: Gráfica da Revista dos Tribunais, 1936.  p. 104.
 
[3] Jeziel de Paula. 1932: imagens construindo a história. Campinas/Piracicaba: Editora da Unicamp/Editora Unimep, 1998. p. 118.
 
[4] ___________. 1932: imagens construindo a história. Campinas/Piracicaba: Editora da Unicamp/Editora Unimep, 1998. p. 118.

domingo, 23 de setembro de 2012

CARTA DE DESAGRAVO

 
Reunião da COFAM do dia 15 de Setembro de 2012
Mausoléu dos Veteranos de 32/Obelisco Ibirapuera

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

NÚMEROS DA REVOLUÇÃO DE 1932


                                                                               Luiz Antonio Silveira Melo (1)

Os números foram totalmente desfavoráveis à São Paulo: metade de um Estado (sul do Mato Grosso) aderiu à causa, poucos homens e fuzis menos ainda, pouca artilharia, pouca munição, poucos aviões e nenhum navio pois não houve adesão da Marinha.

Os Combatentes e suas Armas (2)

Os exércitos da ditadura contavam com cerca de 300 mil homens, enquanto que os combatentes de São Paulo foram perto de 34.000. Destes, aproximadamente 10% eram do Exército, 30% da Força Pública e 60% de Voluntários civis.

Houve 60.000 inscrições de voluntários mas o número foi restringido porque não havia fuzis suficientespara todos.

As armas existentes na maior parte eram antigas, havendo em todo Estado somente 27.685 fuzis que a ditadura não removeu após 1930, por serem deficientes e obsoletos. Havia uma metralhadora para cada 235 homens, enquanto que o padrão seria de uma para 25 soldados. A munição também era restrita cabendo, no máximo, 100 tiros por soldado, sendo que pelos padrões da I Guerra Mundial, o número seria de 150 cartuchos por dia por soldado. Para complementar a munição, os cartuchos já deflagrados eram recolhidos do chão e enviados à São Paulo para serem recarregados.

Agravando ainda mais a situação, os voluntários tiveram, quando muito, treinamento precário, havendo a informação de que os Voluntários de Itapetininga chegavam e, sem nunca terem manejado um fuzil, logo eram mandados para as trincheiras.

Quanto à aviação, de acordo com Malvasio (s.d.), quando estourou a Revolução os paulistas contavam com somente quatro aviões militares e posteriormente foram acrescentados mais dois, trazidos do Rio de Janeiro por oficiais da Aviação Militar; em setembro chegaram mais nove aviões provenientes do Chile. Essa foi a Esquadrilha Paulista Gaviões de Penacho.

 

Os Bravos que Morreram por São Paulo

Na obra de Montenegro & Weisshon (1936) são descritos 632 mortos por São Paulo na Revolução de 1932. Entretanto, uns falam em mais de 900, outros em mais de 2.000, estes últimos números, porém, sem qualquer comprovação. Baseando-se na obra citada, fez-se uma compilação dos dados, observando-se que perto de 58% dos mortos eram voluntários e o restante 42% pertenciam predominantemente ao Exército e Força Pública e também ao Corpo de Bombeiros, ao CPOR, à Guarda Civil e à Aviação. A  ocorrência de maior mortalidade de voluntários foi provavelmente pela falta tanto de treinamento como de armamento, como anteriormente relatado.

Cerca de 6% dos combatentes faleceram posteriormente em virtude de doenças adquiridas nas trincheiras. Outros faleceram em acidentes diversos e também rodoviários e por manuseio de armas ou de explosivos.

As maiores porcentagens de mortes em combate e/ou por ferimentos decorrentes dele, segundo o local de ocorrência, em ordem decrescente, foram: Túnel (9%), Vila Queimada (6%), Silveiras (5%), Bury (3,3%), Pinheiros (3%), Campinas e Capão Bonito (2,5%), Itapira (2,4%), Rio das Almas (2,2%), Cunha (1,9%), Amparo e Queluz (1,7%). Há de se considerar que muitos morreram combatendo em local não determinado.

Houve muitas baixas no Túnel e de acordo com Donato (1982) ele foi ocupado  pelos paulistas, que ficaram à espera dos “aliados” mineiros. Porém, em 16/07, duas unidades do Exército chegaram atacando e no dia 18/07 chegaram mais 1.500 policiais mineiros.

Computaram-se perto de 41% de mortos nas regiões próximas ao sul de Minas  Gerais e Rio de Janeiro e de 17% próximo ao Paraná. Essas regiões foram importantes porque nelas concentraram-se as tropas da ditadura para invadir São Paulo. No Mapa a seguir podem ser observadas as frentes de combate que predominavam nas regiões nordeste e sudoeste do Estado.



                  Carta elaborada por J. Washt Rodrigues, segundo Donato (1982).





(1)       Eng. Agrônomo, Dr., ex-Pesquisador da Embrapa, aposentado, filho do ex- combatente piracicabano Léo Silveira Mello.

(2)       Dados baseados em Donato (1982) e Andrade Filho (2012).

 

Bibliografia

 

ANDRADE FILHO, W. facebook.com/#!/groups/13678174593/, acesso em 31/07/2012.

 

DONATO, H. A Revolução de 32. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1982. 224p.

 

MALVAZIO, N. O Ataque a Mogi Mirim: fogo nos céus paulistas. Impresso não publicado, s.d. 7p.

 

MONTENEGRO, B.; WEISSOHN, A. A. (org.). Cruzes Paulistas: os que tombaram, em 1932, pela glória de servir São Paulo. São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1936. 516p.


domingo, 16 de setembro de 2012

Durval Moreira do Amaral: bravo guerreiro do litoral paulista na pugna da Revolução Constitucionalista de 1932


 

 

                                                                                      Ney Paes L. Malvasio *

 

 

       Durval Moreira do Amaral teve por berço a cidade de São Vicente, no litoral paulista, apesar de algumas fontes indicarem outra procedência. Maior prova disso é o seu nome gravado em letras indeléveis no monumento aos mortos da Revolução Constitucionalista em São Vicente.

       Quinze de fevereiro de 1911 marca a data de seu nascimento, sendo que os nomes de seus pais não foram olvidados pela história, e assim, necessário se faz relembrá-los: Euclydes Ribeiro do Amaral  e Ada Moreira do Amaral. Durval não veio ao mundo sozinho, pois fazia parte de numerosa prole, contando Walter, Deoclides, Gastão, Lourival e Dilermando como seus irmãos. A vida naqueles tempos da república velha notabilizava-se pelo grau de desenvolvimento atingido pelo estado de São Paulo, a “locomotiva do Brasil”, como se dizia na época. Entretanto, para Durval, a vida era um tanto dura, já que não provinha de uma família abastada e seus pais tinham a responsabilidade de criar seis filhos. Em vista do futuro que se lhe apresentava optou pela carreira militar e no seu tempo, a milícia paulista, a gloriosa Força Pública foi a alternativa escolhida pelo jovem do litoral.

       A Força Pública era um pequeno exército que, na verdade, era o sustentáculo armado do estado de São Paulo. Seus quadros contavam, durante a República Velha, com unidades de artilharia e aviação, além disso, o treinamento era ministrado por uma missão francesa de instrução militar, desde o mandato do presidente do estado (governador) Jorge Tibiriçá em 1906 que seguiu os conselhos de seu secretário da fazenda, Washington Luís Pereira de Souza (político, advogado, historiador), mais tarde tornou-se o presidente da república deposto pela Revolução de 1930.

       O ingresso na Força Pública era possível somente na condição de praça, e assim, Durval adentrou os portões da Escola de Recrutas (Escola do Soldado), localizada na capital paulista. A vida na caserna era extremamente difícil, dura e sofrida, lugar onde só os mais fortes sobreviviam, literalmente falando. Contudo, Durval do Amaral pareceu demonstrar aptidão para a carreira que escolheu. Em pouco tempo de serviço, pôde freqüentar a Escola de Cabos e, mais tarde, mereceu a graduação de sargento da Força Pública. Era um soldado nato!

       Mas, a vida não se resumia apenas ao quartel, à velha caserna, nesses anos de serviço, Durval se apaixonou e, por fim, contraiu casamento com sua amada Celina Sampaio. A união foi coroada com a vinda de dois filhos, Pedro Maurício e Ada, bela homenagem a sua mãe. Entrementes, a Revolução de 30 estourou em três de outubro e provocou o colapso da república velha e da política do café com leite. Getúlio Vargas subiu ao poder com o chamado governo provisório e São Paulo só tinha a esperar uma época de privações com o colapso da Bolsa de Nova Iorque em 1929 atrapalhando a economia ligada à exportação de café e o revanchismo político tornou-se regra geral, pois São Paulo simbolizava o antigo regime, acabando por sofrer as conseqüências, mesmo que tenha sido parte do braço responsável pela revolução, politicamente com o Partido Democrático e de maneira militar, com as tropas da velha coluna e o comando geral com o General de Brigada Miguel Costa, antigo comandante da coluna, oriundo da Força Pública.

       O povo paulista, no entanto, não consentiu em compactuar com o silêncio. O governo provisório de Vargas cada vez mais adquiria contornos de uma ditadura, e o povo de São Paulo começou a clamar por uma constituinte, o que era o passo mais lógico para a aprovação e regulamentação de um governo democrático. Outros fatos, também se somaram ao descontentamento geral da população, como a nomeação de interventores federais totalmente alheios aos anseios dos paulistas, como João Alberto, um dos tenentes da Coluna de 24, nascido em outro estado. Enquanto todo esse drama se desenrolava tal qual uma bola de neve vai se agigantando à medida que rola montanha abaixo, Durval, junto de sua unidade, o 5o. B.C.P.(Batalhão de Caçadores Paulistas) é mandado para Taubaté, a nova sede do batalhão anteriormente localizado na capital paulista.

       Inevitavelmente, veio o dia vinte e três de maio e com ele o estopim da epopéia que estava por vir. Quatro paulistas caem ante as balas do governo, apesar de pelo menos mais um morto e dezenas de feridos, mas seus nomes seriam imortalizados sob a forma de uma sigla: M.M.D.C. Após a tragédia ocorrida nas ruas de São Paulo, o processo  histórico se desenrolou de forma mais violenta, São Paulo escolheu seus líderes, Pedro de Toledo, Euclides Figueiredo, Marcondes Salgado, Bertoldo Klinger e outros, que liderariam aquele que passaria para  a História como o maior movimento cívico do Brasil republicano. A indignação era crescente e já não existiam mais argumentos capazes de frear o processo revolucionário.

       O 5o. B.C.P., em meio a todos esses acontecimentos, é posto de prontidão em Taubaté. Sua localização geográfica era crítica, pois servia de guardião do Vale do Paraíba, perto do limite com o Rio de Janeiro. Em nove de julho, então, o chamado às armas é ouvido nos quatro cantos de São Paulo, no 5o. B.C.P. a tropa limpa seus fuzis, prepara suas mochilas e parte para o setor do Túnel da Mantiqueira, aonde se estabelecem no dia 10 de julho, já debaixo dos primeiros tiros do fogo inimigo. O setor do Túnel era a chave da frente norte, e acabaria sendo o “moedor de carne” da Revolução de 32, tantos foram os que tombaram naquele estreito pedaço de serra. A posição nunca seria tomada à viva força pelas tropas governamentais, apesar da ulterior derrota do movimento constitucionalista no campo das armas.

       No túnel, os combates eram praticamente diários, os mortos tombavam uns após os outros nas trincheiras. Os paulistas são menos numerosos, mal armados e mal equipados, tudo é feito às pressas pela nascente indústria. Contudo, sobrava o ardor. Durval do Amaral estava no seu teatro, foi para aquilo que tinha sido treinado e, de forma nenhuma, decepcionaria aqueles que lhe depositavam confiança. Em pouco tempo de campanha é promovido ao posto de tenente por atos de bravura, galgou o oficialato em pleno campo de batalha!

       Mas, os azares da guerra são imprevisíveis. No início de setembro, as tropas constitucionalistas procuravam esboçar uma ofensiva para além de Silveiras. Em meio ao planejamento do ataque, surgiu uma missão arriscada, praticamente suicida na área do Morro Pelado. O capitão Odilon Aquino prefere pedir por voluntários para cumprir a missão, o tenente Durval prontifica-se imediatamente, era necessário desalojar o 19o. B.C. de suas posições, elemento crucial do dispositivo federal no setor de Silveiras. Durval do Amaral, ouvidas as instruções, parte acompanhado de outro voluntário, Milton Ferreira. O combate é renhido, os paulistas conseguem desalojar parte do 19o. B.C. de suas trincheiras, mas logo é encetado um furioso contra-ataque. No meio da pugna trágica, o tenente Durval é colhido pelas balas inimigas e cai sobre o solo por que lutara tão bravamente. Era o dia 3 de setembro...  nada mais havia para ser feito.

       Pouco depois, o corpo de Durval foi trasladado para a capital e sepultado no cemitério São Paulo. Durante as exéquias, um jornalista guardou as palavras de seu pai, Euclydes:

                                     ... orgulho-me da sua morte, pois ele soube ser um valente  e uma consciência a  serviço dessa luta sacrossanta. O seu exemplo ficará como o melhor ensinamento para todos aqueles que ainda são crianças e não puderam servir ao glorioso estado de São Paulo.[1]

 

 

[1] A. Miranda & Horácio de Andrade. Cruzes Paulistas.

 

*Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/IFCS), membro da Associação de Combatentes de 1932/ Seção Santos, oficial reformado do Exército Brasileiro.

 

      

       Bibliografia:
 
    AMORIM, Santos. Santistas nas Barrancas do Paranapanema. 1.ed. São Paulo:  Carmelo Simone,      1932.

 

       MIRANDA, A., ANDRADE, Horácio de. Cruzes Paulistas. 1.ed. São  Paulo:

       Revista dos Tribunais, 1936.

 

       DONATO, Hernâni. A Revolução de 32. 1.ed. São Paulo: Abril, 1982.    

 

       MALVASIO, Luiz S. História da Força Pública. 1.ed. São Paulo: S.I.F.P.,1967.

 

       _________________. Resumo Histórico da Polícia Militar.  1.ed.   São  Paulo:

       S.I.F.P., 1972.

 

       AMARAL, Antônio B. A missão Francesa de Instrução da Força Pública de São

       Paulo. 1.ed. São Paulo: Dep. De Cultura, [s.d.].

    

       RODRIGUES, Olao. Veja Santos. 1.ed. Santos: P.M.S., 1973.



 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

TENENTE CEL. JOÃO CABANAS

Ten. Cel. João Cabanas.





Tenente Cel. João Cabanas


Nasceu em Campinas a 23 de junho de 1895. Aos 19 anos, em 12 de novembro de 1914, alistou-se na Força Pública de São Paulo. Promovido a 2º Tenente em 14 de junho de 1921.

Em 1924, servindo no Regimento de Cavalaria, é surpreendido pelo levante de 5 de julho. Admirador de seu Major Fiscal, Miguel Costa coloca-se a seu lado, somando-se aos revoltosos. Com 15 praças toma a Estação da Luz, ali resistindo a cerrados ataques das forças governistas. Depois, ocupa o Palácio do Governo, no Campos Elisios.

A fome, os saques, os combates casa-a-casa e os bombardeios, ceifando vidas de civis e militares, fazem daqueles dias, os mais violentos da história da cidade.

Cabanas, meio ferido em ação, assume papel importante na distribuição de alimentos a população civil e na prevenção aos roubos e na repressão aos saques, inclusive determinando o fuzilamento de autores desse crime. Sua pericia como artilheiro retardou a entrada em São Paulo das forças enviadas pelo Governo Central.

 A 19 de julho de 1924, com 95 homens, dirige-se a Mogi Mirim e Campinas, com a missão de deter as forças governistas, em número três vezes superior, que vinham de Minas Gerais. Simulando um exército fictício com milhares de homens, utilizou simulacros de canhões e metralhadoras, feitos de bambu e caixotes vazios enfileirados, como se contivessem munição espalhando falsas informações que confundiam o adversário, deslocando-se por caminhos inesperados à testa de uma turma com o moral elevado, bateu seguidamente seus oponentes e manteve aberto o caminho ferroviário que permitiu a Miguel Costa abandonar a Cidade de São Paulo e levar incólume sua coluna até o Paraná. Seu mito se espalha pelo Brasil.

Em abril de 1925, promovida a Tenente Coronel revolucionário, contrai malaria e é forçado a deixar a frente de combate.

Em 1930 retorna do exílio e integra o Estado Maior de Miguel Costa, que conduziu Getulio Vargas ao poder.

Em 1931 encerra sua vida militar na Força Pública, passando a cumprir várias missões oficiais no exterior. Comprometido com a liberdade e a democracia rompe com Vargas.

Eleito Deputado Federal em 1950, luta em defesa do petróleo brasileiro.

No dia 27 de janeiro de 1974, falece como Tenente Cel. Reformado, no Hospital Cruz Azul.

João Cabanas é considerado, pelos historiadores militares, como o introdutor da guerra psicológica no Brasil.


Bibliografia: Arquivo do RC 9 de Julho. Crédito da foto SD PM Sérgio Oka. Cabanas em campanha no Paraná- 1924, do Acervo do Museu da PM. Agradecimento à Func. Hilda do MPM

Referência:
Revista  A Força Policial, São Paulo, nº22, abr/mai/jun, 1999.


Agradecimento: Sr. Egydio João Tisiani, pela colaboração.

sábado, 8 de setembro de 2012

A ASTÚCIA DE UM TENENTE


Ecos de um grande estrategista da Revolução

Manoel Seixas

Como foi enumerado várias vezes, as tropas emanadas do governo federal, se caracterizavam de um grande poder de fogo, não só pelo seu imenso contingente, como também pelo seu poderio bélico.
E isso evidentemente não era negado por ninguém, principalmente pelos soldados da unidade paulista, comandados pelo Tenente Cabana, aquartelada em nossa aprazível Jaguary, nas imediações da Fazenda Castelo e Santa Úrsula.
Assim sendo, certa feita os comandados da unidade getulista avançavam pelo leito das linhas da Companhia Mogiana com a finalidade de aniquilar de vez toda a resistência das forças do estrategista Cabana.
Neste ínterim, convocou os seus subordinados e lhes disse o seguinte:
 “Estais vendo aquela plantação de eucalipto?”
 “Estamos, chefe!!!”.
 “Então se embrenhem na mesma e escolham uma dúzia das árvores citadas e cortem-nas no capricho. De preferência espécies sadias, roliças e de boa espessura. Seccionem nas medidas certas e após a secagem, procedam uma pintura de cor acinzetada em seus respectivos troncos. Na ponta de cada unidade coloquem placas reluzentes de alumínio de forma a reluzir ao contato com os primeiros raios de sol.” Isto posto, colocou em prática seu revolucionário plano estratégico.
De imediato, removeu as peças de eucalipto para uns cavaletes de madeira de forma que tal engenhoca improvisada fosse colocada dando uma falsa impressão de canhões verdadeiros prestes a vomitar fogo. E a medida que o exército inimigo caminhava a passos acelerados pelo leito das linhas do trem da Compainha Mogiana a ansiedade aumentava.
Reconheceu também que um confronto com a soldadesca fiel ao governo federal seria catastrófica em perca de valores humanos e armamentos bélicos. Seria uma temeridade incabível enfrentar o adversário numa luta fratricida em que o inimigo estava armado até os dentes.
Ao se aproximar do local previamente mapeado para o derradeiro ataque contra a unidade paulista, foi enviado um emissário com a missão de reconhecimento para que a operação se revestisse de autêntico sucesso. Mas o espião se surpeendeu com algo que estava fora de cogitação e voltou um tanto cabreiro para junto de seu comandante da unidade getulista:
 “ Chefe, os homens estão armados como nunca e em cada boca de trincheira, brilha o cano de um canhão pronto para vomitar fogo sem piedade sobre nós”. Diante de tão insperada e surpreendente revelação não deu outra: Deram meia volta e bateram-se em retirada embrenhando-se na mata fechada da fazenda Santa Úrsula, marchando em direção ao local onde situa hoje o pedágio de Campinas - Mogi-Mirim, no bairro de Tanquinho, onde houve um grande confronto com perda de vidas preciosas de ambos os lados.
A astúcia do Tenete Cabana funcionou maravilhosamente à base de seus canhões de araque e de mentirinha.
O homem era uma fera e não brincava em serviço.
SEIXAS, M. Ecos de um grande estrategista da Revolução. Jornal Gazeta de Jaguariúna, Jaguariúna,11de nov.2011.  Acesso em 06 de set. 2012.
Diponível em http://www.gazetaregional.com.br/index.php/primeiro-caderno/editorial/1598-ecos-de-um-grande-estrategista-da-revolução.html.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

NOTÍCIAS DO "FRONT"


 
Trechos de uma carta de meu pai, Joaquim Norberto de Toledo Junior (Quincas Gaiteiro),
endereçada a seus pais e publicada no jornal “O MOMENTO”, Diário Independente de Piracicaba em
10 de agosto de 1932.
 

 


 
 
Luiz e Gera, citados na carta, são seus irmãos.
Luiz Bonilha de Toledo e Geraldo Pinto de Toledo.


(Arquivo particular)
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
Pesquisadora da Revolução Constitucionalista de 1932.

domingo, 2 de setembro de 2012

Encontrado outro Voluntário de Jaguariúna: Sr. ALFREDO DE SOUZA


Sr. Alfredo de Souza

 
 
 
ALFREDO DE SOUZA nasceu no distrito de Jaguary, atual Jaguariúna, em 24 de abril de 1914, filho do senhor José de Souza e senhora Alzira de Campos Souza. Casou-se em 1939 com a senhora Mariana Bodini de Souza e tiveram quatro filhos, Doraci de Souza e Silva, José Amâncio de Souza, Isael de Souza e Francisco de Assis Souza também conhecido como Kiko.
O Sr. Alfredo iniciou sua vida profissional aos 14 anos, quando ingressou na Cia. Mogiana, como auxiliar de linha no trecho da estação Guanabara em Campinas até a estação de Jaguary. Mais adiante, transferiu-se para a função de artífice de linha, como carpinteiro, continuando até aposentar-se nesta profissão.
Contou-me o senhor Alfredo, que assim que eclodiu a Revolução, ele começou a lutar por si mesmo, mas depois resolveu  alistar-se como voluntário. Contando 18 anos, foi para a cidade de Amparo e alistou-se no Batalhão 23 de Maio, donde seguiu, em trem blindado, para Minas Gerais passando por Mogi Mirim e Itapira.  Lutou com valentia e bravura. Foi ferido por um projétil que acertou o seu braço, próximo ao ombro, mas mesmo assim não abandonou o campo de batalha. Mesmo ferido, continuou lutando até o final, quando houve o armistício.
Retornou para Jaguary e sentindo-se incomodado com o braço que foi ferido, procurou um farmacêutico que examinando-o descobriu um corpo estranho, um pouco abaixo de seu cotovelo. Passou então por um especialista para retirar aquilo que o incomodava. Quando o médico retirou o corpo estranho de seu braço puderam ver que era o projétil que o havia atingido durante a batalha, que além de “caminhar” por seu braço também estava azinhavrado.
Posteriormente o senhor Alfredo alistou-se no 6º Regimento de Infantaria em Caçapava, onde serviu, de 1936 a 1937, na 1ªCia. de Fuzileiros, na 1ª linha de frente do 1º Batalhão  saindo na 1ª categoria.
 

Declaração de participação na Revolução de 1932.

 



 
Sr. Alfredo e um colega do quartel.
 
 






 
 
 
O senhor Alfredo teve destacada participação na institucionalização de Jaguariúna como município, exercendo as funções de Subdelegado de Polícia e de Comissário de Menores.  Também foi Vereador, como suplente, na legislatura de 1963 a 1966 e como titular, em dois mandatos, de 1967 a 1972.
 














  
Documentos do Sr. Alfredo.
 
 
Nos dias de hoje, com 98 anos, o senhor Alfredo continua morando em Jaguariúna junto com sua família.
 
Entrevistei o Sr. Alfredo em 28 de agosto de 2012.
 
 
 
Agradecimentos
Ao Sr. Isael de Souza e seu filho Alfredo Neto que forneceram fotos e documentos sobre o Sr. Alfredo de Souza e ao Sr. Tomaz de Aquino Pires que informou sobre a participação do Sr. Alfredo na Revolução Constitucionalista de 1932.
 
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA.

  Os homens de cor e a causa sagrada do Brasil   Os patriotas pretos estão se arregimentando – Já seguiram vários batalhões – O entusias...