Antonio Dourado, hoje delegado de Polícia, vestiu a farda e seguiu em 32 no 2º Pelotão da 2ª Companhia do Batalhão 9 de Julho, o Batalhão Acadêmico, que foi um dos baluartes do Sul. Era estudante de Direito e tinha 21 anos, variando a idade de seus companheiros de 20 a 25, e havendo entre eles dois menores, de 16 anos, RICARDO GONÇALVES e BRUNO MELO TEIXEIRA. Como faltassem oficiais, deliberou-se que os próprios componentes dos pelotões escolhessem um companheiro para fazer o curso de emergência que o Prof. Jorge Americano dirigia. No 2º Pelotão, Dourado foi escolhido e comandou. Ele nos conta o roteiro seguido:
“Fomos inicialmente para Itararé onde o Batalhão Acadêmico guarneceu o Setor Sul, ao lado do 8º Batalhão da Força Pública, que se salientou por sua bravura. Pouco ficamos aí porque um espião, que era fogueteiro, soltou foguetes para assinalar ao inimigo o flanco mais fácil de ser atacado, rompendo assim a resistência. As tropas tiveram então de recuar para Faxina, hoje Itapeva, onde as moças e senhoras nos receberam com flores – uma flor na boca do fuzil de cada soldado.
Mas a topografia não se prestava para a defesa, e fomos plantar a nossa resistência em Buri, cabendo ao Batalhão 14 de Julho fazer a cobertura do Setor de Fundão, a fim de evitar que os ditatoriais, dando a volta por Capão Bonito, atacassem as nossas tropas pelas costas. Foi aí, em Fundão, que tivemos os nossos primeiros e grandes combates, rompendo a fuzilaria de encontro ao grosso de uma tropa gaúcha”.
Foi aí que quatro soldados de capacetes, num assomo de renúncia à vida, saltaram das trincheiras e com galhos de árvores apagaram o capinzal incendiado, cuja fumaça vinha protegendo o avanço inimigo. Eram estes bravos o TENENTE DOURADO, WALTER MERIGO, ARNALDO LERRONI e JOSÉ FERRARI.
- “Neste combate – diz Dourado – morreram, atingidos pelo impacto de uma granada, três jovens do nosso pelotão, ALONSO DE CAMARGO, irmão de LAUDO DE CAMARGO, LAURO DE BARROS PENTEADO e RUBENS FRAGA DE TOLEDO ARRUDA. Este tinha mais dois irmãos lutando, sendo que um deles, FERNANDO, estava perto de mim. Ao lhe comunicarem que RUBENS tinha morrido, mordeu os lábios até fazer sangue gritando – “Não faz mal, que seja por São Paulo!” e continuou atirando. Quanto a LAURO DE BARROS PENTEADO, com o rombo aberto nas costas pelo impacto da granada, mesmo assim, ferido, ditou duas cartas, o adeus à mãe e à noiva.
O Batalhão 9 de Julho seguiu depois para um repouso em Itapetininga, e mandado a esta Capital para o desfile de 7 de Setembro, regressou logo para o Sul, guarnecendo a celebre linha Rio das Almas Paranapanema, no Setor de Serrado, onde tiveram lugar batalhas acirradas, perdendo-se muitas vidas do Batalhão 14 de Julho. Do nosso pelotão, morreu CLINEU GUIMARÃES.
Foi então que o comando da Força Pública fez acordo em separado, ordenando que se retirassem os batalhões da corporação. A linha de frente foi invadida e os batalhões de voluntários, impossibilitados de continuar o combate, tiveram de se retirar, cessando as hostilidades”.
As batalhas mais duras do Batalhão 14 de Julho foram as de Serrado e Fundão, sendo que nesta frente os soldados do 2º Pelotão chegaram a ficar 12 dias na trincheira, dormindo encharcados. No sul havia muitos batalhões de voluntários, entre eles o “Borba Gato”, “Cavalaria do Rio Pardo”, o “Batalhão do Brás”, o “Batalhão Estrangeiro” e a “Legião Negra”. “A Causa Constitucionalista arregimentou mais homens que a Revolução Francesa e ganharíamos se não faltassem armas e munições. Mas neste ponto o combate foi desigual. Tínhamos no Sul apenas um canhão contra mil dos adversários. Não possuíamos também aviões e sofríamos continuados bombardeios dos “vermelhinhos”, os aviões ditatoriais. Não tendo da mesma forma metralhadoras antiaéreas, voltávamos para o ar a boca do fuzil, abrindo fogo contra os aviões incursores. E muitos foram assim abatidos”.
Transcrição de publicação do Jornal Diário da Noite, 1957.
2 Voluntários: |
Os gaúchos caem na emboscada que lhes prepararam os soldados do 2º Pelotão. Nota-se o oficial da brigada sul rio-grandense de talabarte e pé no chão |
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As legendas das fotografias são as originais, publicadas no jornal. As imagens, algumas inéditas, não são muito nítidas porque o jornal está desgastado pelo tempo.
Fonte.
Jornal “Diário da Noite”, edição Especial, 09 de julho de 1957. (Arquivo pessoal).
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
04/02/2018.
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