O General Brasílio Taborda, revolucionário constitucionalista, comandou a praça de Santos, do Setor Sul e foi chefe de Polícia da cidade de São Paulo nos dias de lutas de 1932, narra fatos ocorridos durante a Revolução Constitucionalista em entrevista para a revista “O Mundo Ilustrado”.
Entrevista do Gal. Brasílio Taborda - Revista "O Mundo Ilustrado". |
Transcrição da entrevista:
“- Fui surpreendido com a notícia do início da Revolução no dia 9 de julho, pois que o combinado era para uma semana depois. Borges de Medeiros havia comunicado aos conspiradores que não se responsabilizaria pelo Rio Grande se o movimento fosse deflagrado antes de 15 ou 16.
Aventura.
- Apesar disso, cumpri meus compromissos com meus camaradas revolucionários. Abandonei o E.M. do Exército, onde servira e estive escondido, aqui no Rio, até o dia 14, pois havia ordem de prisão contra mim.
- Disfarcei-me de pescador, com roupa e chapéu apropriados e os respectivos tamancos e parti, numa lancha de pesca, levando comigo, também assim disfarçados, os aviadores José Gomes Ribeiro (que morreu em combate) e Orsini Coriolano, hoje Brigadeiro, e mais o jovem Mario Machado Bittencourt (neto do Marechal Machado Bittencourt Campos Salles), morto com José Gomes Ribeiro, com quem voava como observador.
- Embarcamos na Ponta Semambetiba (Sepetiba) à meia noite de 15 para 16, navegamos para o sul.
- Em Santos, encontramos ameaça de greve dos estivadores e instabilidade na praça. Em frente ao comando local, uma sentinela mandou-me descer no passeio. Disse-lhe que tinha um recado do Coronel Taborda para o Comandante. Ele olhou o “pescador sujo, mal vestido, de tamancos” e chamou um cabo. Escoltado por duas praças e o cabo fui conduzido ao gabinete do comando, onde os soldados se assustaram ao ver o Capitão (hoje General) Rodrigo José Mauricio levantar-se e abraçar-me.
Comandante, em Santos.
-Viajamos para São Paulo em automóvel e ainda disfarçados de pescadores
- continuou o General Taborda – na rua Conselheiro Crispiano, o sentinela não quis deixar que eu entrasse no Q.G. do General Klinger. Mas, afinal, estava eu na sala de espera e vendo a porta aberta, entrei. O Capitão Scipião de Carvalho avançou contra o “pescador” perguntando o que queria ali. Mas, Klinger já me abraçava.
- Arranjaram-me uma farda e fui mandado para Santos, para comandar a praça.
- Poucos dias estive ali. Estava eu redigindo as últimas instruções para a defesa da praça caso fosse atacada pela Esquadra, quando recebi ordem telefônica do General Klinger para assumir o comando do Setor Sul, com urgência.
Pânico no Sul.
- Cheguei em Itapetininga antes do amanhecer de, se não me engano, no dia 22 de julho. Muita força retirava-se em debandada, É que ante o ímpeto da ofensiva de Waldomiro Lima, em Itararé, o Coronel Moraes Pinto, da Policia Paulista, que comandava aquele setor ordenara a retirada. A situação era de pânico e desordem. O Comandante abandonara sua tropa.
- Em Itapetininga, encontrei um batalhão de provisórios da Polícia, de 300 praças. Foi a primeira tropa que pus sob meu comando e fiz regressar ao “front” no caminho um. A seguir, encontrei um esquadrão de cavalaria da, Polícia de São Paulo comandada pelo Capitão Amaral, que vinha indignado com a infâmia cometida pelo Coronel Moraes Pinto. Esse Capitão Amaral, então sob meu comando, prestou relevantíssimos serviços.
- Recebi mais algum, a tropa e, vindo em retirada por falta de Comando Geral, o Batalhão 14 de Julho, composto por médicos, advogados, engenheiros, etc., uma autêntica tropa de elite.
- Reunindo toda a pouca tropa de que dispunha, já no dia 26 tinha organizado toda a linha de defesa, depois de ter reconquistado 70 quilômetros, apesar de infelizmente não dispor, como artilharia, senão de uma bateria vinda de Mato Grosso e com pouca munição.
Ironia da sorte.
- Terminara o pânico. Poderíamos fazer frente, como o fizemos, à numerosa tropa legalista comandada pelo General Waldomiro Lima.
- Ordenei uma missão durante à noite, sob o comando do Tenente Negrão. Pela manhã, as 8:00 horas comunicou – me ele que a patrulha havia alcançado o E. M. de um contingente da Brigada Militar do Rio Grande do Sul e que, no tiroteio, o comandante gaúcho havia morrido ante as metralhadoras da patrulha. Somente mais tarde vim a saber que o comandante morto era o Coronel Aparício”.
Estes relatos foram publicados na revista “O Mundo Ilustrado”, nº 76, Ano II, 14 de julho de 1954, RJ. Arquivo pessoal.
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
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