domingo, 6 de dezembro de 2015

Histórias de Heróis da Revolução de 1932.



 “Os adversários dos Soldados Constitucionalistas muitas vezes fizeram justiça. Um destes casos transparece, nítido na morte de Mário Leme Walter, componente da 1ª Companhia, 2º pelotão, do Batalhão Fernão Salles. Incorporado em São Paulo, partiu para a zona Sul sob o comando do Capitão Honório de Castro, dando desde logo sobejas provas de intrepidez e de bravura.
Sobre sua morte vamos dar a palavra a uma autorizada notícia cuja veracidade conseguimos constatar. É a seguinte:
“Perigava o Batalhão Fernão Salles, ameaçado de um envolvimento, na frente de Capão Bonito. O Cap. Honório de Castro, reconhecendo a situação, procurou no Corpo de Saúde e Intendência todos os soldados validos, reuni-os com uma patrulha que voltava de um reconhecimento e foi com eles reforçar um punhado de bravos que lhe defendia o flanco direito, em substituição ao batalhão que houvera recuado. Eram estes 23 homens apenas, escorando uma pressão de mais de 150 homens. Graças a esses esforços inauditos, o batalhão Fernão Salles conseguiu uma retirada em ordem, sem perder um soldado se quer. Por fim, na trincheira mais avançada, no ponto mais hostilizado restavam oito homens. Um deles era Mário Leme Walter.
O inimigo avançava. A munição diminuía. Esgotara-se os pentes do 2 F. M., que eram as suas únicas armas automáticas. Para não as entregar ao inimigo, foi destacado o soldado Luiz Viegas, apelidado “Mato-Grosso”, o qual rastejou mais de 500 metros, sob uma terrível fuzilaria, até alcançar a crista topográfica do terreno, para leva-las ao batalhão que passava para a margem direita do rio. Ficaram 7 soldados com fuzis comuns. Num dado momento o inimigo aproximou-se, cerrando fuzilaria sobre a única trincheira que ainda impedia seu avanço. Foi quando recebeu uma bala na cabeça o bravo soldado Mário, que se tornará comandante natural dos companheiros. Já não era possível, nem aconselhável mais resistência. A guarnição rendeu-se. Seis homens foram levados presos para Capão Bonito, onde se achava o Q. G. inimigo. Os adversários enterraram na própria trincheira o seu valente defensor, e dois dias depois colocaram uma cruz com os seguintes dizeres: - Aqui jaz um heroico sargento paulista, morto em defesa desta trincheira, quando lutava pela causa que abraçou. 21 de setembro de 932. Homenagem do pessoal da 1ª Secção, da 2ª Cia. do 5º R.A.M. Rio Grande do Sul, Santa Maria. Esta cruz foi mandada confeccionar e colocar aqui pelo Tenente Comandante da secção acima referida.


Mário Leme Walter nasceu em Leme, no dia 11 de fevereiro de 1902, filho do Sr. Arthur Walter e da Sra. Maria Leme Walter. Era irmão de José Leme Walter, casado com Sra. Carolina Figueiredo Walter; Amélia, casada com o Sr. Joaquim Fabricio dos Santos; Alzira, casada com o Sr. João Kremper; Benedicto Leme Walter, casado com a Sra. Izabel Cabral Walter; Sebastiana, casada com o Sr. Lazaro Croffi; Etelvina, Eliza, Djanira, Cândida e Arthur, estes solteiros.


O texto acima é uma transcrição das páginas 336/338 do livro Cruzes Paulistas.



Cruz do Mário.




Imagem da Cruz no local onde Mário morreu.

 




No bairro Mato Pavão, preservou-se até os dias de hoje, graças a boa vontade de moradores, a Cruz do Mário, que vem a ser a cruz de Mário Leme Walter.
 Em vários locais como Pinhalzinho, Ferreira dos Matos, Taquaral, Alegre de Baixo, Fazenda Santa Inês, IBAMA, Camilos, Mato Pavão, Fundão e etc. São, além de bairros, verdadeiros campos de heróis, onde se lutou e perdeu-se a vida. Muitos mortos foram resgatados, porém, alguns permaneceram no último e derradeiro túmulo de heróis, a trincheira.
Vários túmulos se perderam em razão do tempo, porém alguns foram cuidados por moradores locais e até agora permanecem como testemunhas de um período que nunca devemos esquecer.
Hoje os despojos deste heroico Soldado Voluntário estão sepultados no Monumento Mausoléu ao Soldado Constitucionalista no Ibirapuera, São Paulo, SP.





Fonte.

MONTENEGRO, B; WEISSHON, A.A. (org.) CRUZES PAULISTAS: os que tombaram em 1932 pela gloria de servir São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1936. 516p.






Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.




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