Sobre Sylvio Galvão, encontrei no “Blog do
Delmanto”, em Revolução
Constitucionalista de 1932 & a Participação de
Botucatu! este trecho, transcrito
abaixo, que descreve bem a grandeza deste Herói de 32:
Em memorável artigo,
sob o título de “Honra ao Mérito”, publicado no jornal “Correio de Botucatu”,
de 22/07/1932, o ilustre magistrado destaca o perfil dos principais líderes na
mobilização da juventude, com credibilidade, civismo e competência:
“O exemplo, que vou
citar, é digno de registro e louvor públicos.
Assim que irrompeu no
Estado o movimento cívico a que assistimos, Botucatu, como se lembram, fremiu
de entusiasmo, numa congregação de todas as suas forças, para os preparativos
da luta, a que não podíamos deixar de concorrer.
À frente da propaganda
patriótica que urgia empreender; puseram-se logo dois expoentes da nossa
intelectualidade.
Uniram-se, captaram
outros elementos de influência; organizaram e logo entraram a executar um
programa de ação, vasto, multiforme e trabalhoso. O resultado está na memória
de todos: alistamento, comícios, predicas cívicas e toda sorte de atividades em
prol da causa sagrada.
Nos comícios,
notadamente, foi preponderante o papel desses moços, pelo prestígio e fecúndia
do seu verbo. Oradores completos, no fundo e na forma, as suas orações calavam,
seduziam, arrastavam e estimulavam a palavra de outros. Nesse terreno, o que se
viu foi uma verdadeira batalha de eloquência, soberba de frutificação.
Um dia, soube que os
dois arautos iam partir, incorporados aos reservistas da terra. Sobressaltei-me
ante a visão da lacuna sensível que íamos sofrer. Temi um esmorecimento no
nosso trabalho de predicação cívica, necessário ainda para manter viva a chama
patriótica em todas as camadas populares.
E porque assim pensei,
resolvi intervir, procurando primeiro as autoridades militares, a ver o que era
possível no sentido de retardar um pouco a partida dos dois moços. E fui feliz
nesse primeiro passo. De inteiro acordo os chefes militares, subordinaram o
caso unicamente à vontade dos dois interessados.
Fui, então, a eles, a
cada um de per si, reservadamente. Expus-lhes a minha opinião, com os
argumentos superiores que me animavam. Mostrei-lhes quanto a sua colaboração
aqui, no trabalho que iniciaram e deviam prosseguir, pela palavra e pela pena,
era indispensável, e muito mais eficiente e real, incomparavelmente que o
tributo das armas, a que se propunham. Não se tratava de furtá-los, por
sentimentalismo de amigo ou admirador, aos azares da guerra. Meu escopo era
mais nobre, justo, superior, pois visava não perdermos aqui dois elementos à
mantença do fogo sagrado. Nem só de soldados se precisa nos momentos como este,
máxime quando há pletora de guerreiros.
O concurso intelectual,
o trabalho da pena e, sobretudo, a força da palavra, são inestimáveis. Isso, o
que estamos vendo na Capital, onde a flor da intelectualidade paulistana está a
postos, dia e noite, na imprensa, na tribuna, nos comícios, nos microfones, em
suma, no trabalho de exortação cívica, sem a qual pouco conseguiria a
materialidade da guerra.
Enfim, fui eloquente
como pude para atingir o meu desideratum.
Ouviram-me, entre
sensibilizados e modestos. Afinal, quando lhes coube opinar, não hesitaram, e a
resposta, de um como de outro, foi uma só:
- “Dr., impossível
acatar o seu apelo. Sentimos, não apenas pensamos, sentimos necessidade de
partir, isto, em nós, é superior às razões que o Dr. nos apresenta, a despeito
da superioridade bondosa em que são calcadas. Preferimos seguir. Talvez a nossa
utilidade nas fileiras seja mesmo menor do que aqui. Mas, já demos um pouco da
nossa inteligência à causa que esposamos. Queremos, agora, dar largas ao
coração...
E assim foi que
partiram esses dois moços que se chamam SYLVIO GALVÃO e AMARAL WAGNER.
Se já eram grandes no
meu conceito, agigantaram-se agora.
Pesquisando
ainda, sobre o Soldado Sylvio Galvão encontro uma referência a ele em uma
palestra ocorrida no dia 10 de setembro de 2019, no Instituto de Biociências da
Unesp em Botucatu, proferida pelo Professor Ricardo Galvão, físico,
engenheiro, integrante da Academia Brasileira de Ciências, professor titular do
Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), ex-diretor do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Neto do nosso Herói de 32, disse o
seguinte ao final de sua explanação:
O maior equívoco de
quase todos os governos no Brasil é o de ignorar os conhecimentos científicos
para a tomada de decisões e o desenvolvimento de políticas públicas eficientes.
O País vive um momento
de “obscurantismo” temeroso que precisa ser enfrentado pela sociedade. “A
Ciência não pertence à direita ou à esquerda. Não devemos deixar que nossas
convicções políticas e ideológicas turvem nossos olhos quando estamos tratando
de Ciência. Infelizmente o ignorante é soberbo. Por isso não podemos dar
opiniões gratuitas ou responder de maneira superficial. Mas sim com Ciência.
Não acredite em super-heróis ou mitos”, enfatiza o professor, que se emocionou
ao final da palestra ao ler um texto sobre a mobilização de Botucatu na
Revolução Constitucionalista de 1932, na qual teve participação importante de
seu avô, professor Sylvio Galvão. “Aprendi com ele a não fugir ao bom combate”,
finaliza.
A
palestra completa do professor Ricardo Galvão no Instituto de Biociências da
Unesp em Botucatu pode ser visualizada na íntegra no canal da Agência de
Divulgação Científica do IBB, no Youtube.
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Voluntários de Botucatu. |
Transcrevo,
a seguir, parte do artigo que foi publicado no Jornal Tribuna do Norte, em 1ºde
setembro de 2020, tendo como autor Altair Fernandes Carvalho. Interessantes as
cartas escritas pelo Soldado Constitucionalista Sylvio Galvão à sua amada Maria,
escreveu das trincheiras onde combatia.
Cartas escritas nas
trincheiras, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, lá onde os
paulistas enfrentaram os irmãos em nome de uma Constituição para o Brasil. Seu
autor, embora não tenha sido pindamonhangabense (era de Botucatu) teve uma relação
histórica com este município. Foi um dos formandos da turma de 1920 da Escola
de Farmácia e Odontologia, a primeira faculdade de Pindamonhangaba.
Infelizmente nosso
material não é quantitativo nem tem qualidade. São cópias xerocadas, quase
apagadas, de cartas enviadas pelo doutor (também era advogado), professor e
poeta Sylvio Galvão, a sua esposa a qual ele amorosamente tratava de Maria…
Pesquisando,
constatamos que as cartas na realidade eram cartões distribuídos à tropa.
Identificados pela patriótica frase “Tudo por um São Paulo forte no Brasil
Unido” e a denominação Correio Militar MMDC, traziam ilustrações nas quais se
destacavam as bandeiras paulista e brasileira e o combatente
constitucionalista, com espaço para o nome do batalhão e do soldado. O local
destinado à escrita ficava entre duas frases; acima, um estímulo: “O entusiasmo
das tropas apressa a vitória”; abaixo, no final desse espaço, um pedido: “Pais,
mães, irmãos, amigos escrevei aos vossos soldados queridos despertando-lhes o
entusiasmo”.
Da correspondência de
Sylvio Galvão a sua amada, tivemos acesso a algumas mensagens enviadas da
frente de batalhas onde ele se encontrava. As transcrevemos a seguir, numa
sequência baseada nas datas em que foram escritas.
Fazenda
Retiro,
24
de julho de 1932
Maria…
Que
saudade bravia! A quietude das trincheiras pelo ‘front’, como dizem, dá-nos a
ilusão de que a luta terminou. Soube agora mesmo que me enviaste o dinheiro
pedido.
Obrigado
Sylvio
Fazenda
Boa Vista,
21
de agosto de 1932
Maria…
Escrevo-te
da trincheira. A minha escrivaninha é o fundo de um prato. Lindo lugar onde
estamos. Verdadeiramente lindo. À esquerda, a cavalaria escura dos picos da
Mantiqueira, a menos de um quilômetro à frente. Atrás, e à direita da casa da
fazenda, a cerca de 200 metros, um panorama surpreendente… é um lençol
amarrotado de morros em plano inferior, cambiado do azul escuro ao verde,
vermelho, amarelo… Lá adiante, o cruzeiro, à noite, visto daqui, é uma joia
constituída de diamantes. Pouco adiante de nós, está Atibaia, invisível daqui.
Dos homens que vieram comigo poucos ainda me acompanham. O nosso batalhão é
extraordinário de resistência. Existem destacamentos dele por toda a parte
desta região. Muitos dos prisioneiros nestes últimos dias foram feitos por nossa
gente. No domingo passado assistimos a um belo combate de aviões sobre o morro
onde estávamos: dois contra dois.
A
saudade por aqui “urra na caixa do peito”. E o frio! Cruzes! Chuva todos os
dias!
Adeus,
abraços do Sylvio
PS.
Lulu está aqui e vai bem
Fazenda
Retiro,
23
de agosto de 1932
Maria…
Não
se impressione com a falta de notícias. Quando elas faltam é porque tudo vai
bem. No momento em que escrevo, por exasperação, não se ouve um só tiro, nem
longe nem perto. Telegrafei há dias, pedindo-lhe mandasse 100$000, mas parece
que você não recebeu o telegrama. Perdi a carteira com 90$000.
Adeus,
abraços do Sylvio
Pinheiros,
26
de agosto de 1932
Maria…
Tenho
uma vontade doida de conversar com você pelo telefone, mas… talvez só possa ir
a Cruzeiro amanhã. As mulheres paulistas têm sido admiráveis em dedicação; mas
falta ainda uma coisa: é empurrar para as trincheiras muita gente fardada que
se exibe pelas cidades. É fácil conhecer os verdadeiros servidores da nossa
causa. Eles têm três diferenças infalíveis: barba, sujeira e carrapatos.
Soldado bonito nunca deu tiro.
Adeus.
Abraços do Sylvio.
Trincheira
da Matta,
29
de agosto de 1932
Maria…
Suas
cartas têm-me chegado com 15 a 20 dias de atraso. Ainda hoje recebi um bilhete
postal datado de 15 do corrente. Às duas horas você deve estar em Botucatu, se
é que não resolveu aproveitar mais a oportunidade do passeio. Eu continuo aqui.
Já me sinto cansado. A sujeira também cansa. Aqui não há novidades. Neste
momento, aviões nossos lançam cerca de trinta bombas sobre o inimigo. Entre a
nossa gente e a das trincheiras da frente há troca há troca de “amabilidades”
de fuzil e de boca.
Adeus.
Abraços do Sylvio
Trincheiras
do Piaguy,
27
de setembro de 1932
Maria…
Quisera
celebrar meu aniversário em casa, mas não é possível, pelo que vejo. Celebro-o
aqui mesmo. O inimigo está “camarada”. Ante ontem os nossos foram esfogueteá-lo
nas suas trincheiras! Aqui, somos onze “valientes” sendo a maioria de
estudantes.
Adeus.
Abraços do Sylvio
Trincheira
do Piaguy,
28
de setembro de 1932
Maria…
Trinta
e quatro anos hoje. Não podendo celebrar a data com vocês, celebro-o com a
minha família daqui, onde estão o Luís, o Serrador, o Paulo Moreira Barbosa, o
(nome ilegível na cópia da carta), o Jordano, o (outro nome ilegível) e outros.
O Liacca e o Serafim chegaram hoje. Recebi a carta que este trouxe e o
dinheiro. Estou bem de finanças.
Obrigado
e adeus. Abraços do Sylvio
Trincheiras
do Piaguy,
29
de setembro de 1932
Maria…
Nada
de novo na frente do Paraíba… É só o que lhe posso contar a respeito do que se
passa. Tenho um palpite de que estamos no fim. E Deus permita que assim seja,
pois já não aguento mais de saudades. Meu coração festeja esta possibilidade
meio tola…
Adeus.
Abraços do Sylvio.
Em
1932 a casa do Dr. Sylvio Galvão, em Botucatu, serviu como um pequeno quartel
general, para apresentação de voluntários e recebimento de auxílios para o
movimento constitucionalista. Numerosos botucatuenses se incorporaram aos
Batalhões do Exército, da Policia e de Voluntários.
Pelas
localização, nas cartas, Sylvio Galvão lutou nas imediações da Frente Pinheiros,
na região de Cruzeiro e Túnel da Mantiqueira.
Considero
estas cartas de grande valor histórico.
Honras
ao Herói de 32!
Nas
imagens, alguns cartões postais e informativos, distribuídos pelo Correio Militar M.M.D.C.
Fonte.