PEDRO DE TOLEDO
Motta Filho.
“Quando a revolução de 32 era um incêndio, eu me preocupava com o velho Pedro de Toledo. Era o último a levantar do Palácio. Estava exausto e debilitado. Precisava atender a todos. A sua presença era necessária em toda parte. Mas como viver assim, nesse milagre de esforço esse chefe revolucionário, indispensável, como uma bandeira e que estava tão acabado e tão doente?!
E eu me preocupava com isso. Queria ampara-lo para que baqueasse.
E ele, sereno, como sua consciência, imperturbável como o seu heroísmo, mantinha-se no posto que lhe deram.
Mantinha-se, como um santo e como um herói. Como um santo, pela compreensão mística que tinha do sacrifício do povo paulista, como herói, pela compreensão irrepreensível que tinha da honra cívica.
- Os aviões inimigos voavam sobre o Palácio. Era necessário resguardar o velho governador. Mas ele não arredava o pé. – Saiam todos, eu fico, dizia.
Os comunistas iam atacar o Palácio.
– Pois ataquem. Saiam todos, eu fico.
Depois o drama final. Ele sozinho, no hall do Palácio. A cidade enlouquecera. Os presos de guerra estavam soltos e faziam tropelias. Não havia mais autoridade. Havia a desgraça coroando o sacrifício inaudito.
Pedro de Toledo seria arrancado do Palácio. Nas mãos inimigas seria um crucificado. Entregue à loucura de grupos armados, morreria estraçalhado entre feras: Era pois necessário arreda-lo do Palácio, de qualquer maneira. Baldado esforço.
- Mas, Vossa Excelência não é mais nada. Nada mais representa. A sua vida é sagrada para nós.
Levantou-se o Governador. Vejo-o nitidamente. O busto erguido e no rosto pálido, o olhar acusando a firmeza de sua convicção. Ele que nunca se indignava, estava indignado.
- Saiam todos, eu fico.
E ficou.
A tarde descia, cheia de sombras tristes. O Palácio mergulhava-se em sombras. Nas suas grandes árvores, chilreavam os pardais, indiferentemente...
O Governador de São Paulo estava transfigurado. Passou seu braço no meu e caminhamos juntos. Eu tinha vontade de chorar. Eu tinha medo que a desgraça o matasse... Mas ele era ele, era o eleito do povo paulista. A sua fé era imensa. Ouvi na penumbra desolada, a sua frase, que era claridade:
- Não, meu caro. Beberei todo o cálice de fel. Mas, São Paulo, de derrota, em derrota, chegará, a Vitória!
Morreu agora, já estava escuro, quando o estava cheio de vida. São Paulo estava falando alto, chorando alto, junto à sepultura de seu grande filho!
O adeus foi imenso. E, depois desse adeus inesquecível, ficou em nós, o exemplo tocante desse homem, exemplo inesquecível, exemplo que faz renovar a nossa crença e robustecer a nossa confiança nos destinos de São Paulo.”
O texto acima foi publicado no jornal “Borba Gato” o “Panfleto de São Paulo” no dia 09 de agosto de 1935.
Governador Pedro de Toledo.
Pedro Manuel de Toledo nasceu em São Paulo, 29 de junho de 1860, foi um advogado, diplomata e político brasileiro. Foi o quarto interventor federal a ocupar o governo do estado de São Paulo. Era filho de Manuel Joaquim de Toledo e de Ana Barbosa Toledo. Seu avô paterno, Joaquim Floriano de Toledo, foi secretário particular do Imperador Dom Pedro I, além de deputado geral e vice-presidente da então província de São Paulo entre 1848 e 1868. Seu tio, Visconde de Ouro Preto foi também deputado geral, senador, ministro da Marinha, ministro da Fazenda, conselheiro de Estado presidente do último Conselho de Ministros do Império em 1889. Faleceu no Rio de Janeiro no dia 29 de julho de 1935.
Em 7 de março 1932, foi nomeado interventor federal em São Paulo. Nesse cargo, participou do movimento constitucionalista de 1932, que culminou na Revolução Constitucionalista ocorrida entre 9 de julho e 2 de outubro de 1932, tendo sido Pedro de Toledo o comandante civil do movimento, após o episódio de 23 de maio de 1932, quando foram mortos Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, durante manifestações que reivindicavam a Reconstitucionalização do país e a saída de Getúlio Vargas da Presidência da República, cujas iniciais deram origem ao movimento MMDC. Em 10 de julho, após a deflagração do levante, Pedro de Toledo renunciou ao cargo de Interventor de São Paulo e logo na sequência foi então aclamado pelo povo Governador de São Paulo, cargo que exerceu até o fim do conflito. Após três meses de combates nos quatro cantos do estado, São Paulo foi derrotado militarmente e Pedro de Toledo foi deposto em 2 de outubro pelo Comandante Geral da Força Pública de São Paulo, Herculano de Carvalho e Silva, que naquele dia já cumpria ordens de Getúlio Vargas, na sequencia foi preso e exilado em Portugal, somente retornando ao Brasil após a anistia geral concedida em maio de 1934
Motta Filho.
Cândido Motta Filho, advogado, professor, jornalista, ensaísta e político, nasceu em São Paulo, SP, em 16 de setembro de 1897, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4 de fevereiro de 1977.
Participou da Revolução Constitucionalista, no gabinete do Governador Pedro de Toledo, juntamente com Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia. Em 1934, com Antônio de Alcântara Machado, integrou o Escritório Técnico da bancada paulista, destinado a coordenar os dados para a elaboração da Constituição Federal. Durante o Estado Novo, sucedeu a Cassiano Ricardo no Departamento de Imprensa e Propaganda e, após o período de adaptação constitucional, foi chefe de gabinete do Ministro Honório Monteiro e, a seguir, Ministro do Trabalho do Governo Gaspar Dutra. Depois da morte de Getúlio Vargas, com o Governo Café Filho, ocupou o cargo de Ministro da Educação e Cultura. Foi presidente nacional do Partido Republicano, sucedendo a Artur Bernardes.
Fonte.
Imagens e texto arquivo pessoal
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo
26/04/2019