segunda-feira, 25 de abril de 2016

VAMOS, SÃO PAULO!






A seguir transcrevo um trecho do livro de Benedito Fernandes Oliveira, “Revolução Paulista de 1932” – Coluna Romão Gomes.
O entusiasmo, civismo e solidariedade dos paulistas e também o apoio e incentivo de toda a imprensa, desde os primeiros momentos quando se iniciaram os primeiros confrontos em julho de 1932, está muito bem demonstrada nas palavras do autor e no artigo do Jornal.


[...] “Nas primeiras horas do memorável dia 9 de Julho de 1932 tudo estourou, como uma potente bomba, sobressaltando todos os recantos da Pátria Brasileira. Em poucos dias, tudo era como imenso vulcão incandescente a expelir larvas sangrenta.
Com rapidez, em poucas horas, todo o gênio e poderio de uma raça tantas vezes heroica revelaram-se.
Foram arregimentadas rapidamente todas as forças disponíveis e, unidos todos os corações em compreensão mutua, troaram as metralhas pelas campinas férteis e verdejantes. O sossego bucólico das estâncias e fazendas cedeu lugar ao tumulto dos batalhões guerreiros.
Tremendo cataclismo em perspectiva, porque, ao encontro desses batalhões, constituídos, na maioria, por voluntários quase sem nenhum preparo guerreiro, marchou furiosa e em massa compacta, a mais fina flor dos exércitos regulares, arrebanhados sofregamente de todos os recantos do país.
De norte a sul, de leste a oeste, porém São Paulo, pequenino no tamanho e grande na coragem, coeso, firme, aguentou de rijo. [...]
São João da Boa Vista, formada na tradição de Piratininga, com um povo da índole inquebrantável e audácia de velhos lutadores, não poderia ficar à margem do movimento revolucionário. [...]
Já de início a massa popular ficou completamente empolgada e, nos comícios que se sucediam nas praças públicas, os eventuais oradores eram delirantemente ovacionados porque suas palavras e orações iam de encontro ao sentimento de todos.
Inflamado e acirrando ânimos, por outro lado, a imprensa, com brilhantíssimo e destaque, pela pena vibrante de seus colaboradores, com artigos vibrante e sugestivos como exortava e exalçava o espirito guerreiro dos paulistas, com artigos vibrantes e sugestivos como este:


“VAMOS, S. PAULO”

“Na hora, sem dúvida gravíssima, que o Estado de S. Paulo atravessa, não se sabe ao certo o que mais enaltecer e admirar: se a coragem indômita dos que se atiraram à luta, se o desprendimento magnifico de que, no momento de perigo, dá vivo exemplo a unanimidade da família paulista.
Esgotou, o nosso Estado, gota a gota, todo o fel que, mãos hábeis, requintadas no martírio de um cativeiro, foram solicitadas em levar-lhe ao lábios ressequidos e ávidos de longos haustos, de liberdade merecida.
E, hoje, é uma torrente impetuosa, que o desespero lançou à rude campanha fratricida, contra os mais fortes obstáculos, contra os óbices mais altos, na defesa de um ideal espezinhado, enodoado pela inépcia daqueles que tripudiam sobre a aparente fragilidade dos bandeirantes de agora.
Neste momento de apreensões e de dúvidas para a grandeza da Nação Brasileira, contrasta a atitude entusiasta e nobre de nossa gente, na alegria incontida de quem desfraldou a bandeira do Bem, de quem se ajoelhou comovido à benção da Mãe- Pátria.
Numa disparidade de forças e de elementos de combate visível aos olhos menos avisados, o gesto de S. Paulo redobra de heroísmo, sem um segundo sequer de hesitação na marcha para a luta gloriosa, onde talvez tombará vencido, de onde talvez virá, roto e faminto, mas coberto pelos louros da vitória.
O dia de hoje não comporta dubiedades.
Amanhã é possível que não sorria o mesmo céu azul que nos convida, límpido e belo, como grandioso e puro é o motivo da arrancada paulista; amanhã é possível que não cintile no firmamento de nosso torrão amado o mesmo sol benfazejo e quente que se abriu para os dias lindos e cheios desta Revolução sem par.
Vamos, S. Paulo. S. Paulo coração. – S. Paulo Homem. – S. Paulo incentivado pelo coração da Mulher Paulista!
Vamos, brasileiro de S. Paulo, escolhe com a tua consciência de homem livre, com a tua vontade de cidadão civilizado: ou o esforço titânico em prol da tua libertação; ou o tronco que, vê-o bem, te espera na senzala. Não há como fugir à alternativa.
Ou serás farrapo humano, aguilhoado ao posto de tormento, retalhado ao chicote desumano dos que fizerem de nós seus vencidos dos campos de batalha, ou bandeirante invicto que voltou com honra, para glória dos seus.
Não há lutas internas, rivalidade de aldeia, política adversa que possa roubar-nos um momento de atenção, posto que isso seria criminosa inconsciência dos que não querem bem à sua terra, dos que não comungam com a causa de S. Paulo.
Contemos com as nossas próprias forças, com a nossa vontade, com a nossa disposição. Outros hão de vir, ao nosso lado, pela legitimidade de nossos projetos, pelo objetivo nobre de nosso ideal. E nós lhes abriremos, felizes, os nossos braços de irmãos. Mas não nos firmemos na doçura esperançosa dessa e de outras suposições. É sobre S. Paulo que pesa nesta hora, o madeiro da Redenção.
Tudo e todos pela vitória de S. Paulo.

(Dr. EMILIO LANSAC– “O Município”, 16/7/32).”


“A mocidade válida e briosa, completamente empolgada pelo curso dos acontecimentos, começou a procurar resolutamente os postos de alistamento, afim de oferecer os seus préstimos e a sua resoluta colaboração à sagrada causa.” [...]


A Revolução Constitucionalista de 1932, além de ter sido o maior movimento armado enfrentado por um Estado, também demonstrou a força e a coragem de um povo unido para o bem da Nação.










Homenagem ao bravo Comandante Romão Gomes em solenidade realizada no
Teatro Municipal de São Paulo, alguns anos após o término da Revolução.




Fonte.

OLIVEIRA, B., F. – Revolução Paulista 1932; Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais Ltda., São Paulo, 1950, 136p.




Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.


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