sábado, 5 de junho de 2021

A PALAVRA DO Dr. PAULO MARIA DE LACERDA À MOCIDADE ESTUDIOSA.

 

CARTA ENVIADA À LIGA PAULISTA PRÓ CONSTITUINTE.

 

O Dr. Paulo Maria de Lacerda, Presidente do Clube 24 de Fevereiro, enviou à Liga Paulista Pró Constituinte a seguinte carta:

 

Rio de Janeiro, 27 de maio de 1932.

Meus jovens colegas da Liga Paulista Pró Constituinte.

A 24 do mês passado, quando saia do Teatro Municipal após a conferência, que acabava de realizar a convite vosso, e via-me cercado por todos vós e grande multidão de meus conterrâneos, levantei um viva a São Paulo livre, correspondido e repetido com formidável emoção. Eu me dirigi, nesse momento aos estudantes, cujo convívio me é sempre tão agradável e cativante pela sinceridade das expressões com que se manifestam, e lhes disse energicamente que desejava, que queria mesmo, que eles conservassem na alma e no coração, os sentimentos nobilíssimos de patriotismo e de amor ao grande Estado onde nasceram e estão concluindo a educação para lutar e vencer na vida, e que tivessem a coragem de manifestar e até afirmar esses mesmos sentimentos. E acrescentei que voltaria para o meio de vós, verificando se deverás, fostes dignos de vós, das vossas famílias, da terra adorável que vos cobriu de benção e carinhos os berços em que vos embalastes.

Aqui nestas linhas preciso expandir a minha satisfação e o mais justo orgulho. Se ainda me não foi dado efetivar aquela verificação, pessoalmente voltando ao vosso grêmio, quero declarar de ânimo comovido, que reconheço haverdes conservado acesos os crisões de tão elevados sentimentos que são os vossos corações juvenis. Mas quero também vos dizer, com sinceridade e admiração que deveis estar vigilantes, prosseguindo no propósito de lutar, heroicamente, como tendes feito, pela Constituição por São Paulo; porque muitos e muitos perigos cercam as vitórias conseguidas por vós, com esforço, constância, abnegação e até com sangue – com o generoso sangue dos meus caros estudantes que, como o dos mártires há de redimir os erros do presente e fecundar o coração paulista e brasileiro para a mais vigorosa germinação dos verdadeiros sentimentos de amor a Pátria consubstanciados na ordem legal, na conquista pacifica, generosa e forte dos estados gloriosos no curso infinito do progresso humano.

Nestas palavras vão as expressões da minha admiração e os mui sinceros cumprimentos do velho colega e amigo – Paulo Maria de Lacerda

 

Esta carta foi publicada no Jornal Folha da Manhã no dia 2 de junho de 1932.

 

Folha da Manhã, 02/06/1932




CLUBE 24 DE FEVEREIRO

Associação fundada em 16 de fevereiro de 1932 no Rio de Janeiro, na sede do Clube de Engenharia, com a finalidade de “incrementar a campanha cívica em prol da volta do país ao regime constitucional”. Sua denominação foi uma homenagem ao dia da promulgação da primeira Constituição republicana, em 1891.

O Clube 24 de Fevereiro foi criado num período de grande agitação política, quando setores de oposição a Getúlio Vargas intensificaram suas pressões no sentido da reconstitucionalização do país. Em São Paulo, em fevereiro de 1932, foi fundada a Frente Única Paulista (FUP), coligação política formada pelo Partido Democrático, pela “ala moça” do Partido Republicano Paulista e pela Liga de Defesa Paulista. No Rio Grande do Sul, a Frente Única Gaúcha (FUG), fundada em 1928, também participou do movimento em favor da reconstitucionalização.

A primeira diretoria do Clube 24 de Fevereiro, escolhida no dia de sua fundação, era constituída pelo general Lauro Sodré, ex-constituinte em 1891, que ocupou a presidência; Paulo Lacerda e Nestor Massena, indicados respectivamente para a vice-presidência e para a secretaria geral, e os tenentes Adacto Pereira de Melo e Luís Albernaz (este último da Marinha), eleito primeiro e segundo-secretários, respectivamente. Luís Ferreira Guimarães e A. B. Machado Florence foram designados para as diretorias de serviços internos e de serviços externos. Entre os membros do clube figuravam o tenente Agildo Barata e José Eduardo de Macedo Soares, proprietário do Diário Carioca.

As medidas punitivas contra o clube se acentuaram no final de fevereiro, quando o capitão Floriano Keller e o tenente Adacto Pereira de Melo foram impedidos de se matricular na Escola de Estado-Maior. Esses dois oficiais e o tenente Flodoaldo Maia, que também era integrante do clube, foram transferidos do Rio, sendo deslocados para guarnições distantes.

A repressão ao Clube 24 de Fevereiro foi uma das causas do pedido de demissão, datado de 3 de março de 1932, do ministro do Trabalho Lindolfo Collor. Em carta a Vargas, Collor criticou, entre outros pontos, o ministro da Guerra, general José Fernandes Leite de Castro, por este ter autorizado a transferência dos oficiais ligados ao clube.

O clube foi dissolvido pela polícia de Vargas no decorrer de 1932.

 

LIGA PAULISTA PRÓ CONSTITUINTE

Organização política criada em fevereiro de 1932 pelos acadêmicos da Faculdade de Direito de São Paulo, sob a liderança de Roberto Vítor Cordeiro. Desapareceu após a rendição das forças constitucionalistas, ocorrida em 2 de outubro de 1932.

Tendo por quartel-general o “velho casarão das Arcadas”, ou seja, o prédio da Faculdade de Direito, situado na praça cívica em que se transformara o largo de São Francisco na capital paulista, a liga foi criada como o “órgão da mocidade independente”, com o propósito de trabalhar pela arregimentação da juventude, organizando-a em batalhões civis militarmente treinados para participar da luta armada que se aproximava.

Através de inúmeros boletins e proclamações, largamente distribuídos na cidade, a liga conclamava os paulistas ligados à causa constitucionalista a comparecerem à sua sede, onde se alistariam no exército civil e receberiam armas. Confiantes na justeza de sua causa, grupos de estudantes distribuíam também panfletos e afixavam cartazes divulgando suas palavras de ordem: “Paulistas: a Liga Paulista Pró-Constituinte concita a juventude ao cumprimento do dever indeclinável de cerrar fileiras em torno do movimento de redenção nacional que ora se inicia.” Os jovens apelavam ainda para que as “mães paulistas” autorizassem seus filhos a se empenhar na defesa da “honra de São Paulo”.

A ação da liga durante a Revolução de 1932 foi intensa. O entusiasmo e a combatividade que uniram os estudantes a ela filiados, identificando-os com os demais agrupamentos políticos empenhados no movimento constitucionalista, não foi capaz de resistir, entretanto, à força militar do governo federal. Após quase três meses de luta armada, São Paulo acabou derrotado.

Com o término da revolução, a maioria das organizações criadas principalmente para alistar os civis paulistas se dissolveu.

 

Jovens da Liga Paulista em manifestação em São Paulo.




Monumento na Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco, São Paulo
 em homenagem aos acadêmicos que morreram durante a revolução de 1932




"A Cabeça", representa o estudante morto na Revolução de 1932,
em bronze, esculpida por Adriana Janacopolis.



Fonte.

Jornal Folha da Manhã, 2 de junho de 1932, acesso 02 de jun.de 2021.

http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/clube-24-de-fevereiro

http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/liga-paulista-pro-constituinte

http://blogdodelmanto.blogspot.com/

 

Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.


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