sábado, 10 de maio de 2025

HOMENAGEM ÀS MÃES!!!

 

Já é sabido da coragem e a importante participação da mulheres na Revolução Constitucionalista de 1932. Esse Anjo, essa companheira, essa maravilha que na sua simplicidade e beleza, se transforma de um momento para o outro, em altiva e heróica, em sublime e quase divina, fazendo-se toda para todos, é a Mulher Paulista!

É a Mãe abnegada que leva seu filho para proteger sua terra, seu País!



Em cachoeira Paulista a Mãe se despede de seu filho e amigo em 1932.


Um engenheiro narrou um episódio que põe em relevo a alma da mulher mãe sempre voltada para tudo que é lindo e nobre:

Cumprindo ordens, alcançávamos, certa manhã, uma fazenda que necessário se tornava ocupar.

Uma senhora, acompanhada de seus dois filhos já moços, recebeu-nos à porta, com aquela amabilidade inata nos sertanejos, e imediatamente pôs a sua propriedade à nossa disposição, ao saber o objetivo que nos levava à sua fazenda. E como externássemos a nossa opinião sobre o perigo que corria, permanecendo com os seus filhos na fazenda, que poderia ser atacada, de um momento para o outro, atalhou-nos decididamente:

- Sou uma paulista, e permanecerei ao vosso lado. Tudo o que possuo está a vosso dispor. Reservarei um pequeno quarto para mim. Podereis ocupar o resto.

E surda a todos os rogos e conselhos, sorridente, põe-se a preparar um café para os rapazes.

Dispusemos tudo para resistir eficazmente a um possível ataque, pois desde a manhã notáramos, nas matas que circundavam a fazenda, movimentos suspeitos de patrulhas adversárias. De fato, cerca de uma hora da tarde, fomos surpreendidos por intenso tiroteio, partido de uma floresta próxima.

Corremos todos, empunhando armas, a guarnecer as seteiras que abríramos nas paredes da residência, na previsão de um ataque ao nosso reduto. Embora aturdidos, nos primeiros momentos, pelo inopinado ataque, depressa cobramos calma e correspondemos à altura de nossas forças, à fuzilaria inimiga.

Relanceando os olhos ao redor, avistei um quadro sensibilizante. A nossa hospedeira correra para o seu quarto, e regressava agora, trazendo o avental repleto de cartuchos de caça. Dirigiu-se novamente ao quarto e, instantes após, regressou trazendo três carabinas. E, entregando duas a seus filhos, indicou-lhes duas seteiras desocupadas, abertas juntas à janela principal, e por sua vez, empunhando a outra, com decisão e energia, ocupou outra seteira devoluta, atirando após cuidadosamente visar o inimigo.

Precipitei-me:

- Minha senhora! Por favor! Não se arrisque. Nós seremos suficientes para repeli-los.

Ela, com fulgor de indignação nos olhos negros, encarando-me, friamente respondeu:

- Senhor! Esta propriedade é minha. Defendo-a como é meu dever. A terra que os paulistas lavraram e regaram com o seu suor, não será maculada pelos pés do inimigo, enquanto existirem homens e mulheres de brio e coragem.

Um hurra cobriu as últimas palavras da corajosa senhora. Partira de todas as bocas e de todos os peitos, lavrando neste instante heroico o seu protesto. Um frêmito de entusiasmo indescritível ganhara as nossas almas. Mudos, dentes cerrados, gestos precisos, atirámo-nos de corpo e alma à resistência. No canto mais afastado os dois jovens sertanejos, olhos afeitos a todos os meandros da floresta, levavam, com seus tiros certeiros e preciso, a devastação e a morte às fileiras inimigas.

E cercados pelo fogo adversário, lutamos com todas as energias, sem desanimo, até ao anoitecer. A nossa munição esgotava-se a olhos vistos. Sentíamos chegar, impreciso ainda, o momento da rendição. Mas não calculáramos o desânimo reinante nas fileiras ditatoriais à nossa resistência.

Lutando expostas ao nosso fogo cerrado, as suas perdas eram sensíveis e o seu desânimo latente, ante a impossibilidade de se avizinharem do nosso reduto.

E ao anoitecer, cessando lentamente o fogo, retiraram-se, levando os seus mortos e feridos.

Em todos os setores da campanha constitucionalista, muitos episódios registrei em meu caderno de notas. Uns pelos seus lances de bravura, outros pela tragédia que encerravam, e alguns pelo seu lado cômico. Porém, nenhum teve o dom de comover-me tanto, como o dessa humilde fazenda, perdida nos rincões verdes da nossa terra.

Muitas e muitas narrativas li, sobre o heroísmo da mulher brasileira, mas nunca o testemunhara. A figura varonil daquela senhora paulista, votada ao labor heroico de lavrar a fecunda terra bandeirante, ficará para sempre em minha memória, como o mais alto padrão de valor da mulher paulista.

Ainda conversando com o corresponde do jornal, junto as trincheiras por ali preparadas, quando apareceu uma mulher do povo, autêntica paulista, carregando uma criança de tenra idade, e trazendo, segura pelas mãos uma linda e robusta menina de três anos, de olhos azuis e cabelos pretos.

- Senhores! O meu marido também é soldado paulista! Ao partir, deixou-me, amarrado na ponta de um lenço a quantia de vinte e cinco mil réis para as nossas despesas, e eu desgraçadamente, há pouco, quando por aqui passava, perdi o lenço e o dinheiro. Fiquei completamente desprovida de recursos!

- Mas como? aventurou um soldado.

- Não sei! ... Perdi-o e não sei como me arranjar para comprar o pão para os meus filhos. Estou aflita! ... Algum dos senhores não o achou?

Um caridoso soldado saindo sorrateiramente do nosso grupo, com os olhos rasos de lagrimas, falou reservadamente com diversos camaradas, e daí a instantes, voltou com um lenço, tendo um nó numa das suas extremidades.

- Senhora! Eis aqui o seu lenço e o dinheiro! Um nosso companheiro de lutas encontrou-o na estrada, junto aquela pedra...

A pobre mulher pegou no lenço com mãos tremulas, olhou-o fixamente, revirou-o, desatou o nó, onde se achava o dinheiro, e com lagrimas na voz disse:

- Senhor! ... Este lenço não é o meu! – Prefiro que os meus pobres filhos passem fome a receber aquilo que não me pertence. Muito obrigada! ...

Debalde insistimos para que essa nobre mulher do povo levasse o lenço. Não o quis, dizendo, mais uma vez:

- Oh, não! Não é o meu! ...e assim partiu, com os entes queridos, essa heróica Mãe paulista.

 

O amor de uma mãe é a bússola que guia o caminho e a força que impulsiona a seguir, mesmo quando o mar está em tempestade.

 

 

O PORTAL TRINCHEIRAS DE JAGUARIÚNA DESEJA UM FELIZ DIA DAS MÃES!!!

 

Fonte.

Rodrigues, J., A Mulher Paulista no Movimento Pró Constituinte. Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1933, 192p.

 

Imagem - https://oslorenas.blogspot.com/2009/09/cachoeira-paulista-minha-terra.html

 

 

Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo


BANDA FRENTE ÚNICA, 1932.

  A Banda Frente Única foi fundada em 6 de junho de 1932, no contexto da Revolução Constitucionalista, com o nome de Banda Frente Única. Apó...