sexta-feira, 21 de abril de 2017

O Herói da Mantiqueira.







Entrevista do Coronel Mário da Veiga Abreu, cognominado o ‘Duque de Cunha”, publicada na revista “O Mundo Ilustrado” em julho de 1954.
Texto de Barbosa Nascimento.

“Cercado pelo carinho da filha e dos netos vive, hoje, numa casa ajardinada da rua Mario Barreto na Tijuca, um herói gaúcho da Revolução Constitucionalista de 1932. Dele disse ao repórter o General Bertoldo Klinger:
“- O Cel. Mário da Veiga Abreu foi um gigante no comando do Setor Mantiqueira”.
O Bravo militar, no decorrer da entrevista, que começou à noite e se prolongou pela madrugada do dia seguinte, feriu de frente todos os aspectos da epopéia paulista e frisou que a bandeira da liberdade desfraldada em 9 de Julho de 1932 continua tremulando como um sinal de alerta à consciência cívica dos brasileiros. Ponderou o Cel. Mário Abreu que a situação do Brasil é, atualmente, idêntica à daquela época.
- Vivemos num caos. E as comemorações programadas para o 9 de Julho, em São Paulo, constituem, evidentemente, uma advertência oportuna aos homens públicos dessa hora conturbada – objetivou o antigo comandante do Setor da Mantiqueira.

Página Honrosa.

O Cel. Mário da Veiga Abreu fora cognominado pelos seus companheiros da Revolução de Duque de Cunha. Homenagem dos revolucionários ao bravo da Mantiqueira. Ele relembra com modéstia os seus feitos, mas enaltece a coragem, o desprendimento e o estoicismo de seus comandantes e dos demais chefes da Revolução Constitucionalista. Não esconde, entretanto, o seu orgulho, quando alude às referências que a seu respeito fez o saudoso Armando Sales de Oliveira, em discurso pronunciado na cidade de Guaratinguetá, em 12 de outubro de 1934. Descrevendo os desesperados esforços que os revolucionários faziam para recompor a situação assinalada com êxito das forças governistas, lembra o Sr. Armando Sales a brilhante ação da tropa sob o comando do Cel. Mário da Veiga Abreu. É uma página que honra a qualquer um. Para o Duque de Cunha ela vale pelo seu maior galardão. Sua transcrição é necessária para edificação da História: “Para que nem tudo fosse sombra, uma rajada de alegria soprou mais ou menos na mesma ocasião sobre as trincheiras paulistas, a notícia de uma brilhante vitória no Setor Cunha. Na hora em que os adversários procuravam cortar a retaguarda de nossas forças, estas desencadearam um ataque brusco e firme. Conseguindo ocupar o espigão do Divino Mestre as nossas tropas impediam definitivamente qualquer incursão pela estrada de Parati a Cunha.
Os risonhos vales e as lombas suaves da Serra do Mar encheram-se do eco das aclamações que o povo paulista erguia – deslumbrando por aquele súbito luar na noite negra do seu tormento. A bela vitória foi dirigida e conquistada pelo Cel. Mário Abreu, Comandante do Setor. Não desejaria citar nenhum nome nesta leve evocação daqueles dias heróicos. Mas abrindo para o ilustre oficial uma exceção, eu presto uma homenagem aos homens de outros Estados que puseram a sua vida e o seu futuro em uma causa que, se era essencialmente brasileira, sob muitos aspectos só pertencia a São Paulo.

Fora da Política.

O antigo comandante do Setor da Mantiqueira foi revolucionário de 1922 e de 1930. Dois anos depois, desencantado com a conjuntura política do país compreendendo que havia sido postergados os ideais pelos quais lutou, desembainhou mais uma vez a sua espada para, ao lado do povo paulista, defender a lei. Ao término da gloriosa arrancada, integrou-se novamente na vida da caserna. Do Cel. Mário Abreu disse ainda Armando Sales de Oliveira:
“- Fiel aos ideais de servir o Exército como a mais poderosa força de coesão brasileira, ele se pôs à margem das lutas partidárias e subordina seus passos aos imperativos do dever patriótico!”
Eis, em síntese, o pensamento do Cel. Mário da Veiga Abreu:
“- A chama dos ideais da Revolução de 9 de Julho arde imperecível no coração dos paulistas em particular, e dos brasileiros em geral. Não foram em vão que centenas de vidas se perderam no Solo de Piratininga.”








Fonte.

Revista “O MUNDO ILUSTRADO”, nº 75, 7 de julho de 1954, pág. 33. (Arquivo pessoal).




Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
21/04/2017.



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