“O COMBATENTE THEODOMIRO IGNACIO CONTA COMO ERAM “REPRODUZIDOS” OS AVIÕES PAULISTAS”.
- ‘DEPOIMENTO DE UM VETERANO SOBRE A AVIAÇÃO CONSTITUCIONALISTA”.
- OS BOMBARDEIOS SOFRIDOS POR CAMPINAS”.
- 24 BOMBAS PARA DESTRUIR TRÊS AVIÕES”.
- “CAMUFLAGEM: ARMA DE MUITO VALOR”.
- “A FERIDA QUE TENHO SOMENTE PODERÁ SER CICATRIZADA NA HORA DE MINHA MORTE”.
- “A TRAGÉDIA NO GUARUJÁ”.
“Nesta série de entrevistas com veteranos de 32, ouvimos o depoimento valiosíssimo de Theodomiro Brum Ignacio, gaúcho de Livramento, que teve grande desempenho na Revolução, lidando com os aviões paulistas. Ei-lo:
“- Cheguei de Mato Grosso no dia 14 de julho, e apresentei-me na Praça da República. Minha especialidade era aviação, de forma que fui incorporado no único grupo de luta da Aviação Constitucionalista, no Campo de Marte, composto de dois Potz, franceses, três aparelhos do Correio Aéreo e um Waco, inglês. Trabalhamos sob o comando do Cel. Lysias Rodrigues, nos três setores de combate: Norte, Oeste e Sul”.
CAMUFLAGEM.
“- No Campo de Marte, à noite, continua o veterano Braum Ignacio – com grude e papel, ficavam transformados os aviões, de paulistas em ditatoriais, porque colocávamos neles papel vermelho. De madrugada, quando já o grude estava seco, os aviões voavam por Faxina, Buri, Itararé, no Sul e as tropas inimigas não desconfiavam de nada. Jogávamos boletins convidando os soldados a defenderem a causa constitucionalista, fazíamos reconhecimento e voltávamos para Marte, onde o papel era retirado. Horas depois, quando se apresentavam os verdadeiros aviões “vermelhinhos”, eram recebidos a rajadas de metralhadoras pelas tropas ditatoriais, que pensavam serem aqueles aviões dos paulistas. Assim, provocamos grande confusão no inimigo. Chegando nossos aviões em Marte, tirava-se a papelada e fazia-se um raíde no mesmo lugar onde se tinham espalhados os boletins e em vez de boletins os aviões levavam bombas. Depois de algum tempo, os ditatoriais estavam tão confundidos, que quando ouviam o ronco de avião sumiam, pois não sabiam se era avião amigo ou inimigo”.
OUTRA CAMUFLAGEM.
- Em Itapetininga– conta ainda nosso entrevistado – fomos atacados três vezes por uma composição de 25 aviões da ditadura. Nosso campo ficou que parecia um “Vesúvio”, mas não atingiram nenhum avião paulista, pela seguinte causa: no chão estavam pedaços de panos, caixotes, tocos, latas velhas, camuflados como se fossem aviões. O inimigo estava satisfeito, pensando que tinha destruído a Aviação Constitucionalista, mas no mesmo momento estávamos na retaguarda do grosso da força aérea deles, bombardeando suas linhas. Idêntico bombardeio sofremos em Lorena. Nossos aviões se achavam em um campo de emergência, e foram escondidos no mato. Eram dois (ou) e três Wacons.
NOSSOS AVIADORES.
Continuando suas declarações, conta ainda o veterano Ignacio como se perdeu um avião escola:
- Um teco-teco, o avião pilotado por Rosário Russo, certa vez foi fazer reconhecimento à noite e se espatifou numa aterrisagem forçada. Ele não tinha gasolina, por ser pequeno e haver voado muito e assim não pode chegar ao campo.
-Nossos pilotos – diz ainda – se portaram como verdadeiros heróis. O maior e mais brilhante foi Lysias Rodrigues. Também tivemos Daniel Camargo, Mota Lima, o então Sargento Joca, do Corpo de Bombeiros, José Angelo Gomes Ribeiro e o então Major Ivo Borges.
NO SETOR OESTE.
- A Coluna Romão Gomes– prossegue o veterano Theodomiro Ignacio – estava espalhada por várias cidades da frente Oeste de combate e nossos aviões estavam num campo de emergência no Chapadão, em Campinas. Como era campo aberto, sem recursos para esconder os aparelhos, mudamo-nos para o Hipódromo de Campinas, onde os aviões ficaram escondidos debaixo das arquibancadas. Então, o inimigo começou a bombardear a cidade, procurando atingir-nos. As bombas nunca alcançaram o alvo, caindo na Avenida Andrade Neves e na Praça da Estação, principalmente. Mas matavam crianças e cidadãos indefesos. O povo achava-se revoltado, e perguntavam: - “Onde estão os aviões constitucionalistas?”, não sabendo que nossas metralhadoras não tinham mais munição, nossos motores não davam força necessária e adequada e não tínhamos nada para substituir e o material humano estava esgotado. Para evitar que a carnificina continuasse, mudamos para a Fazenda Vira Copos, entre Indaiatuba e Campinas.
A Coluna Romão Gomes ia sendo envolvida pelo inimigo, comandada pelo General Jorge Pinheiro e para que os nossos soldados não caíssem prisioneiros, era preciso ser destruída a Estação de Amparo. Então o Major Ivo Borges mandou-me, junto com o Tenente Mota Lima, para destruir a dita Estação. Saímos numa madrugada com visibilidade zero, bússola nula, altura 3 mil metros. Gasolina para duas horas e quinze minutos. Voamos até Poços de Caldas, passando por Prata e retornamos para Serra Negra. E não havia meio de localizar Amparo. Nosso avião estava camuflado: Era um falso “vermelhinho”. As bombas tinham de ser despejadas. Mas onde, se não encontrávamos o alvo? Por fim tínhamos gasolina para 5 minutos apenas. Diminuímos a altitude e avistamos, em frente das ruinas duma igreja, três pontos vermelhos. Eram os aviões que bombardearam Campinas. Resolvemos lançar todas as bombas neles. Como nosso avião era de duplo comando, eu dei o “Pique” e Mota Lima despejou as 24 bombas em cima dos três aviões, os quais incontinente ficaram reduzidos a cinzas. Sabendo do acontecido, o povo de Campinas festejou, mas transferimo-nos para Marte, temendo represália à cidade.
A TRAGÉDIA DO GUARUJÁ.
Reportando-se agora para outro fato da Revolução, diz o Veterano Theodomiro Brum Ignacio, com profunda tristeza:
- Na madrugada do dia 24 de setembro, saíram para o litoral, numa missão muito elevada, três Curtis, mas não para bombardear a esquadra, como muitos pensam. Dessa missão dependia a vida ou a morte, o triunfo ou o fracasso da Força Constitucionalista, porque São Paulo não tinha mais nenhum cartucho para queimar. E Na baia de Santos achava-se o “Rute”, que trazia munições para nós. Mas ele não podia entrar em Santos, pois a esquadra o bloqueou. A Aviação Constitucionalista tinha de dar cobertura, para entrar. O avião paulista dirigido por Gomes Ribeiro e Machado Bitencourt, foi bombardeado por um canhão antiaéreo do cruzador “Rio Grande do Sul”. Os aviadores morreram nas águas do mar. Nesse dia no Campo de Marte, todos choraram. Desde o Comandante ao simples soldado. Uma comissão de moças, não sabendo o que tinha acontecido levara um buque de flores, biscoitos e outros presentes para nós, em Campo de Marte, mas os doces e biscoitos ninguém podia comer, nos faziam dor na garganta. E as flores serviram para adornar o altar, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, para a missa celebrada no único hangar, encomendada pelo Embaixador Pedro de Toledo. À noite, após o clarim ter tocado “silêncio”, no cimento úmido e frio, todos ajoelhados, nossos terços, rezávamos pelas almas daqueles que tombaram heroicamente por São Paulo e pelo Brasil – afirma o veterano Ignacio, comovido. Seus corpos, em nossas lembranças, serão sempre orvalhados pelas lagrimas de todos os companheiros de luta. Dias após a Revolução terminava, eu segui para a Fortaleza de Santa Cruz, e daí para o exílio. A ferida que tenho dentro do coração, somente poderá ser cicatrizada na hora da minha morte”.
O texto acima foi transcrito de publicação do jornal “A Gazeta” de 17 de julho de 1957, da coluna “Falam os Veteranos”.
Fotografia junto ao texto sem legenda. 2º Sargento Theodomiro Brum Ignacio |
Fonte.
Arquivo pessoal.
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
20/06/2017.
a luta heroica dos combatente paulistas de 32, ficaram eternamente gravado na alma do povo brasileiro. Nnguem vai apagar
ResponderExcluirBom dia Sra Maria Helena, fantástico material, admiro seu blog por conter tão Rico material sobre orgulho de ser Paulista,esses conhecimentos, devem ser repassados através das gerações futuras, sou muito grato por partilhar,tantos fatos históricos ricos de detalhes. Muito obrigado um forte abraço,Ronaldo Canato Molina.
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