Relata o General Nestor Penha Brasil.
Taborda dizia que o Setor Sul não seria causador de derrota.
Coronel Taborda |
Quando eclodiu a Revolução Constitucionalista, o então Tenente Nestor Penha Brasil, agora General Comandante da II Divisão de Infantaria, deixou a Escola do Estado Maior no Rio de Janeiro, e veio lutar ao lado dos paulistas, no Setor Sul.
A propósito, relatou, há dias, suas observações sobre o caráter das operações militares naquele Setor.
- Não tinha o Exército Revolucionário unidades organizadas e o número de armas era irrisório em comparação com o inimigo que unidades organizadas e armadas regularmente. Nossos contingentes eram formados por estudantes, comerciantes, lavradores, médicos, engenheiros, advogados, funcionários etc. - considerou inicialmente.
Apenas dois canhões no Setor Sul. O que havia sido transportado de Santos (de artilharia costeira) não teria aplicação. Suas balas não detonavam no chão, só explodiam contra couraças de navios. Os batalhões, pela necessidade de dividir suas armas com outros, perdiam a capacidade combativa necessária.
- Além disso – salientou o General Penha Brasil – contávamos com a adesão do Rio Grande do Sul, o que foi um mal, e não olhávamos na direção da vitória, que era o Rio de Janeiro.
Aproximação do Inimigo.
Um pelotão de cavalaria inimiga ocupara a estação de Itararé, sendo rechaçado por tropas paulistas saídas de Itapetininga. O restante desse pelotão aderiu ao movimento, formando ao lado dos Constitucionalistas. Novas patrulhas inimigas chegam e os Constitucionalistas se retraem para Faxina (atual Itapeva) e dali a Itapetininga para onde acabara de chegar o Coronel Taborda que do Rio de Janeiro atingira Santos viajando em canoa. Assumindo o comando, o Coronel Taborda avançou até Buri com as tropas que comandava em Itapetininga, determinando ao 8º Batalhão que descesse até Pinhal e dali, subindo Ribeirão Branco até Faxina mantivesse o inimigo sob ameaça.
No entanto, os ditatoriais tinham enviado toda uma brigada provisória, aguerrida e habituada às correrias do sul do país, dotada ainda de organização, equipamentos e armamento necessários. Tal brigada avançou sobre Buri mantendo combates com os paulistas praticamente desarmados. O Coronel Taborda foi atirado à queima roupa. Conseguindo escapa, determinou a volta das tropas a Itapetininga. Para cobrir a retirada, Marcilio Franco conseguiu reunir 200 homens que formaram no Esquadrão Amaral e no Trem Blindado.
A manobra idealizada por Taborda em relação ao 8º Batalhão não se realizou.
Já em Itapetininga, o Coronel Taborda preparou-se para tornar a Buri, sabendo que o inimigo, tendo sofrido baixas, retirava-se. Dessa missão foram incumbidos os esquadrões Amaral e Jardim.
Capitulação de Ribeira.
Tropas paranaenses, da polícia e do Exército, haviam alcançado, no dia 17 de julho, as proximidades de Ribeira, tentando toma-la.
No dia 23 chegam reforços. Os paranaenses galgam a serra e atacam pela frente a cidade, que capitula.
O Coronel Taborda idealizara nova manobra: o Batalhão “9 de Julho” deveria atingir o Ribeirão Branco e posteriormente Faxina para forçar o inimigo a deixar Buri. Mas o “9 de Julho” é isolado em Apiaí pelos adversários. E assim 600 homens e 2 peças, das 8 de artilharia existentes, estavam perdidos.
Era necessária nova operação para atacar o inimigo em Buri, onde estava fortemente alojado.
No dia 6 de agosto, todos os constitucionalistas da região tinham recebido o batismo de fogo.
- O Coronel Taborda estava convicto de que este setor não seria a causa da derrota mesmo com a deficiências de armamento – acrescenta o General Penha Brasil.
Diferença numérica.
Agentes recrutados entre estudantes, atravessaram a linha inimiga para obter informações. Um deles chegou a ser cozinheiro dos adversários. E informavam sempre o que interessava aos paulistas. A pequena aviação também transmitia suas observações sobre tudo quanto acontecia na retaguarda de Buri. A esta altura sabia-se que havia 12.000 ditatoriais fortemente armados na região.
Então o Coronel Taborda organizou a defesa prevendo o ataque. Mas, sem ficar inativo, enviou o 6º Batalhão da Força Pública e o “Borba Gato” que se aproximavam de Buri no dia 10 de agosto de. No entanto, os choques de patrulha de reconhecimento revelaram o plano ao inimigo. Travam-se lutas, e o adversário retrai suas peças de artilharia.
Novos contingentes ao sul engrossam as tropas ditatoriais. Depois de muitos combates, o inimigo progredira ao longo das estradas. No dia 29 de setembro, perto de Taquaral Abaixo, rechaça o “9 de Julho” e no dia 1º de outubro apodera-se desta Vila.
O Coronel Taborda retirou-se, para deter, na linha de Sorocaba e Itu, qualquer eventual progressão do adversário vindo de Campinas. No dia 2 de outubro, 1º B.C.R, que combatera no front desde o início é aprisionado pelo adversário.
A luta prossegue.
No dia 3, inesperadamente para os que se encontravam no Setor Sul, o armistício põe fim à Revolução Constitucionalista.
Transcrição de matéria publicada no jornal Diário da Noite, Edição Especial Comemorativa do dia 09 de julho de 1957. (Arquivo pessoal).
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
14/08/2018.