terça-feira, 14 de agosto de 2018

Depoimento do General Nestor Penha Brasil ao jornal Diário da Noite.




Relata o General Nestor Penha Brasil.



Taborda dizia que o Setor Sul não seria causador de derrota.




Coronel Taborda




Quando eclodiu a Revolução Constitucionalista, o então Tenente Nestor Penha Brasil, agora General Comandante da II Divisão de Infantaria, deixou a Escola do Estado Maior no Rio de Janeiro, e veio lutar ao lado dos paulistas, no Setor Sul.
A propósito, relatou, há dias, suas observações sobre o caráter das operações militares naquele Setor.
- Não tinha o Exército Revolucionário unidades organizadas e o número de armas era irrisório em comparação com o inimigo que unidades organizadas e armadas regularmente. Nossos contingentes eram formados por estudantes, comerciantes, lavradores, médicos, engenheiros, advogados, funcionários etc. - considerou inicialmente.
Apenas dois canhões no Setor Sul. O que havia sido transportado de Santos (de artilharia costeira) não teria aplicação. Suas balas não detonavam no chão, só explodiam contra couraças de navios. Os batalhões, pela necessidade de dividir suas armas com outros, perdiam a capacidade combativa necessária.

- Além disso – salientou o General Penha Brasil – contávamos com a adesão do Rio Grande do Sul, o que foi um mal, e não olhávamos na direção da vitória, que era o Rio de Janeiro.



Aproximação do Inimigo.


Um pelotão de cavalaria inimiga ocupara a estação de Itararé, sendo rechaçado por tropas paulistas saídas de Itapetininga. O restante desse pelotão aderiu ao movimento, formando ao lado dos Constitucionalistas. Novas patrulhas inimigas chegam e os Constitucionalistas se retraem para Faxina (atual Itapeva) e dali a Itapetininga para onde acabara de chegar o Coronel Taborda que do Rio de Janeiro atingira Santos viajando em canoa. Assumindo o comando, o Coronel Taborda avançou até Buri com as tropas que comandava em Itapetininga, determinando ao 8º Batalhão que descesse até Pinhal e dali, subindo Ribeirão Branco até Faxina mantivesse o inimigo sob ameaça.
No entanto, os ditatoriais tinham enviado toda uma brigada provisória, aguerrida e habituada às correrias do sul do país, dotada ainda de organização, equipamentos e armamento necessários. Tal brigada avançou sobre Buri mantendo combates com os paulistas praticamente desarmados. O Coronel Taborda foi atirado à queima roupa. Conseguindo escapa, determinou a volta das tropas a Itapetininga. Para cobrir a retirada, Marcilio Franco conseguiu reunir 200 homens que formaram no Esquadrão Amaral e no Trem Blindado.
A manobra idealizada por Taborda em relação ao 8º Batalhão não se realizou.
Já em Itapetininga, o Coronel Taborda preparou-se para tornar a Buri, sabendo que o inimigo, tendo sofrido baixas, retirava-se. Dessa missão foram incumbidos os esquadrões Amaral e Jardim.



Capitulação de Ribeira.


Tropas paranaenses, da polícia e do Exército, haviam alcançado, no dia 17 de julho, as proximidades de Ribeira, tentando toma-la.
No dia 23 chegam reforços. Os paranaenses galgam a serra e atacam pela frente a cidade, que capitula.
O Coronel Taborda idealizara nova manobra: o Batalhão “9 de Julho” deveria atingir o Ribeirão Branco e posteriormente Faxina para forçar o inimigo a deixar Buri. Mas o “9 de Julho” é isolado em Apiaí pelos adversários. E assim 600 homens e 2 peças, das 8 de artilharia existentes, estavam perdidos.
Era necessária nova operação para atacar o inimigo em Buri, onde estava fortemente alojado.
No dia 6 de agosto, todos os constitucionalistas da região tinham recebido o batismo de fogo.
- O Coronel Taborda estava convicto de que este setor não seria a causa da derrota mesmo com a deficiências de armamento – acrescenta o General Penha Brasil.



Diferença numérica.


Agentes recrutados entre estudantes, atravessaram a linha inimiga para obter informações. Um deles chegou a ser cozinheiro dos adversários. E informavam sempre o que interessava aos paulistas. A pequena aviação também transmitia suas observações sobre tudo quanto acontecia na retaguarda de Buri. A esta altura sabia-se que havia 12.000 ditatoriais fortemente armados na região.
Então o Coronel Taborda organizou a defesa prevendo o ataque. Mas, sem ficar inativo, enviou o 6º Batalhão da Força Pública e o “Borba Gato” que se aproximavam de Buri no dia 10 de agosto de. No entanto, os choques de patrulha de reconhecimento revelaram o plano ao inimigo. Travam-se lutas, e o adversário retrai suas peças de artilharia.
Novos contingentes ao sul engrossam as tropas ditatoriais. Depois de muitos combates, o inimigo progredira ao longo das estradas. No dia 29 de setembro, perto de Taquaral Abaixo, rechaça o “9 de Julho” e no dia 1º de outubro apodera-se desta Vila.
O Coronel Taborda retirou-se, para deter, na linha de Sorocaba e Itu, qualquer eventual progressão do adversário vindo de Campinas. No dia 2 de outubro, 1º B.C.R, que combatera no front desde o início é aprisionado pelo adversário.
A luta prossegue.
No dia 3, inesperadamente para os que se encontravam no Setor Sul, o armistício põe fim à Revolução Constitucionalista.

Transcrição de matéria publicada no jornal Diário da Noite, Edição Especial Comemorativa do dia 09 de julho de 1957. (Arquivo pessoal).















Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
14/08/2018.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Notícias do Front – Revolução Constitucionalista de1932.





Notícias do Front – São Paulo.

                                                                                                  Nilson Carletti.


Encerrando o mês de julho, o cenário geral era de grande preocupação, notadamente quanto ao apoio logístico adequado para o enorme esforço bélico do Movimento Constitucionalista. De 22 a 30 de julho ocorreram combates violentíssimos nas várias frentes, dando ensejo a notícias alarmantes e contraditórias, sucedendo vitórias e derrotas para ambos os lados. Se o número de voluntários que se apresentavam aos postos do M.M.D.C.  e aos quartéis da Força Pública não parava de aumentar – em uma quinzena estima-se que ultrapassavam cem mil homens – por outro lado, a produção do parque industrial não conseguia atender as necessidades para uma campanha que se mostrava longa.
Apenas no setor do Túnel da Mantiqueira, o gasto de munição por dia exigia 30 cunhetes, pelo menos, para que os combatentes pudessem repelir as ondas de atacantes que redobravam de violência a cada jornada; para a artilharia, a mesma carência de munição. Nos dois últimos dias de Julho, as tropas paulistas dispunham de apenas 15 cunhetes nessa região, enquanto que o comandante do setor, Cel. Sampaio, insistia nos pedidos de mais armas, munições e efetivos, encaminhando tais solicitações diretamente ao governador Pedro de Toledo.
A 1º de Agosto, o governador e o comandante militar da Revolução, General Klinger, convocam o engenheiro Gaspar Ricardo Júnior, então diretor da Estrada de Ferro Sorocabana, que recebe uma nova missão: criar fábricas, produzir munições, manter em funcionamento os fuzis e canhões paulistas e sul-mato-grossenses.
Com poderes ilimitados para cumprir a missão, Gaspar Ricardo Junior, iria chefiar o Departamento Central de Munições – D.C.M. com a meta inicial de produzir 400.000 cartuchos para fuzil Mauser, diariamente!
Com o apoio total da Escola Politécnica e da FIESP, em especial, para onde se apresentaram 740 engenheiros e 340 técnicos auxiliares, voluntários para todos os trabalhos a serem desenvolvidos, a primeira decisão de Gaspar foi dramática: mudar de local a Fábrica Nacional de Munições, localizada em São Bernardo do Campo, que estava vulnerável aos ataques aéreos, uma vez que a aviação getulista tinha total supremacia nas operações de ataque a São Paulo. A transferência para novo local secreto foi realizada em 60 horas, apesar do risco de deixar São Paulo à mercê de uma grande ofensiva que acabaria com todo o Exército Constitucionalista. Outra fábrica em área de grande risco era a de Piquete, localizada diante da linha de combate na Mantiqueira e que poderia ser transferida a qualquer momento, senão São Paulo perderia sua única planta de fabricação de pólvora!
Em trinta dias de exaustivo trabalho, o D.C.M. construiu mais uma máquina de conificar cartuchos, tamanho era o temor que a única máquina em operação pudesse parar, caso quebrasse uma única peça – o que significaria a derrota de São Paulo, por absoluta falta de munição para sustentar a Revolução.
Até o final dos combates, o Exército Constitucionalista, combateu com a munição produzida na antevéspera e até na véspera, e que era transportada às trincheiras pelo Serviço de Abastecimento das Tropas em Operações - S.A.T.O.
Ao longo da jornada constitucionalista vários engenheiros e técnicos dedicados pereceram ou sofreram graves mutilações nos acidentes que ocorreram durante os testes de novos explosivos e de novos armamentos - eram os combatentes que caiam no front dos laboratórios e dos campos de testes da campanha constitucionalista!


Nota – No livro, História da Revolução de 32 de Hernâni Donato, o autor cita uma segunda fábrica, montada por Nadir Figueiredo e Heitor Bertucia aumentou a produção e especializou-se em reaproveitar cartuchos enviados das frentes de combate pelo ir e vir ininterrupto dos caminhões do S.A.T.O.
Não havendo quantidade sequer razoável de cobre e de níquel para as camisas das balas, à Escola Politécnica foi entregue a missão de equacionar o problema. De um lado seu laboratório formulou liga especial a partir de alpaca possibilitando o fabrico de oito milhões de tiros. De outro lado, o público, solicitado, levou tanto cobre aos locais de recolhimento que a recepção foi suspensa passados vinte dias de coleta.



 
Combatendo nas trincheiras 




Armamento para proteção anti aérea 







[...] E aqui ficareis, Heróis-Mártires plantados, firmes: — para, sempre, neste santificado torrão de chão paulista.
Para receber-vos, feriu-se ele da máxima de entre as únicas feridas, na terra, que nunca se cicatrizam, porque delas uma imensa coisa emerge e impõe-se que as eterniza.
Só para o alicerce, a lavra, a sepultura, e a trincheira se tem o direito de ferir a terra.
E, mais legítima que a ferida do alicerce, que se eterniza na casa, a dar teto para o amor, a família, a honra, a paz.
Mais legítima que a ferida da lavra, que se eterniza na árvore a dar lenho para o leito, a mesa, o cabo da enxada, a coronha do fuzil; mais legítima que a ferida da sepultura, que se eterniza no mármore a dar imagem para a saudade, o consolo, a benção, a inspiração, mais legítima que essas feridas é a ferida da trincheira, que se eterniza na Pátria a dar a pura razão de ser da casa, da árvore e do mármore.
Este cavado trapo de terra — corpo místico de São Paulo, em que ora existis, consubstanciados, mais que corte de alicerce, sulco de lavra, cova de sepultura, é rasgão de trincheira.
E esta, perene que povoais, é a nossa última trincheira.
Esta é a trincheira que não se rendeu, a que deu à terra o seu suor, a que deu à terra a sua lágrima, a que deu à terra o seu sangue!
Esta é a trincheira que não se rendeu, a que é nossa bandeira gravada no chão, pelo branco do nosso Ideal, pelo negro do nosso Luto, pelo vermelho do nosso Coração.
Esta é a trincheira que não se rendeu... [...]

Trecho da Oração Ante a Última Trincheira, Guilherme de Almeida.



Fonte das imagens.
https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/



Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
01/08/2018.

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA.

  Os homens de cor e a causa sagrada do Brasil   Os patriotas pretos estão se arregimentando – Já seguiram vários batalhões – O entusias...