HEROÍNAS
DE 32!
Em
1932 um jornalista escreveu: Observai, e ide – ó homem – contar às gentes
o milagre de vossas mães, o milagre de vossas esposas, o milagre de vossas
irmãs e de vossas noivas, todas elas abroqueladas na altivez de uma raça e no
amor à terra bandeirante.
Mulheres voluntárias em 1932 nos trabalhos na retaguarda.
O POEMA DAS MÃOS.
Guilherme de Almeida
Foi por um tempo de aço cortante
de um julho cor de aço, cortante de
frio.
Vinham da terra, direitas, em retas
- Como o rastilho que deixa na
gleba
a lâmina firme dos nossos arados,
como os cafeeiros das nossas
fazendas,
como os dormentes da nossa
bandeira...
vinham da terra, direitas, em
retas,
filas e filas de voluntários.
Vinham, chegavam, passavam, partiam
sob os aplausos, sob as carícias,
sob os adeuses de mãos abertas:
mãos de mulheres, mãos como palmas,
não de martírio, mas de Vitória;
mãos espalmadas, brancas no céu
como altos voos de aves gloriosas,
como volutas claras de incenso,
como ascensões de almas aladas,
como alvas asas de anjos da
guarda...
Sempre abençoando, sempre
guiando...
Mãos que ajeitaram sobre a cabeça
de pais, esposos, filhos, irmãos,
o capacete de aço abençoado
pela pureza do seu contato;
mãos que espetaram flores nos canos
finos e frios das carabinas,
que deram bala às cartucheiras,
água aos cantis e pão aos bornais;
mãos que pontearam o cáqui das
fardas
e o tricô morno dos agasalhos
para tingir-se do mesmo sangue
que, acelerado, neles corria;
mãos que despiram toda a vaidade
dos dedos santos para juntarem
seus bens aos cofres do Nosso Bem;
mãos de uma raça que dá, não pede,
pedindo esmolas, como mendigas,
à porta...à porta da própria casa;
mãos namoradas sonhando sobre
o papel branco das cartas que iam
fazer homens morrer sorrindo;
mãos religiosas, alvas mãos postas:
postas à sombra de altos altares
para dar asas à nossa terra;
mãos como bálsamo, leves e suaves,
cicatrizando a funda ferida,
ou enxugando a lágrima ardida
nos corredores dos hospitais,
ou então fechando pálpebras frias
sobre os olhares que se apagaram
para que, um dia, novos olhares
vejam a glória que eles não
viram...
Dizem que mãos trazem escrito
na fina trama das suas linhas
um vaticínio inevitável.
Dizem. E eu creio. Creio que tudo,
tudo o que fomos e o que seremos
- a nossa história, o nosso destino
tudo está escrito graças a Deus,
mulher paulista, nas tuas mãos!
Voluntária piracicabana na Revolução de 1932.
Fonte.
Maluf,
Nagiba Maria Rizek, - Revolução de 32: O
que foi/ Porque foi. 2ª ed., São Paulo: Global ,2009, 192p.
Editado
e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo
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