7 de Setembro de 1932, no Setor Norte, especificamente no Túnel da Mantiqueira, na Garganta do Embaú, que fica localizado logo acima do Túnel, era o capitão Saldanha da Gama o comandante do Batalhão Auxiliar da Força Pública, composto de voluntários, conhecido por Batalhão Saldanha, em sua homenagem. Na Serra, dominada pelos constitucionalistas, destacava-se o local denominado Morro do Canhão (assim chamado, pois ali fora postado um canhão constitucionalista, de 105 mm). Na região, fronteiriça e estratégica entre os Estados de São Paulo (cidade de Cruzeiro) e Minas Gerais (cidade de Passa Quatro), e foi ali que a Bandeira do Brasil foi desfraldada. Antes, porém, calou-se a artilharia constitucionalista, silenciou-se as metralhadoras e os fuzis.
Os Soldados Constitucionalistas, no “celeiro de heróis da Revolução”, o Capitão Reynaldo Saldanha da Gama, nas trincheiras pelo lado Paulista, deslocou-se para o ponto mais elevado do morro.
Acompanhavam-no 4 soldados, com clarins, todos do 2º GAP - Grupo de Artilharia Pesado, do Exército Brasileiro, sediado em Quitaúna, uma guarda à Bandeira e demais Oficiais do QG - Quartel General. Finalizava a composição da comitiva um mastro improvisado, longo e tosco bambu verde e amarelo, que carregava a Bandeira Brasileira.
O próprio mandante da façanha (que não se esqueceu do memorável dia, apesar das agruras da guerra), Tenente - Coronel Theófilo Ramos, da Força Pública Paulista, estava presente. Era comandante do 2º BCP (atual 2º BPM/M, que realiza o policiamento, na Capital). Alcançando o cimo da elevação, por volta das 07:00 h, balas adversárias assobiavam sobre eles.
Perfilada a tropa, o Capitão Saldanha da Gama comandou:
- “Sentido!”
Pouquíssimos segundos após, ordenou:
- “Em Continência à Bandeira, Apresentar, Armas!”
Os clarins, com o fôlego máximo dos 4 combatentes, cantaram o famoso toque, a “MARCHA BATIDA” (composta em 1894, lavra do Major Joaquim Antão Fernandes, da Força Pública Paulista, o mesmo ritmo que ainda é executada nos quartéis de norte a sul do país).
Talvez envergonhados, os disparos “do lado de lá”, do outro lado da montanha, cessaram...
Concomitantemente, o improvisado bambu elevou nosso Pavilhão naquela congelante colina. O desfraldar da Bandeira Nacional estava em curso. O eco dos clarins, transitoriamente, substituíram o soar das metralhadoras e o uivo das granadas...
Durante a execução do toque, o Exército Constitucionalista, formado por membros da Força Pública, do Exército Nacional bem como por Voluntários (veja em: encurtador.com.br/dmyB5), em reverência ao nosso Símbolo Maior, perfilou-se, em pé, no parapeito de suas trincheiras. Total era o desprezo ao inimigo, que ficara tímido com a ação inesperada, corajosa e patriótica.
No decorrer do ataque dos clarins cívicos, naqueles segundos preciosos, de trincheira em trincheira o brado era repetido: “Viva o Brasil! Viva São Paulo! Viva a Constituição!”
Entretanto, o inesperado aconteceu, fato raro que só se sucede com os nobres de consciência.
Do outro lado daquelas formações montanhosas, visíveis a poucas centenas de metros do Exército Constitucionalista, rente aos canhões e metralhadoras estava o adversário, o inimigo da ocasião, as tropas Ditatoriais.
Sem nenhuma ordem formal, de mesmo modo, com marcialidade, igualmente expondo suas silhuetas ao morticínio, prestaram continência à Bandeira verde-amarela. Repetiram a mesma frase constitucionalista: “Viva o Brasil! Viva São Paulo! Viva a Constituição!”, segundo testemunho do próprio capitão Saldanha da Gama, em entrevista concedida no ano de 1970.
Todas as Trincheiras ficaram em pé! Por um breve momento, pelo toque do clarim, com duração média de um minuto, a Guerra foi calada.
Com a última partitura executada, com a Bandeira já no alto do mastro, tremulante, em destaque no horizonte, outro comando do Oficial:
- “Descansar, Armas!”
Obedecida por nossa tropa. Automaticamente, balas, “vindas de lá”, com o zunir dos fuzis, felizmente, sem atingir ninguém, anunciava o término da breve trégua. Era o recomeço da barbárie, que alimentou o anjo da morte e ceifou a vida de inúmeros outros brasileiros, sob o olhar atônico, estático e estarrecido da “Mãe- Bandeira”.
No final do dia, quando o Sol se despedia da Mantiqueira, o capitão Arcy da Rocha Nóbrega, artilheiro do Exército Brasileiro, convocou a Oficialidade para assistir ao arriamento do Pavilhão Nacional. Similar ao ocorrido pela manhã, os clarins do 2º GAP tocaram, enquanto, suavemente, a Bandeira descia do mastro. Os Ditatoriais, em respeito, cessaram a fuzilaria, enquanto seus soldados mais uma vez ficaram de pé na Serra, magnetizados pelo momento solene.
Por tradição militar, fechando o evento, haveria o disparo de uma salva de 21 tiros de canhão. Entretanto, faltavam granadas constitucionalistas... Por improvisação, 21 foguetes foram lançados. Com a explosão do 1º, os Ditatoriais se esconderam, imaginando um ataque, mas, verificando a situação, voltaram a contemplar o acontecimento.
Quando o 21º foguete enviado explodiu no céu, o fusco lusco já dominava aquelas bandas. Os “Soldados de lá” ainda admiravam aquele mastro de bambu, à distância, nua, sem a “Manta Sagrada”. O silêncio, ensurdecedor e mortífero, imperou por algum tempo naquela rápida trégua...
Já noite, a primeira rajada era dirigida contra as trincheiras constitucionalistas, com a devida resposta, em forma de aço e chumbo. A proximidade dos oponentes, mediada pela “terra-de-ninguém”, ouviam-se os insultos recíprocos entre os combatentes. Tudo voltava à diabólica normalidade na Mantiqueira, local onde imperou, naqueles dias, o “deus da guerra”.
E foi neste dia, 7 de setembro de 1932, no intervalo entre o hasteamento e o arriamento do Pavilhão Nacional, que o Cabo Plácido Barbosa, integrante do Corpo de Bombeiros da Força Pública, que trocara o assovio das sirenes pelo o silvo das granadas, recebera gravíssimos ferimentos em combate, levado ao Hospital de Sangue de Cruzeiro- SP, cidade ao lado do Túnel da Mantiqueira falecendo naquele mesmo dia. Pela manhã tivera tempo de prestar continências à Bandeira Nacional e participar de sua última comemoração cívica.
A demonstração de patriotismo daqueles soldados brasileiros não pode ficar esquecida, fizeram uma trégua naquele 7 de setembro de 1932, por alguns instantes, por respeito e amor à Pátria assim como D. Pedro I, por amor ao Brasil, aceitou para si e seus descendentes o título de Defensor Perpétuo do Brasil e assim também, pelos mesmos ideais, no dia 7 de Setembro de 1822, cercado de patrióticos paulistas e de sua comitiva, às margens do riacho do Ipiranga, na cidade de São Paulo, declara a Independência do Brasil.
Fonte.
https://ultimosegundo.ig.com.br/policia/2018-09-07/7-de-setembro-guerra-civica.html(Texto de Sérgio Marques)
PLÁCIDO BARBOSA
Integrante de Unidade do Corpo de Bombeiros
Exército Constitucionalista do Setor Norte
Foi no dia 28 de Julho que o cabo Plácido Barbosa, do Corpo de
Bombeiros, embarcou para o Setor Norte, com o ânimo alevantado para combater, nas fronteiras de São Paulo, um fogo diferente, daquele contra o qual ele lutava, quase todo o dia, na Capital. Lá não havia o assovio das sirenes. Substituía-o o silvo das granadas.
Combatendo com primor, Plácido provou ser um valente. No dia7 de Setembro no Hospital de Sangue de Cruzeiro, pagou ele o seu tributo de amor à causa pela qual se batera. Morreu nesse dia, em consequência de graves ferimentos recebidos em combate. Foi sepultado no Cemitério local.
Nascido em Bragança, no ano de 1914, era filho do Sr. Cesar Barbosa e da Sra. Julia Maria da Conceição.
Solteiro, deixou na corporação a que pertencia muitas amizades.
Em sua homenagem, uma Rua, na Vila Carrão, zona leste de São Paulo recebeu seu nome.
Fonte.
MONTENEGRO, B; WEISSHON, A. A. (org.) CRUZES PAULISTAS: os que tombaram em 1932 pela gloria de servir São Paulo: Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais, 1936.516p.
D. PEDRO I
12 de Outubro de 1798, nasceu em Lisboa, no Real Paço de Queluz, o Príncipe D. Pedro de Alcântara Bragança e Bourbon, segundo filho varão do Príncipe D. João de Portugal e da Infanta espanhola D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha do Rei Carlos IV. D. Pedro casou-se em 1818 com a Arquiduquesa da Áustria D. Maria Leopoldina, filha do Imperador e Rei Francisco I.
A 13 de maio de 1822 aceitou o título e encargo, oferecido pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, de Defensor Perpétuo do Brasil.
No dia 7 de setembro de 1822, as margens do riacho Ipiranga, após a leitura de uma carta da Princesa e um oficio de José Bonifácio. A carta e o ofício contém um aviso dos Decretos tirânicos das Côrtes Portuguesas, chamando o Príncipe a Portugal para viajar incógnito e declarando nulas as medidas por ele tomadas no Governo do Brasil. Compreendeu o Príncipe o alcance destes decretos e exclamou: “Não cessam de cavar a nossa ruína!” Então desembainha a espada e segue a todo galope em direção à sua Guarda de Honra e mais pessoas de sua comitiva, que adiante o esperavam, proclamando resolutamente – Independência ou morte!
Em breve ao sentinela o avista e brada: às armas! Enquanto apressados correm os Guardas a seus postos, suspende o corcel e assim lhes fala: “Camaradas! As Côrtes de Portugal querem mesmo escravizar o Brasil; cumpre declarar já a sua Independência... Laços fora!” Todos arrancam o laço português que trazem no braço esquerdo, e muitos Guardas os dilaceram a fio da espada. Continuou D. Pedro: “Doravante teremos todos outro laço de fitas verdes e amarelas; e estas serão as cores brasileiras”. A Guarda de Honra se põe ao largo, debaixo de forma, e o Príncipe, elevando a espada, proclamou solenemente: Independência ou morte! A Guarda toda repete entusiasticamente por longo tempo as palavras do Príncipe: palavras sublimes que elevaram o Brasil à categoria de Nação livre e independente, e o Príncipe à glória de ser o fundador de um vasto império e de uma nova Dinastia.
A 12 de outubro, D. Pedro foi solenemente, no Rio de Janeiro, proclamado Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. No dia 1º de dezembro, houve a cerimônia de Coroação, e desde esse momento legitimou-se a Dinastia de Bragança no sólio do Brasil; a independência foi irrevogável.
Fonte.
Álbum Imperial, anno I, nº2, 20 de jan. de 1906 (Arquivo pessoal).
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo
07/09/2020 .