A Águia no Campo de
Marte tombou invicta!
José Ângelo Gomes
Ribeiro não foi abatido!
Sábado. 10 horas. Campo
de Marte. A esquadrilha está sendo aprestada para decolar.
O “az” Gomes Ribeiro,
num canto do hangar “Capitão Chantre”, sentado no chão, sem dizer palavra, ouve
as pilherias de um grupo de pilotos, mecânicos e rapazes da imprensa.
Noutra roda, e Negrão
falavam sobre as pistas do Campo de Marte, estavam Lysias, Ivo e Ismael
palestrando com o General Klinger. Adiante, os Capitães Adherbal opinando cada
qual sobre a melhor para decolar com aviões pesados. Assim, escovavam-se as
horas, enquanto os aparelhos estavam sob os cuidados dos mecânicos. Machado
Bittencourt, de pé, ouvia as anedotas...
Meio dia.
O Major Ivo, nervoso,
esperava a palavra de mecânicos de que tudo estava pronto.
Doze horas e quinze
minutos. Tudo em ordem.
O Major ordena a
partida da esquadrilha. Gomes Ribeiro, calmo e taciturno, enrola no pescoço o seu
vistoso lenço de seda, com grandes bolas pretas e vermelhas. Assume o comando
do possante avião que lhe deu glória sobre Mogi Mirim. Aciona a metálica hélice.
Acelera, mais e mais. Diminui o regimen. Acelera, de novo. Tudo perfeito.
Lysias faz o mesmo no seu pássaro cor de alumínio.
Motta Lima, serenamente
movimenta sua máquina.
Tudo em ordem.
Recebem as últimas
ordens do Major Ivo e decolam, um a um, com técnica de mestres. E vão. A
esquadrilha de alumínio corta a cidade em diagonal. Toda a cidade a observa. É
que a cidade sabe que vão cumprir missão. E serenos desaparecem pelos lados do
lendário Ipiranga...
Motta Lima vai na
retaguarda e cumpre a missão e regressa.
Na altura de Cubatão, o
Major Lysias observa que do avião de Gomes Ribeiro sai fumaça. Isto preocupa-o
seriamente e passa a observar o voo da Águia invicta.
A fumaça se avoluma.
Lysias perde a calma. É
que mediu a extensão do perigo que sitiava o pulso de ferro de Gomes Ribeiro.
Já não pensava mais na missão a cumprir.
A Águia liberta-se das granadas,
fazendo-as cair nas matas do Cubatão.
Lysias sossega. Nessa resolução
de Gomes Ribeiro viu que a Águia tomara conhecimento do incêndio do seu avião e
se liberta das granadas para tentar uma salvação qualquer.
O avião avança para o
mar. Aparecem, agora labaredas. Tudo fica em fogo.
A Águia ainda tenta uma
descida rápida sobre o mar e abisma-se no piqué da sua eleição. Desaparece como
um raio, dentro do oceano e não volta mais!
Lysias volta com a
tragédia da Águia nos olhos e no coração.
Os motivos do incêndio?
Mistério.
São os imprevistos da
aviação.
E foi assim que morreu
a Águia do Campo de Marte.
Não foi abatida.
Não o seria, também,
tão facilmente.
Devoraram-na fogo e
mar.
Fogo e água foram
necessários para abate-la!
Gloriosa Águia invicta.
Adeus!
MONTE.
(A Gazeta, 26 de
setembro de 1932).
O
texto acima é a transcrição da matéria publicada no Jornal A Gazeta, em Edição
comemorativa da Epopéia de 32 em 1957.
Gomes Ribeiro e Mario Bittencourt
Honras
aos Gaviões
de Penacho, as Águias destemidas que cruzaram os céus de São Paulo em
1932, combatendo os aviões “vermelhinhos” e apoiando a artilharia paulista que
combatia nas trincheiras, nos campos e nas cidades.
Fonte – A Gazeta – 9 de julho de 1957 – Edição
Comemorativa Retrospectiva da Epopéia de 32, pag. 69. Edição impressa da minha
coleção.
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo