quinta-feira, 31 de maio de 2018

GUILHERME DE ALMEIDA - POETA DA REVOLUÇÃO


UM DOS 74 QUE O “SIQUEIRA CAMPOS” LEVOU AO EXÍLIO.



GUILHERME DE ALMEIDA POETA E SOLDADO RASO DA CONSTITUIÇÃO.



Por essa bandeira, em cujo louvor recita a sua poesia A Santificada,
Guilherme de Almeida conheceu o exílio.




Guilherme de Almeida foi soldado (Soldado Raso, fez questão de frisar) da 2ª Companhia do 1º Batalhão da Liga de Defesa Paulista, em ação no Setor de Cunha. Aí permaneceu quase até o fim, quando foi chamado a São Paulo pelo General Bertoldo Klinger para dirigir o jornal Trincheiras. De todas as suas poesias sobre a Revolução de 32, a única que realmente escreveu nas trincheiras foi (dito por ele) - A Moeda Paulista. Mas é do seu exílio, que nos fala. Do roteiro, após depor as armas, que começou no dia 10 de outubro.
- Nesse dia, recebemos um chamado telefônico. Deveríamos comparecer à Secretaria da Segurança Pública. Era apenas um convite, e nestes termos bem polidos: Se não puder comparecer não tem importância; venha quando quiser. Assim mesmo não faltou um sequer; todos comparecemos. Eram 72 paulistas, e entre eles, Altino Arantes, Pedro Vilaboim, Aureliano Leite, Assis Chateaubriand, Oswaldo Chateaubriand, Cirilo Junior, Júlio de Mesquita, Francisco Mesquita, Eurico Martins e Vivaldo Coaracy.
Ás 8 da noite, sem qualquer aviso fomos levados para uma estação intermediária da Central, de cujo nome antigo não recordo, mas que hoje se chama Carlos de Campos. Um trem nos esperava, aí, e fomos embarcados. Baby, minha esposa, estava junto, e foi a única mulher que seguiu com a leva dos exilados paulistas. Pelas 10, partimos e me lembro muito bem que lá de fora da noite, de um barranco da estrada, um desconhecido atirou uma pedra que veio estilhaçar o vidro da minha janela, quase atingindo Baby. Foi esta a primeira pedra que nos atiraram.


ZARPA O NAVIO DE MADRUGADA.


A viagem foi longe, a noite inteira e o dia seguinte, sob a guarda de soldados com metralhadoras. Chegamos no Rio quase ao escurecer e desta vez também o trem encosta na estação intermediária de Alfredo Maia.
Ali...
- meteram-nos dois a dois em carros de praça e agentes nos escoltaram até a Casa de Detenção, onde fomos alojados na Sala da Capela – uma sala comprida com camas de ferro. Com o nosso espírito de disciplina, tratamos de nos organizar para a vida em comum, e chegamos mesmo a eleger um mordomo, Silvio de Campos. Assim continuamos até que no dia 31 de outubro, às 9 da noite, Pedro, nosso guarda, veio avisar que íamos partir. Levaram-nos a bordo do Pedro I que sorrateiramente zarpou pelas 4 da madrugada de 2 de novembro. Era um navio sem condições de navegabilidade e viajando fora de rota.


TERNURA, EM LISBOA.


À chegada em Recife, os exilados paulistas foram transportados para o Siqueira Campos, que se afastando das costas brasileiras, os levou sem escala à Lisboa. E então, a 18 de novembro, a acolhida enternecedora, generosa, fraternal fê-los sentir-se, depois de tanto tempo, sob um teto de família.
- Cada um procurou alojar-se como pode, alguns ficando em Lisboa, outros tomando casa no Estoril. 30 dias depois chegava um grupo de esposas de exilados. Os paulistas estavam sempre juntos, em grande harmonia, abraçados pela ternura e pela compreensão dos portugueses. Quanto a mim, deixando Portugal fui mais tarde até a Espanha e a França. A ordem de regresso, no dia 13 de julho de 1933 encontrou-me em Paris. Embarquei de volta ao Brasil, onde cheguei a 30 de julho. Os outros companheiros fizeram o mesmo. Mas Álvaro de Carvalho e Haroldo Pacheco e Silva não voltaram. Morreram no exílio.
Guilherme de Almeida, para manter-se em Portugal, escrevia crônicas, enviando-as para o Diário da Noite, do Rio e o Estado, de São Paulo. Não quis receber a subvenção da Caixa dos Exilados que um grupo de senhoras paulistas organizara, entre elas D. Nicota Pinto Alves e Cota Klingerhoefler. Desistiu em benefício de outros.
Neste relato seco revela-se a têmpera do paulista, que falando do exílio, nem uma vez sequer falou na saudade (que sentiu).



O texto acima é a transcrição de matéria publicada no jornal Diário da Noite em 1957.



Guilherme de Almeida, seus três irmãos e o concunhado,  voluntários constitucionalistas.





Guilherme de Almeida -  O Poeta da Revolução


Um dos homens mais lembrados da história da Revolução de 1932 é o famoso Guilherme de Andrade Almeida, o “Poeta da Revolução”.

Filho de Estevam de Almeida, famoso jurista e professor de direito, Guilherme estudou nos ginásios de Culto à Ciência, de Campinas, e São Bento e Nossa Senhora do Carmo, na cidade de São Paulo. Sua formação foi em direito, pela Faculdade de Direito de São Paulo, no ano de 1912. Nasceu em 24 de julho de 1890 em Campinas, SP.

Além de exercer a advocacia, Guilherme de Almeida também foi um competente jornalista, sendo redator do “O Estado de São Paulo”, diretor da “Folha da Manhã” e da “Folha da Noite”, fundador do “Jornal de São Paulo” e redator do “Diário de São Paulo”.
No ano de 1917, ele publicou seu livro de poesias, “Nós”. Anos depois, em 1922, foi um participante assíduo da Semana de Arte Moderna e seu escritório serviu de redação para os fundadores da revista “Klaxon”, mania da época.

Após auxiliar nesse processo de desenvolvimento artístico e intelectual de São Paulo, Almeida percorreu o país difundindo suas ideias de renovação. Seus livros “Meu” e “Raça”, ambos de 1925, são fiéis à temática brasileira e ao sentimento nacional.

Guilherme de Almeida seria amplamente reconhecido por seu talento com a poesia. Era um grande conhecedor dos versos e da língua portuguesa, sendo, inclusive, um excelente tradutor.  Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy (“Eu e Você”), Rabindranath Tagore (“O Jardineiro” e “O Gitanjali”), Charles Baudelaire (“Flores das Flores do Mal”), Sófocles (“Antígona”) e Jean Paul Sartre (“Entre Quatro Paredes”).

Sua Atuação na Revolução

No ano de 1932, Almeida decidiu que ia ajudar São Paulo como pudesse. Ele desenhou os brasões de armas de várias cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs também um hino a Brasília, quando a cidade foi inaugurada.

Mais do que isso, Almeida foi um combatente da Revolução e, após o fim das batalhas, acabou exilado em Portugal. Anos mais tarde ele seria homenageado com a Medalha da Constituição, instituída pela Assembleia Legislativa de São Paulo.

Sua maior prova de amor ao estado de São Paulo foi o famoso e belo poema conhecido como “Nossa Bandeira”. Entre outras homenagens à cidade, existem os poemas “Moeda Paulista” e a linda “Oração Ante a Última Trincheira”. Também escreveu a letra do “Hino Constitucionalista de 1932/MMDC”, O Passo do Soldado, de autoria de Marcelo Tupinambá, com interpretação de Francisco Alves

Foi membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; do Instituto de Coimbra e da Academia Brasileira de Letras.

Em homenagem aos pracinhas brasileiros, que lutariam na Segunda Guerra Mundial, ele escreveu a famosíssima Canção do Expedicionário, com a música do não menos genial Spartaco Rossi. Ainda em contribuição com São Paulo, Almeida foi presidente da Comissão Comemorativa do Quarto Centenário da cidade de São Paulo.

Guilherme faleceu em 11 de julho de 1969, em sua casa da Rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo – a “Casa da Colina” –, onde residia desde 1946. Adquirida pelo Governo do Estado na década de 1970, a residência do poeta tornou-se o museu biográfico e literário Casa Guilherme de Almeida, inaugurado em 1979, que abriga também, hoje, um Centro de Estudos de Tradução Literária.

Como uma das grandes homenagens póstumas, ele encontra-se sepultado no Mausoléu do Soldado Constitucionalista de 1932, no parque do Ibirapuera.  Além dele, figuras como Ibrahim de Almeida Nobre, o “Tribuno de 32”; os jovens conhecidos pela sigla M.M.D.C. e do caboclo Paulo Virgínio.





Guilherme de Almeida com sua esposa Baby e seu filho Guy em 1938.




Guilherme de Almeida trajando seu fardão da Acadêmia Brasileira de Letras.








Medalha gravada com o poema de Guilherme de Almeida. (arquivo pessoal)






Fonte.

Jornal Diário da Noite, Edição Especial, 9 de julho de 1957 (Arquivo pessoal)

http://www.saopauloinfoco.com.br/guilherme-de-almeida/




Editado e publicado pro Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
31/05/2018.


terça-feira, 22 de maio de 2018

JOVENS SOLDADOS CONSTITUCIONALISTAS.




Dia 23 de Maio é o dia em que se comemora o DIA DA JUVENTUDE CONSTITUCIONALISTA, é uma data muito importante para a democracia brasileira, pois nesta data em 1932, quatro jovens paulistas Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – Mario Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo de Camargo Andrade - foram mortos, num confronto durante uma passeata na área central da Capital paulista, quando se manifestavam contra a ditadura. Este fato foi um dos motivos para antecipar o início da luta armada contra o governo ditatorial e a favor de uma Constituição.
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (MMDC) tombaram em nome da liberdade, estas mortes não foram em vão e hoje têm seus nomes gravados no Livro dos Heróis da Pátria (Lei 2430 de 20 de junho de 2011).








Em homenagem a estes bravos jovens guerreiros e a todos os Soldados Constitucionalistas publico uma série de fotografias, feitas por jornalistas em campos de batalhas, que foram publicadas em jornais em 1932 durante a Revolução.
Estas imagens foram gravadas em momentos de repouso na retaguarda ou intervalos das duras batalhas, são imagens em diversos Setores de Combates, sem especificar localização ou nomes de combatentes, com exceção da última fotografia.



PAULISTAS EM ARMAS NA DEFESA DA LEGALIDADE!






































Oficiais sentados: Capitão Marcos Ribeiro Filho, 
Tenente Paschoal Ranieri Mazzili e Tenente Alcides de Araujo Vargas e,
 em pé, Tenente João Alves Ribeiro e Tenente Antonio Rebouças.





Nossas honras aos Jovens Combatentes de 32!!!!!!

"Pin" que pertenceu a meu pai, Voluntário Joaquim Norberto de Toledo Junior.


Fonte.
Jornal “Diário da Noite”, Edição Especial 09/07/1957. (Arquivo pessoal).




Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
22/05/2018.




                                        

sábado, 12 de maio de 2018

HOMENAGEM ÀS MÃES. (2018).





UMA CARTA DO FRONT.

UM SOLDADO DE 32 ESCREVE À SUA MÃE.


Mãezinha querida:
A senhora não tem razão de culpar-me por falta de inspiração nestes belos campos à margem do Paraíba, onde tanto corri na minha criancice.
Como poderei achar majestosas estas montanhas, sabendo que em seu seio se desenvolvem sangrentos combates entre irmãos, quase todos maltrapilhos, sofrendo fome e frio? – e onde o canto da Araponga foi substituído pelo ruído das metralhas e dos canhões?
Como poderei achar encantadores estes riachos, estas cascatas que nos cercam por todos os lados, sabendo que as águas cristalinas e puras correm manchadas com o sangue de nossos heróis?
Como poderei achar divinas estas manhãs cheias de orvalho, que me lembram lágrimas saudosas de mães, esposas, irmãs e noivas, que são, nesta luta toda, as verdadeiras mártires?
E estas noites escuras que amortalham os que tombam no campo da luta pela honra e pela lei?
Só mesmo quando terminar esta carnificina e as Arapongas voltarem para as montanhas, as cascatas despejarem novamente suas águas cristalinas e puras, como pura e cristalina São Paulo quer a Nação, as manhãs cheias de orvalho relembrando as lágrimas saudosas das mães, esposas, irmãs e noivas; mas como disse Gonçalves Dias, um dos maiores poetas brasileiros no seu admirável poema I Juca Pirama - estas sim são lágrimas que não desonram.
Tudo corre bem para São Paulo e para mim, está breve o fim, e então, terei a imensa satisfação de voltar para os seus braços, - como o I Juca Pirama voltou para os braços do seu velho pai.


Em agosto de 1932 o Sargento Numa Leme Ramos escreveu do Túnel, à sua mãe. Esta carta foi publicada no Jornal A GAZETA em 1954.


Nesta face do Monumento a representação do Soldado de 32
 na hora da despedida de sua mãe, esposa e filho.



Fonte.


Jornal A GAZETA, 09 de julho de 1954. (Arquivo pessoal)

Imagem – 2º Núcleo de Correspondência Voluntários de Piracicaba






O 10º NÚCLEO DE CORRESPONDÊNCIA TRINCHEIRAS PAULISTAS DE 32 DE JAGUARIÚNA DESEJA UM FELIZ DIA À TODAS AS MÃES!!!!









Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.

12/05/2018.



quarta-feira, 9 de maio de 2018

EXCERTO DE UM DIÁRIO - 1932.





Neste texto que transcrevi, não há registro do autor na publicação do jornal. É uma narrativa, da ocasião em que o Comandante Romão Gomes e seus auxiliares, foram surpreendidos por uma tropa de soldados ditatoriais na Capital paulista. Pela leitura, cheguei à conclusão que o autor seria o jornalista Machado Sant’Anna, citado no texto e participante do acontecimento do dia 28 de setembro de 1932.




DO PALÁCIO PARA A ENXOVIA COM MEIA HORA DE INTERVALO.



EXCERTO DE UM DIÁRIO.


28 de Setembro de 1932.

Lutávamos agora no Setor de Campinas, para onde convergiam as tropas vindas dos Setores da Alta Mogiana, de Casa Branca e de Eleutério. Bem cedo, no Q.G. disse-nos o Comandante Romão Gomes que deveríamos preparar-nos para seguir, em sua companhia, dentro de minutos para a Capital, com os Tenentes Dirceu Coelho e Alcino Teixeira Leite.
O semblante pensativo do Comandante em chefe daquela frente e a sua sisudez e principalmente por estar pouco comunicativo, pra com que a viagem decorresse um tanto desconcertante, não que procurássemos, com aquele espirito jovial de sempre, contornar a situação. Bem que a -------amos (inelegível) nada agradável e que as Forças Federais, sempre reforçadas, tinham-nos obrigado a recuar, exatamente quando estávamos conseguindo os maiores êxitos na frente de Poços de Caldas, pois chegáramos a penetrar em território mineiro 10 dias antes no alto da Paulicéia.
Na Capital o Comandante Romão Gomes, após breve refeição disse-nos que iriamos ao Palácio do Governo. No Pátio do Colégio deixamos o carro ao lado do antigo Colégio dos Jesuítas e subimos as escadarias aguardando apenas a entrada no Salão Nobre onde deveríamos ser recebidos pelo Governador Pedro de Toledo.
O momento intensamente esperado chegou e vimos o ancião de olhar sereno, imperturbável, grave que, abraçando Romão Gomes, disse comovido:
- Meu grande amigo e grande Comandante. Somos gratos pela sua campanha. Queria faze-lo hoje o Comandante da Força Pública para a reação......
Romão era homem rude, simples, sem muito palavreado, mais adstrito à tropa, e que aprendera a ler aos 21 anos, quando entrou na Força Pública. Empertigou-se e respondeu:
- Senhor Governador, aqui estamos para receber ordens. Defenderemos nossas posições até o último homem.
Depois, a palestra tornou-se cordial e Romão Gomes apresentou-nos:
Senhor Governador. Este tem sido meu braço direito, meu amigo e companheiro, Dirceu Coelho, casado, com filhos e vem lutando desde a primeira hora. Este outro, advogado, casado, faz parte de meu Q.G., é Alcino Teixeira Leite, meu colega da Faculdade. Finalmente este é o jornalista Machado Sant’Anna, com quatro filhos, que entrou como voluntário e agora faz parte do meu Estado Maior.
A todos, o Governador paulista teve uma palavra de simpatia, cumprimentando-nos. Era vista formal, mas jamais possível de ser olvidada. Estávamos vivendo um momento dramático na vida de São Paulo. Romão Gomes passa a outra saleta e conferencia alguns minutos com o Dr. Pedro de Toledo e ao sair disse-nos que deveríamos retornar com urgência para Campinas. Antes iria rever sua esposa e filhos, dos quais já estava separado desde o dia 9 de julho.
Rumamos para o bairro de Santana e ao atravessar a Ponte Grande, surgiram vários soldados de fuzil em posição de tiro, fazendo o carro parar. Dirceu Coelho, rápido, desceu do carro e disse enérgico:
- Afastem-se. é a escolta do Comandante Romão Gomes!
Foi um “ah”! e imediatamente ficamos cercados por todos os lados, enquanto um fuzil era colocado nas nossas costas, já dois deles subiam ao estribo e comandavam: -Para o Quartel! fazendo com que fossemos em marcha lenta, seguindo mais de 30 homens, ao nosso lado, berrando e alucinados. Com efeito erámos presa preciosa e Romão disse apenas: - Fomos traídos! É o fim!
A entrada do Quartel do antigo 4º B.C. em Santana, fomos recebidos por um oficial, o Cap. Campelo, do Exército. Era o comandante da praça. Apresentados, pediu-nos as armas e os documentos. Romão e Dirceu foram recolhidos em uma cela, enquanto que, com Alcino Teixeira Leite e mais atrás, meu cunhado e meu sobrinho, também detidos, pois estavam nos acompanhando até a saída, fomos colocados em outra cela. Eram exatamente 15 horas. Tínhamos subido aos céus, pouco antes no Palácio do Governo do Estado. Ali fomos honrados com a palavra e o cumprimento do chefe do governo paulista. Meia hora depois, sofrendo o duro golpe de um completo desencanto, refreando a indignação, o ódio mesmo, mas impotente para qualquer reação. Se quer pudéramos esboça-la tal o imprevisto. Quem poderia supor que em pleno coração de São Paulo, centro da Revolução Constitucionalista pudesse um de seus comandantes de maior prestigio ser apanhado como se estivéssemos em guerra de meninos de grupo escolar...
Um soldado, meio embriagado, cara enfezada, chegou à porta de nossa cela e fazendo uma careta, dentro da covardia natural de todo aquele que se sente seguro e sem poder ser alcançado, bradou os desaforos naturais que só poderiam vir de quem era. Alcino, advogado, maneiroso, ainda se chegou a ele e prometeu-lhe dinheiro, só para avisar a família. Deu uma risada histérica: - Família? vocês não verão mais família, nem coisa alguma. Vão ser todos fuzilados. Nós vencemos a revolução desde hoje cedo. A Contra Revolução está vitoriosa...
Corriam, vagarosamente as horas e todos nós, na ignorância, pois, havíamos sido “depenados” e ninguém tinha um relógio para conhecer o tempo. Também não nos importava muito. Que poderíamos esperar?
Noite fechada, sem água, sem comida, mais ou menos cerca de 10 horas, um oficial chegou a nossa cela e mandou que saíssemos. Dali fomos levados à presença do Capitão Campello. Disse-nos que estávamos livre e deveríamos retornar às nossas casas.  “A Revolução, disse-nos, está terminada”.
Cerca de meia noite. Chegamos no Q.G. do General Klinger. Um oficial informou que o Comandante Romão Gomes tinha seguido para Campinas. Pedimos condução. Declarou que somente de manhã...
Terminava o dia 28 de setembro, o verdadeiro dia da derrota paulista dentro da própria Capital de São Paulo.


















COLUNA ROMÃO GOMES


No dia 10 de julho de 1932 desfilava pelas ruas da capital paulista como capitão do 1º Batalhão Paulista de Milícia Civil - 1º BPMC, cujos integrantes eram na maioria civis voluntários para a defesa da causa Constitucionalista. O seu 1º BPMC acumulou sucessivas vitórias no campo de batalha ao longo do conflito, tendo sido composto no início por cerca de 450 homens e tendo apenas 15 baixas durante os combates, dentre as quais, somente 3 mortos.
Ainda no início do conflito, ao seu batalhão incorporaram-se outros mais, resultando na lendária “Coluna Romão Gomes”. Esse agrupamento de batalhões atuou no Setor Leste, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, em cidades como São José do Rio Pardo, São João da Boa Vista, Águas da Prata, Caconde, São Sebastião da Grama, Casa Branca, entre outras. A Coluna cunhada por seu nome, recebeu também a alcunha de “Coluna Invicta” e também tornou-se lendária por jamais ter perdido uma batalha ao longo de toda aquela campanha militar. Nesse setor, ele chegou a levar os combates contra as tropas federais ao interior do território mineiro, onde construiu fama de liderança, bravura e ainda de invencibilidade, por acumular sucessivas vitórias em batalhas contra as tropas de Getúlio Vargas. Somente retrocedeu suas linhas de defesa por cumprimento de ordens superiores, que buscavam retificar infiltrações nos flancos de modo a evitar o envolvimento às tropas paulistas.





Fonte.


OLIVEIRA, B. F., Revolução Paulista de 1932; Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais Ltda, São Paulo, 1950, 135p.


Jornal Diário da Noite, Edição Especial, 09 de julho de 1957 (Arquivo pessoal.).




Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
09/05/2018.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA.

  Os homens de cor e a causa sagrada do Brasil   Os patriotas pretos estão se arregimentando – Já seguiram vários batalhões – O entusias...