segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O GLORIOSO 4º BATALHÃO DE CAÇADORES DO EXÉRCITO.



Parte I



Esta é uma transcrição do artigo escrito pelo Major Esdras Chaves que foi publicado no jornal “A Gazeta” em 1957.



“UMA REPARAÇÃO NECESSÁRIA”.


“O GLORIOSO 4º BATALHÃO DE CAÇADORES NA EPOPÉIA PAULISTA DE 1932”.








Entre os vivas, consagrações, homenagens e narrativas, vimos que, pelo fato de seus ex-componentes se encontrarem, ainda, em sua maioria, fazendo parte do Exército Ativo, e, assim, relativamente inibidos de se pronunciarem, publicamente, sobre um movimento que não deixou de ser político, pelo menos em parte, ninguém tratou da atuação do tradicional, glorioso e invicto 4º Batalhão de Caçadores, do Exército, componente das tropas da II Região Militar, com outras Unidades.Mas, é preciso que a geração atual saiba que, mesmo antes de 9 de Julho, lá pelas 22 horas do dia 8 do mesmo mês, já os componentes daquela Unidade do Exército estavam revoltados, recebiam munição para os combates da Revolução Constitucionalista!
Às 22 horas do dia 8 de julho, o pátio do 4º B.C. ia ficando repleto de caminhões enviados pelas repartições do Estado e da Prefeitura, ao mesmo tempo que os oficiais, todos integrados e conscientes das razões do Movimento Constitucionalista, reuniam seus subordinados, explicando-lhes os motivos da revolução. Ninguém estava com a ditadura! Então, o glorioso 4º Batalhão de Caçadores, do Exército, “em peso”, estava de pé para dar os primeiros passos em favor da grandiosa epopéia, que agora se comemora no Jubileu de Prata!

FOMOS, ASSIM, A PRIMEIRA TROPA A SE REVOLTAR! PRIVILÉGIO ESSE AO QUAL O 4º BATALHÃO DE CAÇADORES NÃO DECLINA PARA NENHUMA OUTRA UNIDADE! ASSIM COMO AQUELA VALOROSA UNIDADE DO EXÉRCITO, QUE JÁ HAVIA COMBATIDO CONTRA A REVOLUÇÃO DE 1930, ARCOU COM AS RESPONSÁBILIDADES DO BRADO DA REVOLTA, DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA, DEVE, AGORA, MERECER OS LOUROS DO RECONHECIMENTO! LAMENTO QUE SEJA UM DOS MAIS MODESTOS DE SEUS COMPONENTES QUE TENHA QUE TOMAR ESSA ATITUDE, MAS QUE SE JUSTIFICA! CONSEQUENTEMENTE, PAULISTAS, DE NASCIMENTO E DE CORAÇÃO, AO DESFILAR, EM QUALQUER TEMPO, O GLORIOSO 4º BATALHÃO DE CAÇADORES, LEMBRAI-VOS DE QUE ESSA UNIDADE DO EXÉRCITO MUITO CONCORREU PARA ESCREVER AS PÁGINAS GLORIOSAS DA HISTÓRIA DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE SÃO PALO, EM 1932!

Pois, muito bem municiada a tropa, aguardou-se, por algumas horas, possíveis reações de elementos da Força Pública de São Paulo, que, felizmente, não houve. Mas, o mesmo não aconteceu com as Unidades de Guarnição Militar, de Quitauna, atualmente, Duque de Caxias, pois, seria mais ou menos meia noite do dia 8 do citado mês, quando o 4º B.C. recebeu ordens de se deslocar para aquela Guarnição, em apoio às unidades revoltadas, face à indecisão de alguns elementos. Por isso, chegamos a tomar posição para qualquer eventualidade, mas, após entendimento entre os oficiais do 4º B.C. e os daquelas Unidades, também do Exército, cujos detalhes desconhecemos, tudo se harmonizou, sem necessidade de um tiro.
Regressamos, então, à sede do 4º B.C. que era na rua Alfredo Pujol, em Santana, onde, atualmente, se encontra aquartelado o C.P.O.R. de São Paulo. Ali foi distribuído a refeição do café a todos os elementos que, sem demora, partiram, em seguida, nos já citados caminhões, com destino ao Rio de Janeiro, cobrindo a rodovia São Paulo – Rio, até Mogi das Cruzes, onde almoçamos e aguardamos novas ordens.
É necessário esclarecer, ao passarmos pelas ruas do Brás e da Penha, dando vivas à Revolução Constitucionalista, morras à ditadura, notava-se a surpresa do povo, que ainda não tinha tomado conhecimento do movimento revolucionário. Eram as primeiras horas do dia 9 de julho e o povo, evidentemente, não tivera tempo, ainda, para se informar do que estava se passando... Faça-se a história como se deram os fatos, não com fantasias e devaneios, principalmente ao tratar da parte militar da história!

Após uma noite geladérrima nas imediações de Mogi das Cruzes, o 4º B.C., mediante ordem de escalão superior, partiu com destino à Taubaté e Guaratinguetá, ainda cobrindo o eixo rodoviário São Paulo – Rio de Janeiro, com várias missões, das quais se destacavam as de cobertura do litoral, nos setores de Cunha – Campos Novos de Cunha – Parati e outros, para os quais foram destacados elementos da referida Unidade, sob o comando de seus oficiais.
Em Cunha, o 4º Batalhão de Caçadores, que fazia parte das tropas do Destacamento Tenente Coronel Mario Abreu – que atuava no Vale Paraíba – contou com o inestimável apoio dos bravos batalhões de voluntários da “Liga de Defesa Paulista” e “Legião Negra”, que faziam parte da tropa encarregada do Setor Cunha, toda sob o comando do então Capitão do Exército Artur de Azevedo Marques O’Reilly, que exercia, nessa ocasião, o comando do 4º B.C.
E, certamente, em Cunha, ocorreu uma das mais brilhantes vitórias das forças constitucionalistas. Nesse particular, vejamos o que escreveu o ilustre professor Alfredo Ellis Junior:
...” Assim foi o Movimento de 32: perdemos quase todas as batalhas, pois a não ser a rutilante vitória de Cunha (em que tomei parte), e algumas investidas felizes do grande e saudoso Romão Gomes, as nossas armas só conheceram derrotas”. (A Gazeta, edição comemorativa de 9-7-1957).
É que, realmente, encontramos Cunha completamente deserta, abandonada pela sua população. As famílias locais, por serem paulistas, ficaram apavoradas com a aproximação das tropas da ditadura, presumindo pudessem ser vítimas de represálias. Daí procuraram refúgio no mato e nas fazendas vizinhas da cidade.
Efetivamente, das elevações dominantes da cidade partiam, constantemente, rajadas de metralhadoras ditatoriais, enfiando as ruas perpendiculares à rua principal daquela cidade. Assim, o ambiente era de completa inquietação. Os soldados eram obrigados a atravessar as ruas, correndo ou aos lanços, arriscando, ainda assim, a vida a todo momento. Por isso, urgia uma providência para modificar aquela situação criada pelos Fuzileiros Navais e outras tropas das forças ditatoriais, que haviam, antes, desembarcado no litoral e procuravam se aprofundar no território paulista, naturalmente visando atingir e interceptar o eixo rodoviário São Paulo – Rio.

Após uma reunião do Estado Maior do 4º B.C. deliberou-se atacar os fuzileiros: numa manobra brilhante de envolvimento pala retaguarda, de surpresa, aproveitando a escuridão da noite para o deslocamento, a Companhia do glorioso 4 º B.C., sob o comando do então Tenente Waldomiro Meirelles Maia, cuja bravura, sangue frio e capacidade profissional eram de todos conhecidas, de madrugada, atacou pela retaguarda, para onde em tempo, deslocara sua tropa, os Fuzileiros Navais, que não tiveram capacidade para reagir, senão por pouco tempo, e, em debandada, abandonaram suas posições, deixando mortos, que sepultamos, grande quantidade de material, troféus, de maneira que, ao raiar do dia, Cunha se achava livre e os pracinhas de posse de várias lembranças da batalha, apanhadas no local do combate, deixadas pelos navais... Não tivemos uma baixa, nem feridos se quer, graças à capacidade profissional dos bravos oficiais do 4º Batalhão de Caçadores!... Eis “a rutilante vitória” a que se refere o Prof. Alfredo Ellis Junior, naturalmente descrita em largas pinceladas...
Realmente, considerando que já encontramos as tropas adversárias em suas posições, que, assim, escolheram as condições topográficas mais vantajosas, com perfeito comandamento de fogos e vistas sobre a cidade de Cunha, que corríamos o risco de completo envolvimento e consequente massacre ou do corte das nossas comunicações, pela intercepção da única via rodoviária que nos permitiria a ligação com Guaratinguetá, a vitória de Cunha, que corríamos o risco de completo envolvimento e consequente massacre ou do corte das nossas comunicações, pela intercepção da única via rodoviária que nos permitiria a ligação com Guaratinguetá, a vitória de Cunha foi, taticamente, uma grande vitória.
Em consequência da vitória de Cunha, e, como os ditatoriais desapareceram de vista a ponto de não permitirem a operação militar de perseguição, o 4º B. C. avançou cerca de 40 quilômetros, tomando novas posições, deixando Cunha bem à retaguarda, acantonado no povoamento de Brumado.
Em suas novas posições o heroico 4º B.C. sustentou novos e vigorosos combates. Esteve sob longo e intenso fogo de artilharia inimiga, pois, em face da derrota sofrida em Cunha, os ditatoriais procuraram reforçar-se e naturalmente obtiveram apoio da tropa de artilharia, ao passo que o 4º B.C. apenas, contou com as celebres bombardas, improvisadas pela indústria paulista, que, de nenhuma forma possuíam o alcance nem o potencial de fogo das peças regulares da artilharia do Exército! Mesmo assim, nunca se deu um passo à retaguarda! O moral dos oficialidade era bastante elevado! A atividade era muito grande, particularmente do então Capitão Carlos Coelho Cintra, que desempenhava as funções de subcomandante do 4º B.C., suprindo-se, dessa maneira, as deficiências materiais com a coragem e sangue frio do pessoal!
Entretanto, lamentavelmente, vimos tropas regulares, que não do Exército, abandonar, sem qualquer pressão do adversário, suas posições nas trincheiras... Vimos, também, o dinâmico e enérgico Capitão Carlos Coelho Cintra, com decisão, ordenar que as mesmas retornassem às suas posições, no que foi, felizmente, obedecido! Naturalmente, não era covardia, mas o começo do fim...
Todavia, devemos destacar, o glorioso 4º Batalhão de Caçadores não sofreu nenhuma derrota militar! Jamais recuou sob pressão das tropas da ditadura!
Infelizmente, porém, em virtude de recuos noutros setores, e como não podia haver solução de continuidade na linha de combate das tropas constitucionalistas, recebemos ordem de recuar para novas posições de modo que tivemos que abandonar posições conquistadas com tanta bravura e sacrifício! Todos lamentaram a necessidade de cumprir as ordens superiores para recuar... Assim, recuamos para muito aquém de Cunha, até a serra do Quebra Cangalha, onde, dias depois, fomos colhidos pelo armistício, e consequente deposição das armas...
O 4º B. C. que disciplinadamente combateu, agora, disciplinadamente, obedecia a ordem de seus superiores hierárquicos para entregar as armas da Fazenda Nacional. Ainda, aqui, não houve debandada: os elementos do Batalhão “Liga da Defesa Paulista” e da “Legião Negra”, isto é, a tropa voluntária, evidentemente, procurou, da melhor forma retornar aos seus lares, mas o pessoal do 4º B.C. inicialmente foi mantido preso sob palavra no mesmo local, e no dia seguinte foi escoltado para Guaratinguetá, onde pernoitou sob escolta, seguindo no dia seguinte para Lorena, onde permaneceu preso no Quartel do Exército ali existente. A tropa se manteve ao lado da oficialidade até os últimos instantes, até que, em caminhões, desconfortavelmente, foram conduzidos presos para o Rio de Janeiro. Separavam-se, assim, os oficiais de seus subordinados.
Algumas semanas depois, por decreto, era então, extinto o glorioso 4º Batalhão de Caçadores, e expulsos das fileiras do Exército todas as suas praças... Nessas condições, quem faz a presente narrativa, bem como seu irmão, que era voluntário daquela Unidade, hoje Comendador Natan Chaves, deixavam de pertencer ao heroico 4º Batalhão de Caçadores do qual fizeram parte durante todo o tempo da Revolução Constitucionalista! ...
Por outro lado, é necessário ressaltar, o oficial das Forças Armadas, quando da ativa e de carreira, ao tomar parte num movimento revolucionário, põe em jogo todo o seu futuro. Pois bem, paulista, esse risco correram os bravos oficiais que compunham o referido 4º Batalhão de Caçadores, assim como os seus sargentos e graduados que foram expulsos! Mas, principalmente os oficiais estiveram presos por longo tempo, foram prejudicados em suas carreiras, de maneira que merecem, sempre, a gratidão do povo paulista, pois foram os principais artífices das glórias e do conceito em que hoje é tido o São Paulo Constitucionalista de 1932!
 No que tange ao 4º Batalhão de Caçadores, pelo que nos lembramos, merecem ser destacados os seguintes oficiais: Tenente-Coronel Mario da Veiga Abreu, seu comandante ao deflagrar a Revolução Constitucionalista: Capitão Artur de Azevedo Marques O’Reilly, que logo passou a comandar a referida Unidade; Capitão Carlos Coelho Cintra, que exerceu as funções de subcomandante do 4º B.C. Este oficial trabalhava dia e noite, esgotou-se a tal ponto que era necessário a aplicação de injeções para dormir durante a campanha. Foi incansável e um bravo decidido revolucionário. Seu lugar é ao lado dos irmãos de ideal no Monumento do Ibirapuera! Os então Tenentes: Abílio da Cunha Pontes, Carmelo Batista da Silva, Euryale de Jesus Zerbine, Luiz Tavares da Cunha Melo, Waldomiro Meirelles Maia, Heitor Mandonesi, Murilo Araújo, Wallenstein Teixeira de Mendonça, Wlademir Fernandes Bouças, Luiz Gonzaga Cardoso de Ávila, Argemiro de Assis Brasil, Fernandes de Almeida Cezar, João Cavalcanti de Albuquerque Tabajara, Murilo Teixeira de Barros, José Porfirio Lobo, Haroldo Bueno, Eduardo Confúcio da Cunha Bastos, e da Reserva, João Cunha Rudge e Agostinho Camargo da Silva, e outros que não nos lembramos.
Assim, cada um desses oficiais, hoje em sua maioria Coronéis e Tenentes- Coronéis do nosso Exército, devem merecer a consideração dos paulistas, porque desinteressadamente, por um ideal apenas, sacrificaram-se, sacrificaram suas carreiras e concorreram para escrever a página gloriosa da história constitucionalista de São Paulo de 1932.
Finalmente, cabe não esquecer, anos após a referida revolução, como Major do Exército, faleceu Carlos Coelho Cintra.
Carlos Coelho Cintra, indiscutivelmente, foi a viga mestra que impulsionou o bravo 4º Batalhão de Caçadores durante todo o Movimento Constitucionalista de1932! Por isso, seu lugar, como preito de gratidão dos paulistas, é no Mausoléu do Ibirapuera, berço dos combatentes, dos que lutaram em prol do ideal constitucionalista de 1932! Carlos Coelho Cintra morreu prematuramente, tendo para isso concorrido, em muito, o desgaste que sofreu pela luta da vitória das armas constitucionalistas!
Assim, ao ser comemorado o próximo 9 de Julho de 1958, que se promova a remoção de seus restos mortais para o Ibirapuera. Que os dirigentes da Sociedade M.M.D.C. investiguem a conduta de Carlos Coelho Cintra, antes, durante e após a referida Revolução e, certamente, concordarão em conduzir, no próximo ano, solenemente, seus restos mortais para ocupar o lugar que merece entre seus irmãos de ideal da Revolução Constitucionalista de 1932!
Eis outra reparação que se faz necessária.
São Paulo, 12 de julho de 1957.




Fonte.
Recorte do Jornal “A Gazeta” de 17 de julho de 1957. (Arquivo pessoal)



Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
26/02/2018





sábado, 17 de fevereiro de 2018

“EU FUI DO 1º BATALHÃO DO REGIMENTO 9 DE JULHO”.








O toque impressionante do milagre na fuga de um Soldado Constitucionalista da Batalha de Amparo, cativo com toda a vanguarda de seu Batalhão.




No dia 13 de julho, (era um dia claro e seco) seguia o 1º Batalhão do “Regimento 9 de Julho”, sob o comando do Capitão Labiano (ou Fabiano) Dias, militar bravo e decidido da Força Pública, rumo ao Setor Bandeirante.  “Eu ia com esse Batalhão, mas não me destaque dos companheiros, porque fui igual a todos...” Pede Luís Araripe Sucupira.
Atingiram Santa Rita da Extrema. E foram além, penetrando Camanducaia até Cambuí, perto de Paraisópolis, em Minas Gerais. O Batalhão, organizado e patrocinado pelo então Instituto do Café, do qual era presidente o nortista Luís Américo de Freitas, constituía-se de perto de 600 moços, de 23 a 28 anos, mas eu era mais velho, e por ter sido aluno do Colégio Militar, deram-me o posto de Tenente.
O Batalhão que seguira de trem até Bragança e daí a pé, por léguas e léguas até Cambuí, recebeu ordem em setembro de recuar até Amparo, afim de atacar, nesta cidade, as forças comandadas pelos então Coronel Eurico Dutra, Cel. Teixeira Lott e Benjamim Vargas. Travou-se a batalha no dia 18 de setembro, às 6 horas da manhã, dando-se o ataque no minuto exato da rendição de tropas. A investida fulminante do 1º Batalhão, que levou o fogo até o cemitério de Amparo, quase forçava as forças federais à retirada. Mas fez-se sentir o contra-ataque, passada a emoção da surpresa e a luta terminava sete horas depois, por falta de munição.
- Foi um combate heróico, no qual todos os paulistas mostraram grande coragem. Se não faltassem armas, não há dúvida que tomaríamos Amparo mas...seria inútil porque as forças federais eram muitíssimo mais poderosas.
Morreram 30 paulistas e a guarnição integral de metralhadoras da Força Pública foi destruída. A vanguarda, que conseguira proteger a retirada das tropas da retaguarda, foi cercada e feita prisioneira: Eu estava entre os 216 prisioneiros, cativos de ex-colegas e íntimos amigos meus, do Colégio Militar, entre eles o então Major Aristóteles de Souza Dantas, hoje General.
Por coincidência, morava em Amparo o irmão de Luiz Araripe Sucupira, o delegado Antônio Araripe Sucupira. A sua casa defrontava o Quartel General onde se aquartelava o Estado Maior. Embora Antônio não fosse soldado, suspeitaram dele pelo parentesco com o Tenente Araripe. Prenderam-no como espião, mandando-o, juntamente com os demais prisioneiros para o Rio.
Como tínhamos de fazer muitos quilômetros à pé, valendo-me da antiga amizade que tinha com Teixeira Lott, pedi-lhe que transportasse, em seu automóvel a mala de meu irmão. Aquiesceu.
As forças federais puseram os prisioneiros no trem. E fomos os primeiros a passar pelo Túnel, já em mãos dos adversários, após os combates memoráveis do Exército Constitucionalista. A viagem durou três dias. Meus companheiros ficaram em Ilha das Flores. O então Major Edgar Amaral, presentemente General, determinou que eu ficasse em Rezende, por ter sido seu colega. Eu era ainda para eles o 67: não se esqueciam do nosso convívio no Colégio Militar. Tratavam-me, dentro do possível, com afeto, desculpando-se: - Sentimos muito 67, tê-lo como prisioneiro de guerra.
Mandaram que um aspirante o acompanhasse pela litorina até o Quartel General do Rio. A movimentação aí, era enorme, com tropas de prontidão, e soldados dormindo até nas escadarias. Chegamos ali entre 11 e meia noite. Eu devia prestar declarações diante do Estado Maior. O Capitão a cuja presença fui levado, pediu-me que declinasse o nome e a idade. Respondi: Devo estar completando 40 anos de idade; e acho que por isso mereço a liberdade.
Ele retrucou que a liberdade não me daria e sinto muito, 67; faça-nos as suas declarações. Declarei então, erguendo a voz em desafio, que os federais jamais conseguiriam entrar em São Paulo pois as paulistas e as crianças os receberiam com bombas de ácido sulfúrico.  - Ácido Sulfúrico? interromperam os oficiais. E o Capitão, apavorado levou-me até o General, no andar superior. A oficialidade, cercando-me, fez festa, e todos quiseram ver os bonés que tirei dos bolsos para mostrar-lhes. Exclamavam:  - Os paulistas são formidáveis. A voz do General fez-se ouvir. Pode ir, 67. E eu fui. Fui descendo as escadas.



A FUGA EMOCIONANTE.


O Capitão que o levaria até o General não o aguardava. E ele continuou descendo por entre oficiais e soldados armados. Vi-me, enfim, no pátio interno do Quartel, com a minha capa gaúcha, a minha barba cavanhaque, sujo de muitos dias sem banho. E ouvia ressoando a voz do General: - Pode ir, 67... pode ir. Será que posso? Será que Deus me concederá a liberdade neste dia de meu aniversário? Apertei com as mãos a oração de Santa Catarina que eu guardava junto ao coração. Fôra herança de meu pai essa relíquia santa, e o acompanhará por toda a Guerra do Paraguai. Acompanharam-me também na Causa de São Paulo. Balbuciando a reza, afrontei as duas metralhadoras cruzadas e... franqueei o portão. A Guarda do Quartel General do Exército prestou continência a mim, o Soldado Constitucionalista, o prisioneiro que alcançava a liberdade. Olhei o relógio, já na rua: eram dois minutos de 25 de setembro, dia do meu aniversário!




A CAUSA ESTÁ PERDIDA!


Fui andando a pé até a sede do Flamengo, que fazia frente com o Palácio Guanabara, transbordante de soldados e fuzileiros navais. Um automóvel passa faz a volta completa e para na minha frente, Estou frito, desta vez vão prender-me! – penso. Desceu o Floriano, goal-keeper do Flamengo; o outro seguiu, era o Silvio Pessoa, da Polícia.
Ele diz ao Floriano: - Abra-me a porta, eu sou um paulista fugido. A porta abriu-se, e o Flamengo agasalhou o Tenente. Eram duas horas da madrugada. Todos que dormiam lá dentro, acordando, quiseram saber:
- Como vai o Movimento de São Paulo?
Luís Araripe Sucupira vendo-se entre amigos, baixou a cabeça, e desta vez respondeu:
Está tudo perdido! 

Transcrição do texto da reportagem de Margarida Izar, publicada no jornal Diário da Noite em 1957.





Luís Araripe Sucupira com dois companheiros, na véspera da violenta
Batalha de Amparo, no dizer do "Correio da Manhã", de 3 de outubro de 32 -
" as metralhadoras funcionavam vinte e ensurdeciam as descargas dos fuzis."

















As imagens acima são as que acompanhavam a matéria, as fotografias referem-se à Batalha em Amparo, SP, a ilustração é de PUIG.





Fonte.

Jornal “Diário da Noite”, Edição Especial de 09 de julho de 1957 (arquivo pessoal).




Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
17/02/2018.



domingo, 4 de fevereiro de 2018

BALUARTE DO SETOR SUL.





Antonio Dourado, hoje delegado de Polícia, vestiu a farda e seguiu em 32 no 2º Pelotão da 2ª Companhia do Batalhão 9 de Julho, o Batalhão Acadêmico, que foi um dos baluartes do Sul. Era estudante de Direito e tinha 21 anos, variando a idade de seus companheiros de 20 a 25, e havendo entre eles dois menores, de 16 anos, RICARDO GONÇALVES e BRUNO MELO TEIXEIRA. Como faltassem oficiais, deliberou-se que os próprios componentes dos pelotões escolhessem um companheiro para fazer o curso de emergência que o Prof. Jorge Americano dirigia. No 2º Pelotão, Dourado foi escolhido e comandou. Ele nos conta o roteiro seguido:
“Fomos inicialmente para Itararé onde o Batalhão Acadêmico guarneceu o Setor Sul, ao lado do 8º Batalhão da Força Pública, que se salientou por sua bravura. Pouco ficamos aí porque um espião, que era fogueteiro, soltou foguetes para assinalar ao inimigo o flanco mais fácil de ser atacado, rompendo assim a resistência. As tropas tiveram então de recuar para Faxina, hoje Itapeva, onde as moças e senhoras nos receberam com flores – uma flor na boca do fuzil de cada soldado.
Mas a topografia não se prestava para a defesa, e fomos plantar a nossa resistência em Buri, cabendo ao Batalhão 14 de Julho fazer a cobertura do Setor de Fundão, a fim de evitar que os ditatoriais, dando a volta por Capão Bonito, atacassem as nossas tropas pelas costas. Foi aí, em Fundão, que tivemos os nossos primeiros e grandes combates, rompendo a fuzilaria de encontro ao grosso de uma tropa gaúcha”.
Foi aí que quatro soldados de capacetes, num assomo de renúncia à vida, saltaram das trincheiras e com galhos de árvores apagaram o capinzal incendiado, cuja fumaça vinha protegendo o avanço inimigo. Eram estes bravos o TENENTE DOURADO, WALTER MERIGO, ARNALDO LERRONI e JOSÉ FERRARI.
- “Neste combate – diz Dourado – morreram, atingidos pelo impacto de uma granada, três jovens do nosso pelotão, ALONSO DE CAMARGO, irmão de LAUDO DE CAMARGO, LAURO DE BARROS PENTEADO e RUBENS FRAGA DE TOLEDO ARRUDA. Este tinha mais dois irmãos lutando, sendo que um deles, FERNANDO, estava perto de mim. Ao lhe comunicarem que RUBENS tinha morrido, mordeu os lábios até fazer sangue gritando – “Não faz mal, que seja por São Paulo!” e continuou atirando. Quanto a LAURO DE BARROS PENTEADO, com o rombo aberto nas costas pelo impacto da granada, mesmo assim, ferido, ditou duas cartas, o adeus à mãe e à noiva.
O Batalhão 9 de Julho seguiu depois para um repouso em Itapetininga, e mandado a esta Capital para o desfile de 7 de Setembro, regressou logo para o Sul, guarnecendo a celebre linha Rio das Almas Paranapanema, no Setor de Serrado, onde tiveram lugar batalhas acirradas, perdendo-se muitas vidas do Batalhão 14 de Julho. Do nosso pelotão, morreu CLINEU GUIMARÃES.
Foi então que o comando da Força Pública fez acordo em separado, ordenando que se retirassem os batalhões da corporação. A linha de frente foi invadida e os batalhões de voluntários, impossibilitados de continuar o combate, tiveram de se retirar, cessando as hostilidades”.
As batalhas mais duras do Batalhão 14 de Julho foram as de Serrado e Fundão, sendo que nesta frente os soldados do 2º Pelotão chegaram a ficar 12 dias na trincheira, dormindo encharcados. No sul havia muitos batalhões de voluntários, entre eles o “Borba Gato”, “Cavalaria do Rio Pardo”, o “Batalhão do Brás”, o “Batalhão Estrangeiro” e a “Legião Negra”. “A Causa Constitucionalista arregimentou mais homens que a Revolução Francesa e ganharíamos se não faltassem armas e munições. Mas neste ponto o combate foi desigual. Tínhamos no Sul apenas um canhão contra mil dos adversários. Não possuíamos também aviões e sofríamos continuados bombardeios dos “vermelhinhos”, os aviões ditatoriais. Não tendo da mesma forma metralhadoras antiaéreas, voltávamos para o ar a boca do fuzil, abrindo fogo contra os aviões incursores. E muitos foram assim abatidos”.


                                                                                        
Transcrição de publicação do Jornal Diário da Noite, 1957.



2 Voluntários:




Os gaúchos caem na emboscada que lhes prepararam os soldados
do 2º Pelotão. Nota-se o oficial da brigada sul rio-grandense de
talabarte e pé no chão



Secção de Bombardas, da Legião Negra. A bombarda foi arma criada em
São Paulo, tendo sido vitima da experiência inicial Marcondes Salgado,
comandante da Força Pública. Esta arma, aperfeiçoada, foi usada, com êxito
pelas Nações Unidas na guerra. Ao lado, o Ten. Dourado, acadêmico de 
Direito, 21 anos. Comandou o 2º Pelotão.



Soldados de capacetes e provisórios da brigada gaucha acabam-se
confraternizando, depois que se esclarece não ser a Revolução separatista.





 




          As legendas das fotografias são as originais, publicadas no jornal. As imagens, algumas inéditas, não são muito nítidas porque o jornal está desgastado pelo tempo.





Fonte.
Jornal “Diário da Noite”, edição Especial, 09 de julho de 1957. (Arquivo pessoal).





Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
04/02/2018.
                  









quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

CAMPANHA DOS MIL ASSOCIADOS







A Sociedade Veteranos de 32-MMDC tem como princípios estatutários a preservação, na memória do povo, a dignidade e a grandeza do Movimento Constitucionalista de 1932 e. para tanto, promove eventos cívico-militares e religiosos visando a rememorar os feitos e figuras expressivas da EPOPEIA DE 32, principalmente nas datas de 23 de maio, 9 de julho e 2 de outubro.
Congrega os sócios em um corpo único, com o intuito de defender intransigentemente, os interesses da classe, sem nunca perder de vista a inserção da mesma no campo dos altos objetivos nacionais.
Promove o entrosamento dos descendentes dos veteranos, oficiais e praças da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em atividade ou inativos, visto que são herdeiros das tradições da Corporação, na sua participação ativa no Movimento Constitucionalista de 1932.
Imortaliza os despojos dos heróis constitucionalistas no Monumento Mausoléu ao Soldado Constitucionalista na solenidade de 9 de Julho.
Organiza núcleos na capital e no interior de São Paulo, mantendo estreito relacionamento com o Comando da Polícia Militar do Estado, com vistas às suas finalidades. Atualmente foram criados nos último anos cerca de 66 núcleos, principalmente na Academia de Policia Militar do Barro Branco, Escola Superior de Sargentos, Escola Superior de Soldados, Escola Superior de Bombeiros, e também em várias Unidades da Capital (Regimento de Polícia Militar “9 de Julho”, 1º BPChq “TOBIAS DE AGUIAR”, etc.).
Defende o modo de vida brasileiro e as tradições, ideais e interesses da Pátria, em concordância com os preceitos constitucionais, intransferíveis e impostergáveis, atribuídos a todos os brasileiros.
Foi reconhecida de utilidade pública pelo Decreto Estadual nº 5.530, de 14 de janeiro de 1960 e pelo Decreto Municipal nº 8.790, de 23 de maio de 1979.
Tendo em vista a expansão da Sociedade Veteranos de 32-MMDC nos últimos anos, há uma necessidade urgente de lançarmos a Campanha dos Mil Associados, tendo como polos geradores do novos participantes da Sociedade os seus Núcleos.
As pessoas que estiverem interessadas em participar dessa luta iniciada em 7 de julho de 1954, movidas principalmente pelo espírito cívico-patriótico, poderão entrar em contato com A Sociedade Veteranos de 32-MMDC através dos e-mails sociedade32@gmail.comou celmario@gmail.com ou ainda através do telefone 3105 8541. Poderão também comparecer pessoalmente à Sociedade, atualmente localizada, para fins de trabalho, no Museu Militar da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Rua Doutor JORGE MIRANDA, 308, no bairro da LUZ.
Os Núcleos da Sociedade Veteranos de 32-MMDC, tanto na cidade como no interior de São Paulo irão participar ativamente na CAMPANHA DOS MIL ASSOCIADOS, tendo como meta, além dos princípios estatutários, o fortalecimento da Instituição e a busca constante de novos destinos para o MMDC.   
Cel. Mario Fonseca Ventura, Presidente da Sociedade Veteranos de 32 – MMDC.





Entre em contato – sociedade32@g.mail.com
Coronel PM – MARIO FONSECA VENTURA
Presidente Sociedade Veteranos de 32 - MMDC
Praça Ibrahim Nobre, s/nº
Vila Mariana - SP - CEP 04008-140
(OBELISCO DO IBIRAPUERA)
Celular/ WhatsApp (11) 94716-8050
11 3105-8541






Poderá entrar em contato, também, com os Núcleos MMDC de sua cidade ou região.


Faça parte desta História, ajude a preservar a memória dos Combatentes Constitucionalistas da Revolução de 1932!



Publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
01/02/2018.

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