Uma
contribuição que é “deixada de lado” por muitos historiadores que contam sobre
os acontecimentos durante a Revolução Constitucionalista de 1932 é referente à
participação da mulher durante os confrontos. Entretanto, em respeito as 72 mil
mulheres que ajudaram o movimento, resgato aqui algumas informações referente a
participação de mulheres na retaguarda e nas frentes de combates.
A
Mulher foi um grande suporte para os Combatentes: Os voluntários de São Paulo
só conseguiram chegar tão longe graças ao suporte que receberam de suas
famílias e, claro, das mães, esposas e donas de casa que se dispuseram a ajudar
nesse importante episódio de nossa história.
Em
um primeiro plano, elas exerceram funções de necessidade extrema, como
enfermagem, costura e cozinheiras. Enquanto as lutas aconteciam nas
trincheiras, elas trabalhavam com os ofícios supracitados e, também, nas
indústrias bélicas e nas tarefas de suporte logístico. Entretanto, apesar desse
trabalho ser de uma importância ímpar, algumas mulheres foram além e atuaram
nas frentes de batalha.
Entre as muitas mulheres que estiveram nas
frentes de combate, uma das mais conhecida foi Maria Stela Sguassabia, que descreveu
assim seu primeiro combate do qual participou nas trincheiras, antes de ser
descoberta pelo Tenente Meira:
Numa
colina banhada de luar sugiram vultos. Mal tive tempo de pensar e uma saraivada
de balas zunia sobre nós. Antônio me ensinou a manejar o fuzil. O Tenente Mario
dos Santos Meira circulava pela trincheira dando ordens e, de súbito, gritou: FOGO!
Apontei em direção aos vultos e puxei o gatilho. Atirei muitas outras vezes
naquela madrugada. Quando amanheceu, o fogo cessou. Eu estava com o ombro
direito roxo, dolorido, e os braços exaustos, mas o coração limpo, aliviado.
Foi quando o Tenente Meira parou diante de mim. Meus cabelos estavam soltos ao
vento!
Quando
foi descoberta Maria Stela Sguassábia implorou para ser aceita no Batalhão.
Após conversas reservadas entre Comandantes ficou decidido que ela poderia
ficar o tempo que quisesse, caso aguentasse a rotina nas trincheiras.
Assim,
ela foi incorporada à 4ª Companhias do BPMC sob o pseudônimo de Mario
Sguassábia e “aguentou” permanecendo até o final dos combates em
outubro de 1932.
Outra
importante participação foi de Marina Freire Junqueira Franco, participou
efetivamente nas linhas de retaguarda, longe da família mas com muita dedicação
e amor.
Marina
foi voluntária na Casa do Soldado da cidade de Cruzeiro.
Em
uma carta de 29 de julho de 1932, endereçada à sua mãe, Marina escreve:
[...]
Aqui o serviço é brutal, extenuante! [...] O que nos ajuda é a satisfação de
estarmos ajudando o nosso Estado querido e servindo aos nossos soldados que
ainda levam vida mais dura. Felizmente, temos cama para dormir e teto para nos
abrigar, e os coitados, a maior parte das vezes, dormem ao relento [...] É em
casa de família que vou tomar banho, pois no rancho nem chuveiro há. A falta de
conforto é absoluta, total. A comida para os soldados é ótima: arroz, feijão e
carne com batatas, mas tudo bem temperadinho. Para a gente, porém, que está
lidando com caldeirões e caldeirões é intragável, de modo que tenho passado a
biscoito com leite [...]Não repare a sujeira no papel. Nós aqui nem ligamos
para a sujeira, vivemos imundas, como verdadeiras cozinheiras, de modo que o
bom tom [...] é andar suja. Quem anda limpo não é cotado, é sinal de que ainda
não esteve nas linhas de frente [...] Marina, 29/07/32.
Provavelmente Marina seria a segunda à esquerda .
Carta do Instituto do Café
Informando que a funcionária Marina prestava serviço à Revolução.
Nas
linhas de combates ou na retaguarda as mulheres cumpriram sua missão de
companheiras, em igualdade de condições, apoiando os Soldados mostrando que
podemos caminhar juntos, homens e mulheres, com amor, solidariedade e
compreensão no ideal de um bem comum.
Desejo
a todas as Mulheres um Feliz Dia Mundial da Mulher!
HOMENAGEM
À TODAS AS MULHERES QUE TEM ORGULHO DE SE-LO E SABEM REPRESENTAR COM GARRA,
ENCANTO E DETERMINAÇÃO!
Fonte.
Lima, Luiz
Octavio de, 1932: São Paulo em Chamas,
São Paulo: Editora Planeta do Brasil, abril de 2018.
https://artsandculture.google.com/story/AwVRXg7DS8ZpKg?hl=pt-BR,
acesso em 06 de março de 2023.
imagens
cachoeirapaulistanarevoluçãoconstitucionalistade1932
Veja também:
https://trincheirasdejaguariuna.blogspot.com/2022/03/homenagem-as-mulheres-2022.html
https://trincheirasdejaguariuna.blogspot.com/2021/03/mulheres-poderosas.html
Editado e publicado por
Maria Helena de Toledo Silveira Melo.