quarta-feira, 6 de março de 2024

À MULHER PAULISTA.

 

HEROÍNAS DE 32!    

 

Em 1932 um jornalista escreveu: Observai, e ide – ó homem – contar às gentes o milagre de vossas mães, o milagre de vossas esposas, o milagre de vossas irmãs e de vossas noivas, todas elas abroqueladas na altivez de uma raça e no amor à terra bandeirante.

 


Mulheres voluntárias em 1932 nos trabalhos na retaguarda.


O POEMA DAS MÃOS.

 

Guilherme de Almeida

 

Foi por um tempo de aço cortante

de um julho cor de aço, cortante de frio.

Vinham da terra, direitas, em retas

- Como o rastilho que deixa na gleba

a lâmina firme dos nossos arados,

como os cafeeiros das nossas fazendas,

como os dormentes da nossa bandeira...

vinham da terra, direitas, em retas,

filas e filas de voluntários.

Vinham, chegavam, passavam, partiam

sob os aplausos, sob as carícias,

sob os adeuses de mãos abertas:

mãos de mulheres, mãos como palmas,

não de martírio, mas de Vitória;

mãos espalmadas, brancas no céu

como altos voos de aves gloriosas,

como volutas claras de incenso,

como ascensões de almas aladas,

como alvas asas de anjos da guarda...

Sempre abençoando, sempre guiando...

Mãos que ajeitaram sobre a cabeça

de pais, esposos, filhos, irmãos,

o capacete de aço abençoado

pela pureza do seu contato;

mãos que espetaram flores nos canos

finos e frios das carabinas,

que deram bala às cartucheiras,

água aos cantis e pão aos bornais;

mãos que pontearam o cáqui das fardas

e o tricô morno dos agasalhos

para tingir-se do mesmo sangue

que, acelerado, neles corria;

mãos que despiram toda a vaidade

dos dedos santos para juntarem

seus bens aos cofres do Nosso Bem;

mãos de uma raça que dá, não pede,

pedindo esmolas, como mendigas,

à porta...à porta da própria casa;

mãos namoradas sonhando sobre

o papel branco das cartas que iam

fazer homens morrer sorrindo;

mãos religiosas, alvas mãos postas:

postas à sombra de altos altares

para dar asas à nossa terra;

mãos como bálsamo, leves e suaves,

cicatrizando a funda ferida,

ou enxugando a lágrima ardida

nos corredores dos hospitais,

ou então fechando pálpebras frias

sobre os olhares que se apagaram

para que, um dia, novos olhares

vejam a glória que eles não viram...

 

Dizem que mãos trazem escrito

na fina trama das suas linhas

um vaticínio inevitável.

Dizem. E eu creio. Creio que tudo,

tudo o que fomos e o que seremos

- a nossa história, o nosso destino

tudo está escrito graças a Deus,

mulher paulista, nas tuas mãos!

 


Voluntária piracicabana na Revolução de 1932.


 

Fonte.

Maluf, Nagiba Maria Rizek, - Revolução de 32: O que foi/ Porque foi. 2ª ed., São Paulo: Global ,2009, 192p.

 

 

Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo


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