Uma Heroína de 1932 da cidade de Itu, SP.
Nhá Chica Messias com seu uniforme de soldado. |
Pouco conhecida a história desta senhora, que teve uma participação muito importante e com grande destaque na Revolução Constitucionalista de 1932, Francisca das Chagas Oliveira, conhecida como Nhá Chica Messias, foi a primeira a se alistar aos 56 anos de idade, trocou o vestido pela farda para ser responsável por comandar o treinamento de vários soldados. Apesar da avançada idade para a época, lutou no front sob o frio intenso daquele julho de 1932, integrada ao 3º BCV, 3º Batalhão de Caçadores Voluntários da Brigada Sul, sob o comando do ituano Tenente Coronel Sylvio de Almeida Sampaio.
Contam que quando foi se alistar perguntaram-lhe por que o fazia, surpresos com a disposição que mostrava para a luta. Disse-lhes, então: - Para defender meu Estado e meus meninos.Foi descrita por um voluntário como “uma mulher de idade que, fardada e armada de revólver, acompanhava seus meninos”. “Mulher valente, foi até o fim da campanha”.
Nhá Chica Messias treinou os soldados do 3º BCV.
- Pelotão, sentido! Aos brados fortes movimentavam-se os rapazes do 3º Batalhão de Caçadores Voluntários de Itu, dias antes de partirem para a guerra. A voz que comandava os soldados no terreno em frente ao Asilo Nossa Senhora e os ensinava a manejar os fuzis não era de um experiente oficial do exército, mas de uma dona de casa de 56 anos.
Expedita de Moraes, 86 anos, era jovem em 32, mas recorda-se de quando Chica ingressou no 3º BCV. Ela era elegante e ficou muito bem de farda, lembra. Numa época em que não havia Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e os policiais eram poucos, Nhá Chica assumiu gratuitamente o papel de agente sanitária, assistente social e justiceira para todos os fins. Os problemas eram resolvidos à sua maneira despachada.
A História de Chica Messias em Itu.
Nhá Chica Messias, figura muito popular na Itu das primeiras décadas do século 20. Alta, forte, de voz grossa e pele queimada pelo sol, Chica foi uma mulher completamente incomum.
São muitos seus feitos, mas entre eles há que se destacar seu amor e respeito à justiça e principalmente ao seu semelhante, a quem não media esforços em prestar assistência e apoio, conforme lembram os mais velhos. Inúmeros predicados garantem à cidadã sorocabana que adotou Itu como sua cidade natal a admiração dos ituanos até hoje.
Chica Messias era corajosa, contou Margarida em seu depoimento sobre a heroína, Olívio de Oliveira, neto de Chica, também herdou o apelido Messias Justiceira. Era hábito da heroína dos menos favorecidos, fazer o café de manhã e, logo em seguida, sair pela cidade à procura de quem precisasse de sua ajuda. Andava a cavalo e usava chicote. Tinha grande força física e desafiava qualquer homem no trabalho. Aliás não só no trabalho. Ficaram famosas as surras que aplicou em homens na defesa do que considerava justo. Certa vez, por causa de uma cachorrinha, bateu num capoeirista desde a Igreja do Bom Jesus até a Rua Santana, chegando a quebrar-lhe algumas costelas, conforme relatou José P. Vaz Guimarães numa crônica publicada no jornal A Federação. Ela morou na Rua Santa Cruz, perto da zona do meretrício, onde, por causa de sua valentia, era chamada para interferir nas brigas que ali ocorriam, provocadas por desordeiros e cafetões. Na ausência da polícia, era nhá Chica quem levava os maus elementos para a cadeia. Mesmo com seu caráter intempestivo, a sociedade ituana tinha um grande respeito por ela. Falta de recursos também não era problema. Chica era descendente de índios, conhecia ervas e tratava todo mundo com seus chás, além de ter a fama de ser muito econômica. Minha sogra dizia que com qualquer pé de frango, Nhá Chica fazia sopa para um quartel inteiro.
Informações do Arquivo Histórico Municipal de Itu revelam que em 1914, ao 36 anos, Chica Messias chefiou um movimento de ituanos contra o desleixo da Estrada de Ferro Sorocabana. O protesto era contra à substituição de vagões por modelos inferiores e alteração nos horários de passageiros. Em 1918, quando a gripe espanhola devastava a cidade, também foi ela a arrombar portas de casas para prestar assistência aos doentes e recolher cadáveres dos que já haviam sido mortos pela moléstia. Sem medo, ela carregava os doentes na costas para levar ao hospital, conta Margarida Ribeiro de Oliveira. Antes da tarefa, entrava num bar e tomava uma cachaça para matar os micróbios.
Francisca das Chagas Oliveira era natural de Sorocaba, filha de Joaquim Soares e Benedicta Soares. Nhá Chica Messias casou-se duas vezes, a primeira foi com o negociante português Domiciano Antônio de Oliveira, bem mais velho que ela. Não se sabe a data do casamento, mas só para se ter uma idéia, quando Francisca nasceu Domiciano já tinha 43 anos. A união deu-lhe dois filhos, Isaura e Benedito José e o apelido Messias, extensivo a toda a família até hoje. Na verdade, o nome do marido Domiciano, de difícil pronúncia, foi transformado no codinome Micia e, com o passar dos anos, Messias. Teve quatro netos Benedito Antonio, Gentil, Nelson e Elvira, foi casada, em segunda núpcias, com Cândido Fernandes. Não há filhos do segundo casamento que, segundo o neto Olívio, teria ocorrido em seus últimos anos de vida.
Não foram encontrados documentos que comprovem a data de nascimento de Nhá Chica Messias. No Atestado de Óbito, datado de 28 de outubro de 1937, constam as informações de que morreu aos 61 anos devido a uma broncopneumonia.
Os restos mortais de Francisca das Chagas Fernandes, nome originário da união com Cândido, encontram-se sepultados no Ce- u 27 u.
Fonte.
Editado e publicado por Maria Helena de Toledo Silveira Melo.
13/03/2020