O Núcleo de Correspondência “Trincheiras Paulistas de 32 de Jaguariúna” deseja aos amigos, visitantes, curtidores e seguidores do blog e seus familiares um Feliz Natal!!!!
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Embornal do Soldado Voluntário Joaquim Norberto de Toledo Junior, meu pai |
No embornal de um Soldado Constitucionalista.
J. David Jorge (Aimoré) – Arquivo do Estado
Uma toalha de rosto:
“Parti pro campo de luta
Com as funções de toalha,
Mas, talvez, não voltarei...
Na trincheira, servirei
Ao soldado de mortalha!”
Uma caixa de fósforo:
“Covarde que sou! Sempre metida neste bornal!
Eu queria ser como a minha homônima
caixa de guerra, rufando heróica em
plena batalha!”
Um cravo emurchecido:
“Fui linda flor, fui cravo rubro
Como o sangue paulista!
Hoje sou apenas em ex...cravo. Mas o
soldado que me guarda, com tanto carinho,
aqui também, parece-me, que
excravo ficou pra guerra...!”
Um botão de osso:
“Que valho eu? Mísero botão de osso...
Ainda se eu fosse um botão de rosa,
Daquela rosa grande, linda, branca,
Muito branca de neve – a Frau Karl Druske...
Um pacotinho de algodão:
“Eu quisera ser um colchão, para descansar,
à noite, bravo soldado, das fatigantes lides
da guerra!”
Um vidrinho de iodo:
“Parte-me, guerreiro! Esgota todo o liquido
que o meu bojo encerra! São Paulo não
precisa de iodo precisa de sangue nas
veias para derrama-lo briosamente no
Campo de honra!”
Uma agulha de coser:
“Se eu fosse agulha de fuzil, eu
costuraria a bala o inimigo canalha!”
A pasta dentifrícia e a respectiva escovinha:
“Nada diremos, porque ainda não temos história: (a pasta) “sou dentifrícia”; que orgulho tenho deste nome! (a escovinha)... e eu sou a escova...dela...
Um cachimbo:
“O “fumo” está mesmo forte! e o uso
do cachimbo faz a boca torta...
Uma medalhinha de São Paulo:
“Combate, voluntário audaz! Combate com
Destemor, debaixo de minha guarda e proteção!
Abençoadas Colunas de Piratininganas!”
Um anel de ouro:
“Paulista! Quando regressar ao lar
amigo, ao aconchego feliz de tua família
(que Deus o permita) troca-me por uma
aliança de ferro, e manda gravar esta
frase: ”Dei fogo para o bem de São Paulo – 1932.”
Um subscrito de um envelope:
“Eu...M.M.D.C. Sargento...nº 140, grupo de
Comando, 2ª Companhia, Batalhão 14 de Julho – Itararé.”
Dizia um pedaço de fumo em corda:
“Fumo forte, o fumo está forte! Ouvi
ha pouco que diziam os soldados lá fora
Será fumo mais forte do que eu? Duvido,
não é possível! Eu sou afamado, pois
nasci lá no celebrado Poço Fundo!”
Um livrinho:
“Péssima idéia deste militar! Trazer-me
para cá, onde a vida da “gente” anda sempre
em perigo! Ando sempre neste embornal e
me não consulta! Antes me deixasse na
estante de uma biblioteca, ou casa de livros...
Não é pela razão de eu ser livro, que me
livre de levar algum balaço pela lombada...
só me livraria...numa livraria
Uma bala de fuzil:
“Eu sou a vida da carabina e a
morte do inimigo.”
Um toco de vela:
“Eu me pareço um tanto com as
sentinelas: elas ficam no “toco” velando,
e eu sou um toco de vela...”
Um espelhinho:
“Soldado! quando voltares do campo da luta,
mira-te em mim, que te hás de ver mais
garboso do que quando partistes: volves um
herói da Pátria agradecida!”
Um retrato de mulher:
“Voluntário! Não te acovardes no campo de
batalha! O troar do canhão e o crepitar
da metralha, sejam para ti hinos de Glória;
enfrenta o perigo, derrama o teu sangue
se preciso for, porque a Pátria tudo merece!
Não me fujas da luta, se o fizeres, rasga-me,
que te não quero ver mais!”
Um fio de linha de coser:
“Falam tanto da linha de fogo, linha de
frente, etc, só não ouço falar em linha de
fundo de agulha...
Um lápis:
“Não sei para que me quer guerreiro;
não se utiliza de mim...Fico desapontado
por me ver despontado, sem sê-lo!”
Um biscoito:
“Não me dou bem aqui, entre estas balas ogivais
e pontiagudas que tanto me abalam e magoam!
Estaria melhor numa confeitaria, no meio
de outras balas que fossem mais dóceis e docs...
Um velho pente:
“Pente sou apenas.”
Um pente de balas de carabina:
“O meu viver é ser...pente da morte.”
Um cigarro meio desfeito:
“Já fui algo na ordem das coisas...hoje
nada valho, sou pó, sou nada:”Pulvis es, et
in pulverem reverteris...”
As letras de uma carta:
“Meu filho, a tua missão ainda não
está cumprida.”
Um Canivete:
“Ai! eu quisera ser uma baioneta!”
Um pedaço de corda:
“Eu julgava, no princípio, que a fibra
de que sou feita, era a mais rija possível.
Mas só agora percebo, que me enganei
redondamente: o soldado que me conduz
é de fibra muito mais dura do que a
minha: é Paulista! e é por isso que
ele comigo não con...corda.”
Fonte.
Jornal “A Gazeta”, 9 de julho de 1954. Arquivo pessoal.
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Nos apetrechos de meu pai também tinha sua Gaita. Nas trincheiras tinha o apelido de "Quincas Gaiteiro" |
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Alguns apetrechos de meu pai, sempre estava com a medalhinha de Nossa Senhora Aparecida |
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.