Baseado em informações, contidas em artigo sobre “Os Perolas Negras”, faço algumas considerações sobre a participação de Negros na Revolução de 1932. Uma homenagem ao Dia da Consciência Negra.
Com início da guerra, estruturou-se em São Paulo o Exército Constitucionalista composto por unidades do Exército Brasileiro sediados no Estado, da Força Pública e de Batalhões de Voluntários civis. Muitos dos batalhões eram criados por categorias especificas como universitários, comerciários, esportistas, ferroviários, professores, comerciários e funcionários públicos. Alguns dos batalhões tinham como marca distintiva a etnia ou nacionalidade, como o de italianos, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses, alemães, ingleses e índios.
A população negra também criou, no dia 14 de julho de 1932, um batalhão específico batizado de “Legião Negra de São Paulo”.
Os batalhões de voluntários que se apresentavam recebiam um treinamento inicial, armamento, equipamento (roupa e munição, entre outros) e as bandeiras do Brasil e de São Paulo. Após uma cerimônia pública de juramento eram enviados para o campo de guerra. A maioria dos voluntários nunca havia manejado um fuzil. O treinamento militar, com duração de dois ou três dias, consistia de instruções básicas de armamento, tiro, ataque e defesa, geralmente ministrado por militar da Força Pública.
O Jornal A Gazeta noticiou o clima que imperava na Legião Negra nessa fase de preparação prévia:
“Ontem visitamos o quartel general da Legião Negra, na Chácara Carvalho. Impressionou-nos a harmonia, disciplina, alegria, reinantes entre as centenas de homens de cor que ali aprendiam a marchar, a manejar os fuzis, atentos à lição que lhes ministravam os instrutores. Na melhor ordem no canto da rua Vitorino Carmilo, à paisana, aprendiam os métodos de defesa nas trincheiras, simulavam combates à arma branca, avançadas de rastros 220 homens. A voz de comando entusiasmava-os. Parecia até que já se julgavam nas linhas de fogo, tal o entusiasmo com que se arrojavam no combate simulado”.
A Legião Negra atuou, mormente na Frente Norte e na Frente Sul (ou do Paraná).
Dentre as lideranças militares negras, alguns nomes que precisam ser lembrados: Tenente Silva Barros comandou o 1º Pelotão. Tenente Henrique destacou-se pela bravura que comandou uma das tropas da Legião Negra na Frente Norte, em Vila Queimada. Tenente Newton Ribeiro da Catta Preta, eficazmente coadjuvado pelos Tenentes Alexandre Seabra de Mello e Mário Leão, lutaram com desassombro nas diversas frentes de combate, um dos comandantes que mais se destacou foi o Tenente Arlindo e era ídolo dos negros.
As Emissoras Paulistas (Record, Educadora e Cruzeiro) cotidianamente noticiava as pretensas vitórias do movimento e realizava efusivas homenagens, como a realizada a favor da Legião Negra:
“A Rádio Cruzeiro irradiou um interessante programa em homenagem aos destemidos soldados da Legião Negra de São Paulo. A Legião Negra continua mandando novos contingentes dos valorosos soldados negros. Assim embarcaram ontem para a Frente Sul uma companhia de Guerra, a 1ª do 3º Batalhão “Conselheiro Rebouças” e a 2ª Bateria de Morteiros do grupo “Victorino Carmillo”.
|
Soldados e Oficiais da Legião Negra.
|
|
Maria Soldado. |
As mulheres negras.
“As mulheres negras dão um belo exemplo de civismo e patriotismo. Lá estão elas formando os batalhões de enfermeiras. Seguem para a frente e animam, com seu exemplo os valentes homens de sua raça. Sem vaidades, naturalmente, com dedicação, cumprem, heroínas devotadas à grande causa, o sagrado dever que é defender São Paulo e o Brasil das garras da ditadura nefasta, que o aniquilava”.
Assim foi descrita a mulher negra no Jornal A Gazeta de São Paulo em 23 de julho de 1932. Ainda neste mesmo Jornal foi publicada uma reportagem sobre Maria Soldado:
“Uma mulher de cor, alistada na Legião Negra, vencendo toda a sorte de obstáculos e as durezas de uma viagem acidentada, uniu-se aos seus irmãos negros em pleno entrincheiramento na Frente Sul, descrevendo a página mais profundamente comovedora, mais profundamente cheia de civismo, mais profundamente brasileira da campanha constitucionalista, ao desafiar a morte nos combates encarniçados e mortíferos para o inimigo.
Maria da “Legião Negra”!
Mulher abnegada e nobre da sua raça!
Ferida no campo da luta a 17 do mês passado, na frente de São José do Guapiara, tornou a cruenta missão em 28 do mesmo mês.
Maria da “Legião Negra”!
Heroína de uma raça forte, boa e consciente!
Maria da “Legião Negra”!
Vendo-vos, sob o trovejar da artilharia, por entre chuvas das balas inimigas, de rastro, coleante pelos abrigos do campo de batalha, prover de alimentos os guerreiros da vossa raça, sinto palpitar no vosso peito amigo o mesmo coração repleto de carinho da Mãe Preta que nos embalou quando criancinhas, cantando as cantigas de amor cívico e de brasilidade.
Maria da “Legião Negra”!
Defendeis São Paulo, defendeis o Brasil com esse devotamento de quem tem consciência da grandeza de sua terra, do valor dos seus homens, da virtude das suas leis.
Se José do Patrocínio vos visse nessa jornada patriótica, seguramente vos diria: Maria da “Legião Negra”: “Se Deus vos deu a cor de Othelo, foi para terdes ciúmes do vosso país”.
Maria da “Legião Negra”!
Que a vossa alma frágil de mulher ilumine a covardia dos que sonham com um Brasil escravizado pela ditadura prestes a sucumbir!”
|
Legião Negra e Índios |
Fonte.
In. Revista Afro- Asia, 29/30,2003.
DOMINGUES, Petrônio José; OS “PÉROLAS NEGRAS”: A PARTICIPAÇÃO DO NEGRO NA REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DE 1932.
ecoexperienciacomunitaria.blogspot.com
Publicação - CONSTITUCIONALISTA – 80 ANOS DA REVOLUÇÃO – Projeto Museu da Câmara dos Deputados – Brasilia/DF
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.