COMEMORA SÃO PAULO 25 ANOS DA ARRANCADA HERÓICA DE 9 DE JULHO.
Cartão Comemorativo. |
Na Sessão Solene, ocorrida no Estádio do Pacaembu no ano de 1957, em comemoração ao Jubileu de Prata do Movimento Constitucionalista, o discurso de abertura foi pronunciado, à zero hora, por Edmundo Monteiro, Presidente da Associação das Emissoras de São Paulo, foi publicado no Diário da Noite no dia 09 de julho de 1957.
Discurso de Edmundo Monteiro (1957).
“Paulistas! Paulistas de nascimento e paulistas de coração!
Sim, deve ter sido numa noite assim, bem paulista, numa noite como esta noite, num começo de madrugada como o desta madrugada histórica – foi numa noite assim há 25 anos que São Paulo a grande operação de soma, na aritmética do destino e se uniu, e reuniu os homens válidos, e convocou as mulheres e aceitou, altivo, o desafio do regimento ditatorial.
Foi numa noite, assim bem me lembro.
E é com orgulho paulista, com orgulho brasileiro, que me desincumbido, esta noite, da missão honrosíssima que me foi delegada, para vos dirigir a palavra, em nome da Associação das Emissoras de São Paulo.
Há um quarto de século, a estas mesmas horas, deixando o jornal, pude surpreender o início do milagre, a tramutação súbita, a metamorfose de São Paulo. A cidade que passara no labor tranquilo da fabricas e dos escritórios, das faculdades e dos hospitais – a cidade se transformara num abrir e fechar de olhos em vasto e destemido quartel em plena mobilização.
Ainda não havia fardas, ainda não havia armas e munições, ainda não havia capacetes de aço, ainda a Revolução amanhecia com a cidade amanhecendo, e já se podia sentir a pulsação diferente, o ritmo nervoso da cidade em guarda, em plena ressureição cívica.
Lá se foram vinte e cinco anos. E a lição de bravura sem igual não caiu no olvido. Nem poderia cair. Lição como a de São Paulo, em 1932, é lição perene, estimulo aos desalentados, mensagem democrática aos que descreem das leis e, principalmente, da Lei das Leis, que é a Constituição.
Nenhum cálculo mesquinho, nenhuma intenção subalterna, nenhum propósito miúdo, nenhum interesse inconfessável, nada disso animou São Paulo na jornada inesquecível de 9 de Julho de 1932.
Não foi a luta de um grupo, o revide de uma facção, o recalque de uma situação apeada do Poder, a reação contra a revolução de 1930, a cobiça maligna dos políticos, a torpe ambição dos próceres chumbados ao ostracismo.
Não, 1932 foi ideal, só ideal, exclusivamente ideal, 1932 não pertence a ninguém porque pertence a todos, 1932 não foi desencadeada por nenhuma sigla partidária, 1932 foi São Paulo todo, sem distinção de classes, grupos ou categorias sociais.
Patrões e operários, mestres e estudantes, velhos e crianças, paulistas de quatrocentos anos e paulistas de menos de trinta ou vinte – brasileiros de todos os recantos, aqui radicados e aqui irmanados conosco – todos ouviram a clarinada cívica, e todos rasgaram na terra paulista as trincheiras da Lei e da Liberdade, da Ordem e da Justiça.
Houve, depois, tudo o que houve. A democracia se reimplantou. Tivemos a Constituição, em 1934, com a Chapa Única “o Bem de São Paulo” gritando, no Rio, a nossa unidade não extinta. Veio, depois, o golpe de 1937, como o colapso das liberdades restauradas pelos soldados de 32. E a Nação, atônita e desavisada, mergulhou de corpo inteiro na escuridão totalitária. Veio a ressurreição de 24 de outubro. Vieram as eleições livres de 2 de dezembro de 1946. Vieram as imposturas, veio a demagogia, explodiram as paixões políticas. E ocorreu o espantoso acontecimento de 24 de agosto. E tivemos um ano e pouco depois, o pleito presidencial.
O 9 de Julho, durante muitos anos, foi uma efeméride polemica. Uma data denegrida. Uns diziam que for uma contra revolução. Outros invocaram argumentos inconsistentes para ver, na gesta imortal, uma simples reação aos rumos, delineados em 30. E houve até mesmo quem ousasse o supremo requinte da desfiguração, afirmando que éramos separatistas.
O tempo se incumbiu de destruir as aleivosias contra nós assacadas, apagando as mentiras e anulando, de uma vez por todas, o lado polêmico da epopéia.
Hoje o 9 de Julho, mais do que um momento solar no calendário cívico de São Paulo é uma efeméride nacional.
Este Jubileu de Prata é uma celebração e uma reafirmação de princípios. Neste cenário histórico, que ainda hoje guardamos a ressonância de vozes sobranceiras que há vinte e cinco anos, unidas e associadas, disseram basta à servidão ditatorial – neste cenário estamos todos, ó paulistas, de joelhos, cultuando idealismo sem mácula daqueles que escreveram a página viril, o testemunho sem paralelo da nossa fidelidade à Democracia e da nossa repulsa ao despotismo.
Paulista, sentido! Em continência aos Heróis da rutila Epopéia de 32!”
As comemorações do Jubileu de Prata foram programadas pela Associação das Emissoras de São Paulo: COMEMORA SÃO PAULO 25 ANOS DA ARRANCADA HERÓICA DE 9 DE JULHO.
Ilustração de PUIG na capa do Jornal. |
Esteve presente também nas comemorações o Presidente Juscelino Kubitschek. O Jornal publicou também sua presença:
“Juscelino, em São Paulo, presidirá as Comemorações.
O Presidente Juscelino Kubitschek estará, hoje, em São Paulo, participando das solenidades comemorativas do 25 º aniversário do Movimento Constitucionalista, tendo sido organizado o seguinte programa de visita do chefe da Nação, elaborado pelo Cerimonial da Presidência da República, de acordo com os promotores dos festejos de 9 de Julho: 12:00 h chegada em São Paulo do Presidente da República no Pavilhão Oficial do Aeroporto de Congonhas; visita ao Governador do Estado, ao Comandante do Segundo Exército e ao Cardeal-arcebispo; 13:00 h, sessão solene comemorativa do 10 º Aniversário da Constituição Paulista (Assembleia Legislativa); 14:00 h, desfile de bandas nacionais e estrangeiras, bandeiras e demonstração de esquadrilhas de aviões a jato da FAB (Anhangabaú); 19:00 h regresso do chefe da Nação ao Pavilhão Oficial do Aeroporto de Congonhas.”
Algumas imagens sobre a presença do Presidente Juscelino Kubitschek:
Presidente Juscelino Kubitscheck. |
Edmundo Monteiro
Edmundo Monteiro nasceu na cidade de São Paulo no dia 11 de junho de 1917, filho de Raimundo Monteiro e de Adelaide Monteiro.
Fez seus estudos no Grupo Escolar do Carmo e na Escola de Comércio Álvares Penteado.
Começou sua vida profissional em 1930 trabalhando como auxiliar de escritório no Diário da Noite de São Paulo. Nesse jornal, do grupo dos Diários Associados, de propriedade de Assis Chateaubriand, chegou, com o decorrer dos anos, ao cargo de chefe do departamento de circulação e, em 1939, de diretor comercial. Tornou-se também diretor de publicidade de O Diário de Santos (SP), periódico do mesmo grupo.
Em 1942 foi nomeado por Chateaubriand diretor-gerente dos Diários Associados, tornando-se um dos principais colaboradores nas campanhas de âmbito nacional que o grupo empreendeu. Entre essas campanhas destacaram-se a que visava a obter aviões para os clubes brasileiros de aeronáutica civil, a de redenção da criança, destinada ao estabelecimento de centros de puericultura em todo o Brasil, a da criação do Museu de Arte de São Paulo (MASP), a de educação e alfabetização e a de socorro às vítimas das enchentes do Rio de Janeiro e de Orós (CE).
Em 1964, como presidente da Associação das Emissoras de São Paulo (AESP), entidade representativa das empresas de rádio e televisão do estado, organizou a chamada Rede da Legalidade, que, no período de janeiro a março desse ano, promoveu a transmissão, para todas as estações da capital paulista, de programas cívicos diários de 30 minutos com o fim de fazer contestação ao governo do presidente da República João Goulart. Ainda nesse ano, com o mesmo propósito, participou diretamente da organização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, contatando empresários e entidades cívicas e convocando-os para esse evento.
Após o movimento político civil-militar de 31 de março de 1964 que depôs João Goulart, promoveu entre maio e julho a campanha Ouro para o Bem do Brasil, considerada pelo então presidente da República, marechal Humberto Castelo Branco, “o grande plebiscito do povo brasileiro para com a Revolução de 1964”.
Em novembro de 1966, foi eleito deputado federal por São Paulo pela legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena), agremiação que dava sustentação política ao regime militar, assumindo seu mandato em fevereiro do ano seguinte. Durante o período legislativo não interrompeu suas atividades de jornalista e empresário, mas se afastou dos Diários Associados por ter a sua saúde debilitada por um enfarte. Deixou a Câmara em janeiro de 1971, ao final da legislatura.
Decepcionado com a vida política institucional, decidiu não entrar em novas disputas eleitorais. Desde então, passou a se dedicar primordialmente ao MASP, do qual foi diretor-vice-presidente por muitos anos, e ao Nacional Clube, onde foi presidente. Afastou-se de tais atividades em 1993, em função da idade e do seu estado de saúde.
Faleceu em São Paulo no dia 7 de setembro de 1996.
Era casado com Olga Monteiro, com quem teve três filhos.
Fonte.
Jornal Diário da Noite, 09 de jul.de 1957. (Arquivo pessoal).
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/monteiro-edmundo
https://www.tuneldotempoleiloes.com.br/peca.asp?ID=4354017#
https://app.al.sp.gov.br/acervohistorico/exposicoes/9-de-julho/
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
25/08/2020.
MEUS PARABÉNS PELO SEU TRABALHO DIGNO EM PROL DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE 1932. O NÚCLEO TRINCHEIRAS DE JAGUARIÚNA É UM DOS MAIS IMPORTANTES GRAÇAS À SUA HONRADA PRESIDÊNCIA.
ResponderExcluirMuito obrigada prezado Cel. Mário Ventura. Fiquei muito feliz e lisonjeada com suas palavras.
ResponderExcluirAbraços, Maria Helena.