domingo, 1 de setembro de 2024

A ÁGUIA DO CAMPO DE MARTE NÃO FOI ABATIDA!

 

A Águia no Campo de Marte tombou invicta!

José Ângelo Gomes Ribeiro não foi abatido!

Sábado. 10 horas. Campo de Marte. A esquadrilha está sendo aprestada para decolar.

O “az” Gomes Ribeiro, num canto do hangar “Capitão Chantre”, sentado no chão, sem dizer palavra, ouve as pilherias de um grupo de pilotos, mecânicos e rapazes da imprensa.

Noutra roda, e Negrão falavam sobre as pistas do Campo de Marte, estavam Lysias, Ivo e Ismael palestrando com o General Klinger. Adiante, os Capitães Adherbal opinando cada qual sobre a melhor para decolar com aviões pesados. Assim, escovavam-se as horas, enquanto os aparelhos estavam sob os cuidados dos mecânicos. Machado Bittencourt, de pé, ouvia as anedotas...

Meio dia.

O Major Ivo, nervoso, esperava a palavra de mecânicos de que tudo estava pronto.

Doze horas e quinze minutos. Tudo em ordem.

O Major ordena a partida da esquadrilha. Gomes Ribeiro, calmo e taciturno, enrola no pescoço o seu vistoso lenço de seda, com grandes bolas pretas e vermelhas. Assume o comando do possante avião que lhe deu glória sobre Mogi Mirim. Aciona a metálica hélice. Acelera, mais e mais. Diminui o regimen. Acelera, de novo. Tudo perfeito. Lysias faz o mesmo no seu pássaro cor de alumínio.

Motta Lima, serenamente movimenta sua máquina.

Tudo em ordem.

Recebem as últimas ordens do Major Ivo e decolam, um a um, com técnica de mestres. E vão. A esquadrilha de alumínio corta a cidade em diagonal. Toda a cidade a observa. É que a cidade sabe que vão cumprir missão. E serenos desaparecem pelos lados do lendário Ipiranga...

Motta Lima vai na retaguarda e cumpre a missão e regressa.

Na altura de Cubatão, o Major Lysias observa que do avião de Gomes Ribeiro sai fumaça. Isto preocupa-o seriamente e passa a observar o voo da Águia invicta.

A fumaça se avoluma.

Lysias perde a calma. É que mediu a extensão do perigo que sitiava o pulso de ferro de Gomes Ribeiro. Já não pensava mais na missão a cumprir.

A Águia liberta-se das granadas, fazendo-as cair nas matas do Cubatão.

Lysias sossega. Nessa resolução de Gomes Ribeiro viu que a Águia tomara conhecimento do incêndio do seu avião e se liberta das granadas para tentar uma salvação qualquer.

O avião avança para o mar. Aparecem, agora labaredas. Tudo fica em fogo.

A Águia ainda tenta uma descida rápida sobre o mar e abisma-se no piqué da sua eleição. Desaparece como um raio, dentro do oceano e não volta mais!

Lysias volta com a tragédia da Águia nos olhos e no coração.

Os motivos do incêndio?

Mistério.

São os imprevistos da aviação.

E foi assim que morreu a Águia do Campo de Marte.

Não foi abatida.

Não o seria, também, tão facilmente.

Devoraram-na fogo e mar.

Fogo e água foram necessários para abate-la!

Gloriosa Águia invicta. Adeus!

 

                                                     MONTE.

(A Gazeta, 26 de setembro de 1932).



O texto acima é a transcrição da matéria publicada no Jornal A Gazeta, em Edição comemorativa da Epopéia de 32 em 1957.

 

Gomes Ribeiro e Mario Bittencourt

Honras aos Gaviões de Penacho, as Águias destemidas que cruzaram os céus de São Paulo em 1932, combatendo os aviões “vermelhinhos” e apoiando a artilharia paulista que combatia nas trincheiras, nos campos e nas cidades.

 

  

 

Fonte – A Gazeta – 9 de julho de 1957 – Edição Comemorativa Retrospectiva da Epopéia de 32, pag. 69. Edição impressa da minha coleção.

 

 

Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo

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