terça-feira, 2 de outubro de 2012

O problema da interiorização no estudo de História Militar: o caso de Santos e seus mortos na Revolução de 1932.


Ney Paes Loureiro Malvasio

 

 

O texto original foi dividido em quatro partes.

Parte II

 

Bento de Barros foi um dos valorosos integrantes da “coluna Romão Gomes”, que operou a revolução inteira pela estratégia da guerra de movimentos, ao contrário do verificado na maioria dos outros setores de combate. Esse voluntário santista, nascido em 15 de janeiro de 1905, foi incorporado ao Batalhão Barreto Leme (parte da “coluna” comandada por Romão Gomes, oficial da Força Pública de São Paulo) e fez a revolução no arriscadíssimo lugar de padioleiro.

 

Na frente mineira mereceu destaque a figura de Romão Gomes, um major da Força Pública que cursava a Faculdade de Direito. No início da revolução estava no comando do 10 Batalhão Paulista de Milícia Civil – um corpo de voluntários transformado depois na coluna Romão Gomes - , chamando a atenção por sua forte liderança em ações de combate: na defesa de Águas da Prata comandou 450 homens contra 2 mil soldados governistas... conseguindo repelir os atacantes. Promovido a coronel, assumiu o comando do Estado-Maior daquela frente, sediado em Mogi-Mirim. Comandando as tropas do Exército lotadas em Casa Branca, tida como a unidade mais eficiente de todas as forças constitucionalistas, recuperou em poucas semanas várias posições importantes já tomadas pelo inimigo: Vargem Grande, Lagoão, São João da Boa Vista, Cascavel, Mococa, Grama e outras localidades menores.[5]

 

Dessa forma, fazer parte da “coluna Romão Gomes”, mostra o brio transmitido a todos os integrantes da unidade. Em 5 de setembro, Bento de Barros, já na graduação de cabo e auxiliando na heróica remoção de feridos da coluna, debaixo do fogo inimigo, foi colhido por um tiro na estrada entre Grama e Poços de Caldas (MG). Após a revolução, o voluntário santista foi enterrado em Araraquara, provavelmente resida aí o motivo (tal como tenho destacado em cada voluntário morto em combate) de desconhecer-se a participação de Bento de Barros em sua terra natal, tal como se lê em Cruzes Paulistas:

 

Na estrada que liga a cidade de Grama a Poços de Caldas, em terras da fazenda Totó de Mello, Bento de Barros morreu a 5 de setembro, quando cumpria seu nobre mister, vitimado por uma bala de fuzil na cabeça... Nascido em Santos, a 15 de Janeiro de 1905, Bento de Barros era solteiro e artífice.[6]

 

Bernardo Nunes, outro voluntário civil da revolução constitucionalista. Alistou-se em Santos, presumivelmente onde nasceu, e partiu para a luta fazendo parte da “Legião Negra”, famosa por sua atuação no movimento de 1932.

 

Provavelmente um dos mais desconhecidos, silenciados e menos estudados aspectos da guerra civil de  1932 seja a grande mobilização e intensa participação da comunidade negra de São Paulo a favor do ideal de democratização do país. Para se ter uma noção do que representou essa arregimentação dos paulistas negros é preciso, anteriormente, considerar o alto grau de organização que já possuíam as chamadas “associações de raça”, estabelecidas em vários pontos do estado, antes da deflagração do conflito.[7]

 

Bernardo Nunes certamente, pela pesquisa desenvolvida, foi mais um heróico integrante da “Legião Negra” que foi criada da seguinte forma:

 

... na capital paulista, era oficialmente criada e coordenada pelo presidente do Partido Radical Nacionalista, J. Guaraná de Santana, a Legião Negra de São Paulo. Treinada militarmente pelo capitão Gastão Goulart, da Força Pública, auxiliado pelo tenente Arlindo Ribeiro, do Corpo de Bombeiros (F.P.) - ambos negros -, a legião era formada por dois batalhões de infantaria e chegou a possuir um efetivo de cerca de 1600 combatentes incorporados ao Exército constitucionalista.[8]

 

 O nosso Bernardo Nunes, foi mais um dos bravos do setor sul, onde morreu atingido por um tiro de fuzil em um dos combates travados em Apiahy. No período final de sua participação na gloriosa campanha, encontrava-se transferido para o Batalhão Marcílio Franco.

 

 



[5] José Alfredo Vidigal Pontes. O Brasil se revolta: o caráter nacional de um movimento democrático. São Paulo: Editora Terceiro Nome/O Estado de São Paulo, 2004.  p. 158.
 
[6]  Horácio de Andrade; A. Guanabara de Arruda Miranda; Oswaldo Bretas Soares. Cruzes Paulistas. São Paulo: Gráfica da Revista dos Tribunais, 1936. p. 123.

[7]  Jeziel de Paula. 1932: imagens construindo a história. Campinas/Piracicaba: Editora da Unicamp/Editora Unimep, 1998. p. 164.
[8]  ___________ . 1932: imagens construindo a história. Campinas/Piracicaba: Editora da Unicamp/Editora Unimep, 1998. p. 167.

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