sábado, 16 de dezembro de 2017

OS QUATRO HERÓIS DE 32.



MMDC – ELES TOMBARAM PARA O BEM DE SÃO PAULO.



Ilustração de Ventu Rz.





GERMINOU DO MASSACRE DA PRAÇA DA REPUBLICA O LEVANTE DE SÃO PAULO EM ARMAS PELA CONSTITUIÇÃO.



“(Como nos foi contado por Mércio Prudente Correia, Presidente dos “Veteranos de 32 – MMDC).”


O 23 de maio de 32 recebera da véspera a carga de emoções extraordinárias. Alastrava-se a agitação pelas ruas, em movimentos esparsos de grupos, sem coordenação, ainda sem comando. Comícios se sucediam, e entre tumultos vivia-se a espera de grandes e decisivos acontecimentos. No dia anterior, paulistas tinham ido aos Campos Elísios. E Já se percebia que Pedro de Toledo ficaria ao lado de São Paulo, por onde São Paulo fosse Ibraim Nobre, voz (inelegível) e flamejante, conclamara o Exército, no desafio cívico: a favor ou contra? E o Exército, aquartelado em São Paulo, declara que ficaria com São Paulo.
Então o povo, os estudantes (vibravam as Arcadas), derramaram pelas ruas os sentimentos que já se não continham mais no coração. Empastelaram jornais que eram arautos da Ditadura e vinham desenrolando pela rua Barão de Itapetininga a bobina apreendida na sede de um dos diários depredados. Ao desembocarem na Praça da República, defrontaram a manifestação de desagrado que parte da sede da ex-Legião Revolucionária, que mudará o nome para Partido Popular Paulista porque o nome antigo, Legião Revolucionária, legião ditatorial, atraia o ódio e a repulsa.
Eram sete horas da noite. Estabeleceu-se a luta, que varou a madrugada, com mais populares chegando e mais moços sobretudo. São Paulo civil fazia sua aquela primeira batalha no asfalto. A fim de desfechar o ataque direto à sede dos legionários da Revolução de 30, desviam um bonde até junto do prédio. E nesse instante, o sangue marca o caminho de São Paulo pelas armas. Das janelas, os ditatoriais atiram contra o povo, metralham covardemente o peito nu dos paulistas.
E embebeu-se o chão do sangue dos primeiros heróis. Caem de bruços, barbaramente recortados por balas Martins, Miragaia, Drausio, Camargo. Cai Alvarenga. (E a Assistência Pública socorre mais vinte paulistas feridos). O sangue dos mortos, de Mario Martins de Almeida, estudante de Direito; de Euclides Bueno Miragaia, comerciário; de Drausio Marcondes Salgado, ginasiano, de 14 anos e de Antônio Américo de Camargo Andrade, comerciário, casado, pediu vingança. Este sangue alimentou a conspiração cívica e precipitou o Levante, que deveria eclodir, segundo os planos, depois de 9 de julho. A morte do ginasiano Drausio fez ver a São Paulo que até a juventude se comunicara a labareda sagrada que, semanas depois, se manifestaria nos batalhões de crianças, sob a legenda “Se preciso, também partiremos”, se preciso, até a infância paulista iria às trincheiras.
Desse massacre, do último suspiro de Martins, Miragaia, Drausio e Camargo germinou o Levante de 9 de Julho. Por isso a chama que se acendeu e em seu louvor ardeu naquele recanto, por estes dias, além de avivar a saudade e a veneração à memória deles, é o símbolo de São Paulo unido no espirito cívico de 32. Consagramos ali quatro heróis, que formaram, com as iniciais de seus nomes, com as suas vidas sacrificadas em plena mocidade, a legenda gloriosa, para sempre inapagável: MMDC.
Mas...havia mais um: Orlando Alvarenga, como os quatro metralhado pelo fogo aberto das forças opressoras da liberdade. O seu nome não figura no Mausoléu dos Heróis nem o consideram herói por embruma-lo a dúvida, no tocante à sua atuação naquela noite na Praça da República. Teria estado ali acidentalmente. A “Sociedade Veteranos de 32”, porém, não aceita esta hipótese e está recebendo depoimentos para a apuração definitiva. E repudia um dos argumentos de que se valem os que insistem em não agrupar Alvarenga no bloco dos quatro: não era paulista – era mineiro. Na verdade um argumento odioso e antipatriótico diante de um São Paulo que se ergueu pela Constituição com o ímpeto irresistível de todos os brasileiros e estrangeiros, sob a comunhão do mesmo ideal.



                O texto acima, transcrito do jornal Correio da Noite, foi publicado em 09 de julho de 1957.




 Fonte.

Jornal Correio da Noite, Edição Especial de 09 de julho de 1957. (Arquivo pessoal).




Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
16/12/2107.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA.

  Os homens de cor e a causa sagrada do Brasil   Os patriotas pretos estão se arregimentando – Já seguiram vários batalhões – O entusias...