UMA HEROÍNA DE 32!
Maria Thereza discursando na Assembleia.
Discurso
proferido pela parlamentar, Maria Thereza Silveira de Barros Camargo em sessão legislativa,
na 33ª Sessão Ordinária do Poder Constituinte, realizada em 23 de maio de 1935:
O 23 de maio é, portanto, um dia que fala
eloquentemente ao nosso civismo e que nos toca o coração, porque foi
precisamente nessa data que os paulistas, num belo gesto de independência e de
altivez, readquiriram, sob impulso indômito, sua autonomia, ineptamente
sacrificada. Todavia, aves agoureiras do mal corvejavam sobre nós, buscando
desviar-nos do rumo, prévia e cuidadosamente traçado, obrigando-nos,
consequentemente, a levantar bem alto a nossa sagrada bandeira de
reivindicações, que sintetizava os anseios de todos os brasileiros livres, –
reconstitucionalização. Dado o brado de alarme, o nosso povo, numa edificante e
verdadeiramente maravilhosa transmutação, trocou as suas vestes de operário da
grandeza comum, que lutava firmemente pela concretização de um ideal desde há
muito acalentado e, envergando a túnica do soldado, marchou para o bom combate,
para o combate da redenção, sem a qual não poderia haver progresso e
prosperidade, escrevendo, com o heroísmo dos iluminados, sobre o solo da pátria
angustiada, a página homérica de 9 de julho de 1932.
.Maria Thereza, à esquerda do oficial,
na Cruz Vermelha em Limeira, 1932
Maria Thereza na
Revolução Constitucionalista.
Após
tornar-se viúva do Dr. Trajano de Barros Camargo assumiu a direção da Indústria
Machina São Paulo que, em 1931, constituiu sua gráfica própria, com
equipamentos de um pequeno órgão de imprensa desativado, tornando-se uma das
mais modernas e completas gráficas de todo o Brasil, na época. A Machina
imprimia material de uso próprio, catálogos publicitários, boletins e outros.
Merece destaque que, em 1932, Maria Thereza imprimiu os boletins da revolução
constitucionalista, que eram vendidos em Limeira e região, colaborando com os
soldados revolucionários, com impressão tipográfica em várias cores, e em
policromia. À frente da Machina São Paulo, D. Therezinha participa ainda do
esforço bélico da revolução, produzindo corpos de granadas de mão. Soma-se a
isso o fato de haver prestado grandes serviços ao Curso de Enfermagem, ao
Hospital do Sangue de Limeira e à Assistência às Famílias dos Voluntários,
contribuindo com a campanha de fornecimento de roupas aos soldados que estavam
no front. Foi neste mesmo município que concentrou suas atividades políticas e
sociais, mesmo antes de exercer cargos públicos, tendo fundado, inclusive, a
Associação Cívica Feminina de Limeira.
Um
vasto material deixado por Maria Thereza, referente à sua participação na
Revolução de 1932, sobre sua vida política e também como empresaria está em
catalogação no Museu Histórico Pedagógico Major José Levy Sobrinho. Há também
um projeto de restauro do palacete que pertenceu à sua família que
teve grande importância no ciclo de antepassados e herdeiros do casal Maria
Thereza e Trajano de Barros Camargo.
Prefeita Maria Thereza recebendo o Cônsul da Itália, 1934.
Dados biográficos:
Maria
Teresa Silveira de Barros Camargo nasceu em Piracicaba, SP em 12 de novembro de
1894. Foi uma política e empresária brasileira, diretora da Macchina em
Limeira, SP, fundada por seu marido Trajano de Barros Camargo. Era conhecida
como Dona Teresinha.
Foi
uma das primeiras prefeitas do Brasil, tendo sido nomeada na cidade paulista de
Limeira, em 1934. Também foi a primeira deputada do Estado de São Paulo, eleita
para a Constituinte de 1934.
Viúva
de Dr. Trajano de Barros Camargo, carregou seu legado, assumindo todos os
negócios do marido, incluindo empresas em Santos e Limeira e uma fazenda em
Brotas. Enfrentou as dificuldades da época para as mulheres e mostrou-se
vitoriosa na educação de seus nove filhos (dois deles mortos).
Era
neta do primeiro presidente civil do Brasil, o ituano Prudente de Morais,
nascida três dias antes de sua posse em 15 de novembro de 1894, tendo sido
batizada no Palácio do Itamaraty, onde era a sede do governo. Faleceu em 29 de
julho de 1975 em São Paulo.
Na segunda fila a Deputada Maria Thereza, na Assembleia. |
Realizações políticas e
sociais:
Uma
de suas realizações foi a Escola Profissional Trajano Camargo, criada pelo
governo do Estado em 1933, de acordo com seu pedido. A Machina São Paulo doou
as primeiras máquinas para iniciar o funcionamento da escola. Em reconhecimento
à prestação de seus vários serviços ao município e ao Estado, Armando de
Salles, então interventor federal em São Paulo e futuro governador, nomeu Maria
Thereza Prefeita de Limeira por alguns meses em 1934, tornando-a a primeira
mulher a assumir uma prefeitura no Estado de São Paulo, e uma das três ou
quatro primeiras no Brasil inteiro. Segundo a Câmara Municipal de Limeira, em
seu governo, Maria Thereza calçou as ruas do centro de Limeira, então de terra,
com o próprio dinheiro, uma vez que a prefeitura não tinha verba suficiente. Em
1935, deixou a prefeitura ao ser eleita deputada estadual em São Paulo pelo
Partido Constitucionalista, somando 223.091 votos, no total. Foi uma das duas
únicas mulheres eleitas na ocasião, juntamente com Maria Thereza Nogueira de
Azevedo. Professora de formação, defendeu prioritariamente a Educação durante
seu mandato legislativo. Assumiu a cadeira até 1937, quando a Assembleia
Legislativa foi fechada e os partidos políticos extintos, em decorrência do
Estado Novo. Após o fim deste regime político, em 1945, segundo depoimento de
sua neta Thereza Christina Rocque da Motta, D. Therezinha não se candidatou
mais, porém permaneceu ativa na área
pública, trabalhando sempre nos bastidores,
acompanhando a vida política e cultural brasileira. Filiou-se ao PSD, junto com
Ulysses Guimarães e, quando o partido se associou ao PTB, em 1948.
Já
nas sessões ordinárias ocorridas após o período constituinte, Maria Thereza
utilizou seu mandato para discorrer sobre temas diversos, como a proposta de
anexação do município de São Caetano do Sul à capital paulista, em 1935, de
acordo com clamor de seus habitantes que se sentiam deixados à margem do
desenvolvimento industrial. Em mais de um pronunciamento, também em 1935, a
parlamentar defende o desenvolvimento da sericicultura no Estado de São Paulo,
considerando que a indústria da seda poderia gerar uma grande fonte de renda e,
inclusive, tendo apresentado projeto de lei autorizando o governo do estado de
São Paulo a receber, em doação, terreno oferecido pela prefeitura de Limeira
para a instalação de uma estação sericícola experimental. Em setembro deste
mesmo ano, Maria Thereza Silveira de Barros Camargo faz referência e enaltece a
outra pioneira da representação feminina nas Casas Legislativas: Carlota
Pereira de Queiroz, a primeira deputada federal da história do Brasil, eleita
pelo estado de São Paulo em 1934, que também ocupou seu cargo até o início da
Ditadura do Estado Novo, quando Vargas fechou o Congresso Nacional. Diz a
deputada Maria Thereza: Refiro-me à fulgurante oração da Dra.
Carlota Pereira de Queiroz, proferida na Câmara Federal, em 8 do corrente. Sr.
Presidente, trata-se de uma obra de elevado valor, tanto na forma como no
fundo, em que a insigne artista da palavra, soube, com o fascínio do seu
primoroso talento, colocar a questão das reivindicações femininas em nossa pátria
em seus justos e exatos termos. A preclara representante da mulher, no
parlamento nacional, que teve a fortuna da primazia, no Brasil, de receber essa
alta investidura, e que desempenha com a elegância e a superioridade dignas de
uma paulista de escola (muito bem), acaba de focalizar, magistralmente, um
problema de palpitante atualidade, e que deve, por todos os títulos, figurar
também em nossos Anais, como joia inapreciável de ideias cintilantes engastadas
no ouro de lei de uma forma deslumbrante. (Discurso
proferido na 45ª Sessão Ordinária, realizada em 2 de setembro de 1935).
Fonte.
https://gazetadelimeira.com.br/local/2147489718,
acesso em julho de 2022.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Teresa_Silveira_de_Barros_Camargo,
acesso janeiro de 2023.
http://www.memorias.cpscetec.com.br/arquivos/palestra2020EtecTrajanoCamargo.pdf,
acesso fevereiro2023.
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira
Melo.
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