sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Mensagem de Natal 2016.



O Núcleo de Correspondência “Trincheiras Paulistas de 32 de Jaguariúna” deseja aos amigos, visitantes, curtidores e seguidores do blog e seus familiares um Feliz Natal!!!!




Embornal do Soldado Voluntário
 Joaquim Norberto de Toledo Junior, meu pai






No embornal de um Soldado Constitucionalista.

J. David Jorge (Aimoré) – Arquivo do Estado


Uma toalha de rosto:
“Parti pro campo de luta
Com as funções de toalha,
Mas, talvez, não voltarei...
Na trincheira, servirei
Ao soldado de mortalha!”

Uma caixa de fósforo:
“Covarde que sou! Sempre metida neste bornal!
Eu queria ser como a minha homônima
caixa de guerra, rufando heróica em
plena batalha!”

Um cravo emurchecido:
“Fui linda flor, fui cravo rubro
Como o sangue paulista!
Hoje sou apenas em ex...cravo. Mas o
soldado que me guarda, com tanto carinho,
aqui também, parece-me, que
excravo ficou pra guerra...!”

Um botão de osso:
“Que valho eu? Mísero botão de osso...
Ainda se eu fosse um botão de rosa,
Daquela rosa grande, linda, branca,
Muito branca de neve – a Frau Karl Druske...

Um pacotinho de algodão:
“Eu quisera ser um colchão, para descansar,
à noite, bravo soldado, das fatigantes lides
da guerra!”

Um vidrinho de iodo:
“Parte-me, guerreiro! Esgota todo o liquido
que o meu bojo encerra! São Paulo não
precisa de iodo precisa de sangue nas
veias para derrama-lo briosamente no
Campo de honra!”

Uma agulha de coser:
“Se eu fosse agulha de fuzil, eu
costuraria a bala o inimigo canalha!”

A pasta dentifrícia e a respectiva escovinha:
“Nada diremos, porque ainda não temos história: (a pasta) “sou dentifrícia”; que orgulho tenho deste nome! (a escovinha)... e eu sou a escova...dela...

Um cachimbo:
“O “fumo” está mesmo forte! e o uso
do cachimbo faz a boca torta...

Uma medalhinha de São Paulo:
“Combate, voluntário audaz! Combate com
Destemor, debaixo de minha guarda e proteção!
Abençoadas Colunas de Piratininganas!”

Um anel de ouro:
“Paulista! Quando regressar ao lar
amigo, ao aconchego feliz de tua família
(que Deus o permita) troca-me por uma
aliança de ferro, e manda gravar esta
frase: ”Dei fogo para o bem de São Paulo – 1932.”

Um subscrito de um envelope:
“Eu...M.M.D.C. Sargento...nº 140, grupo de
Comando, 2ª Companhia, Batalhão 14 de Julho – Itararé.”

Dizia um pedaço de fumo em corda:
“Fumo forte, o fumo está forte! Ouvi
ha pouco que diziam os soldados lá fora
Será fumo mais forte do que eu? Duvido,
não é possível! Eu sou afamado, pois
nasci lá no celebrado Poço Fundo!”

Um livrinho:
“Péssima idéia deste militar! Trazer-me
para cá, onde a vida da “gente” anda sempre
em perigo! Ando sempre neste embornal e
me não consulta! Antes me deixasse na
estante de uma biblioteca, ou casa de livros...
Não é pela razão de eu ser livro, que me
livre de levar algum balaço pela lombada...
só me livraria...numa livraria

Uma bala de fuzil:
“Eu sou a vida da carabina e a
morte do inimigo.”

Um toco de vela:
“Eu me pareço um tanto com as
sentinelas: elas ficam no “toco” velando,
e eu sou um toco de vela...”

Um espelhinho:
“Soldado! quando voltares do campo da luta,
mira-te em mim, que te hás de ver mais
garboso do que quando partistes: volves um
herói da Pátria agradecida!”

Um retrato de mulher:
“Voluntário! Não te acovardes no campo de
batalha! O troar do canhão e o crepitar
da metralha, sejam para ti hinos de Glória;
enfrenta o perigo, derrama o teu sangue
se preciso for, porque a Pátria tudo merece!
Não me fujas da luta, se o fizeres, rasga-me,
que te não quero ver mais!”

Um fio de linha de coser:
“Falam tanto da linha de fogo, linha de
frente, etc, só não ouço falar em linha de
fundo de agulha...

Um lápis:
“Não sei para que me quer guerreiro;
não se utiliza de mim...Fico desapontado
por me ver despontado, sem sê-lo!”

Um biscoito:
“Não me dou bem aqui, entre estas balas ogivais
e pontiagudas que tanto me abalam e magoam!
Estaria melhor numa confeitaria, no meio
de outras balas que fossem mais dóceis e docs...

Um velho pente:
“Pente sou apenas.”

Um pente de balas de carabina:
“O meu viver é ser...pente da morte.”

Um cigarro meio desfeito:
“Já fui algo na ordem das coisas...hoje
nada valho, sou pó, sou nada:”Pulvis es, et
in pulverem reverteris...”

As letras de uma carta:
“Meu filho, a tua missão ainda não
está cumprida.”

Um Canivete:
“Ai! eu quisera ser uma baioneta!”

Um pedaço de corda:
“Eu julgava, no princípio, que a fibra
de que sou feita, era a mais rija possível.
Mas só agora percebo, que me enganei
redondamente: o soldado que me conduz
é de fibra muito mais dura do que a
minha: é Paulista! e é por isso que
ele comigo não con...corda.”

Fonte.
Jornal “A Gazeta”, 9 de julho de 1954. Arquivo pessoal.




Nos apetrechos de meu pai também tinha sua Gaita.
Nas trincheiras tinha o apelido de "Quincas Gaiteiro"





Alguns apetrechos de meu pai,
sempre estava com a medalhinha de Nossa Senhora Aparecida











Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.



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